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Reis ou magos?

Redação (Sexta-feira, 04-01-2019, Gaudium Press) A Epifania, mais conhecida como Festa dos Reis Magos, foi objeto de grandes comemorações, desde os primórdios da Igreja. O nosso Bolo de Reis é uma reminiscência dessa solenidade, a qual não ficava limitada ao âmbito litúrgico. Mas, como surgiu ela? É o que nos relata a revista francesa “L’Ami du Clergé”, num de seus primeiros números, atualmente já histórico.

Gaspar, Baltasar e Melchior: reis ou magos?

Como os pastores dóceis à voz do anjo, apressamo-nos a ir à gruta de Belém, onde adoramos o Deus que promete o Reino dos Céus a quem imitar sua infância.

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Mas eis que outra festa, toda feita de alegria e esperança, nos reconduz ao abrigo do Salvador para celebrar sua Epifania, sua manifestação, aos homens, de que Ele é amor e caridade. Imaginemos estar na véspera dessa antiga solenidade. Os sinos tocam seus acordes mais argênteos, as crianças e os anciãos pobres, com um inocente cântico, vão pedir, em nome da Virgem Maria, uma parte do bolo servido na festa dos Reis: a “parte de Deus”.

O jejum, nos primeiros tempos do Cristianismo

Na vigília dessa festa, os primeiros cristãos costumavam jejuar. Somente os orientais, porém, conservaram esse costume, por causa do Batismo solene que nos seus ritos é conferido nessa noite por eles denominada de “o dia das santas luzes”.

Por volta do século XI, julgou-se no Ocidente que um austero jejum não era compatível com as alegrias da Natividade do Senhor, cuja comemoração se prolongava até a festa da Epifania. E assim, o jejum foi abrandado. O júbilo não se limitou à supressão do jejum, pois, segundo escreveu Guilherme, Bispo de Paris, no século XIII acendiam-se fogueiras nas praças públicas, como na vigília da festa de São João Batista.

Já no século IV, a festa da Epifania era tão importante que – de acordo com o relato de Amien-Marcellin, autor pagão – o imperador Juliano, vindo de Paris e passando pelo Delfinado, não ousou faltar ao Ofício divino nesse dia, por medo de tornar-se suspeito de apostasia. Alguns anos mais tarde, o imperador Flávio Valente, infectado de arianismo, teve receio de não ser mais considerado príncipe cristão se não fosse visto pessoalmente no Santo Sacrifício celebrado nesse dia. No seu elogio a São Basílio, São Gregório Nazianzeno descreve a impressão causada ao César romano pela munificência das cerimônias litúrgicas, bem como a majestade de São Basílio no altar e o pavor que ele, imperador, sentiu, pelo menosprezo de suas ricas oferendas.

Quem eram os Reis Magos

Os Magos – qualificativo que designa homens sábios e conhecedores de astronomia – eram ricos e poderosos. Grande número de autores lhes atribui o título de reis, e a Igreja justifica essa opinião, apresentando a adoração dos Magos como o cumprimento desta profecia de Davi: “Os reis de Társis e das ilhas Lhe trarão presentes, os reis da Arábia e de Sabá oferecer-Lhe-ão seus dons” (Sl 71,10).

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O autor Sandini observa acertadamente que, com seus camelos, os Magos puderam viajar da Arábia a Jerusalém num prazo de oito dias; os cinco dias que faltam para chegar à data da adoração – a qual, segundo Santo Agostinho e São Tomás, ocorreu no 13º dia após o nascimento do Menino-Deus – são mais que suficientes para os preparativos da viagem e o encontro com o rei Herodes. Fixando a festa da Epifania em 6 de janeiro, a Igreja parece confirmar essa opinião já tão antiga.

Iluminados pela graça e deixando-se guiar pelo misterioso meteoro, assim como outrora o povo de Deus no deserto, os Magos puseram-se a caminho para conhecer o rei dos Judeus cuja estrela acabava de lhes aparecer.

A notícia de um rei recém-nascido pôs Jerusalém em polvorosa. Reuniram-se sacerdotes e doutores, consultaram-se as profecias e logo Belém foi designada como sendo a cidade natal do Desejado das Nações.

Felizes por essa informação, os Magos sentiram redobrar sua fé. Mal ultrapassaram as muralhas da Cidade Santa, a estrela novamente os precedeu em seu caminho para finalmente deter-se em cima do lugar onde estava o adorável Menino.

Segundo a opinião mais comum, foi no próprio estábulo onde Jesus nasceu que eles se prosternaram ante Aquele que, do fundo de seu presépio, os tinha atraído do Oriente, chamando a Si, nas pessoas deles, todos os povos da gentilidade.

A Tradição conservou-nos os nomes venerados dos três Reis Magos, dos quais a Catedral de Colônia se ufana de possuir as relíquias: Melchior, augusto ancião, ofereceu ouro ao Rei Jesus; Gaspar, no fulgor da juventude e da beleza, ofereceu incenso, para proclamar sua divindade; e Baltazar, de cor muito morena, ofereceu ao Salvador mirra, testemunho de sua imortalidade.

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Origem do “Bolo de Reis”

Não se pode omitir, nesta resenha, o festim do “Bolo de Reis”. Sua origem remonta ao século XIV. Naquela época era costume fazer nas igrejas representações teatrais dos mistérios de nossa fé.

Encontra-se num registro da igreja de Santa Madalena, em Besançon (França), a narração de como se representava a Epifania.

Alguns dias antes da festa, os cônegos escolhiam um dentre eles ao qual davam o nome de rei, porque ele deveria fazer o papel do Rei dos Reis. Colocava-se para ele um trono no coro, e uma palma lhe servia de cetro.

Ele era o celebrante já desde as primeiras vésperas. Na Missa, três cônegos – o primeiro vestindo uma dalmática branca, o segundo uma vermelha e o terceiro uma negra, cada qual com uma coroa na cabeça e uma palma na mão, e seguidos de três pagens que carregavam os presentes – saíam da sacristia e, cantando o Evangelho, desciam para a parte inferior da igreja, precedidos por uma estrela de fogo. Depois subiam ao coro e, chegando ao trecho do Evangelho no qual se diz que os Magos adoraram o Salvador, eles iam até o altar, prosternavam-se diante do celebrante e lhe ofereciam seus presentes. Retiravam-se em seguida pelo lado oposto àquele pelo qual tinham vindo.

Tanto na véspera quanto no dia de Epifania, terminado o Ofício, o “cônego-rei” oferecia aos seus confrades, que compunham “sua corte”, uma refeição durante a qual ele era tratado como rei.

A fava no Bolo de Reis

No que diz respeito à eleição de um rei, os leigos não quiseram ficar atrás dos eclesiásticos. Cada família desejou ter seu rei, cuja escolha era feita pela sorte. Os bolos faziam parte dos banquetes de nossos antepassados. Inventou-se um especial para a Epifania, contendo uma fava. Quem recebia o pedaço no qual esta se encontrava, era proclamado rei.

Esse monarca de um dia tinha por corte sua família e seus amigos. E como sua soberania se exercia à mesa, foi necessário assinalar-lhe alguma distinção durante as refeições. Assim, em sua honra, todos aclamavam quando ele bebia: “O rei bebe, viva o rei!”

Esta forma de celebração perdura ainda em nossos dias em vários países da Europa, constituindo uma das festas litúrgicas comemoradas amplamente na esfera temporal.

(L’Ami du clergé, Ano 2, No. 1, 1/1/1880 – in História dos Santos – “Revista Arautos do Evangelho”)

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