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Senhor eu creio, mas ajudai-me na minha incredulidade!

Redação (Terça-feira, 19-02-2019, Gaudium Press) O “flash” é uma graça de consolação que Deus nos concede para aumentarmos nosso amor para com Ele, e também nos preparar para a luta. E a batalha surgiu logo após a Transfiguração de Jesus no alto do Tabor.

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Jesus expulsa o espírito imundo

O Divino Mestre, acompanhado dos três Apóstolos que assistiram à Transfiguração, ia descendo o Monte e, ao chegar ao sopé do mesmo, deparou-Se com uma multidão que rodeava os outros Apóstolos, e os escribas que discutiam com eles.

“Logo que a multidão viu Jesus, ficou admirada e correu para saudá-Lo. Jesus perguntou: ‘Que estais discutindo?’

“Alguém da multidão respondeu-Lhe: ‘Mestre, eu trouxe a Ti o meu filho que tem um espírito mudo. Cada vez que o espírito o agride, joga-o no chão, e ele começa a espumar, range os dentes e fica completamente duro. Eu pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não o conseguiram.’

“Jesus lhes respondeu: ‘Ó geração sem fé! Até quando vou ficar convosco? Até quando vou suportar-vos? Trazei-Me o menino!’ Levaram-no.

“Quando o espírito viu Jesus, sacudiu violentamente o menino, que caiu no chão e rolava espumando. Jesus perguntou ao pai: ‘Desde quando lhe acontece isso?’ O pai respondeu: ‘Desde criança. Muitas vezes, o espírito já o lançou no fogo e na água, para matá-lo. Se podes fazer alguma coisa, tem compaixão e ajuda-nos.’

“Jesus disse: ‘Se podes…? Tudo é possível para quem crê.’ Imediatamente o pai do menino exclamou: ‘Eu creio, mas ajuda-me na minha incredulidade!’

“Vendo Jesus que a multidão se ajuntava ao seu redor, repreendeu o espírito impuro: ‘Espírito mudo e surdo, Eu te ordeno: sai do menino e nunca mais entres nele!’

“O espírito saiu, gritando e sacudindo violentamente o menino. Este ficou como morto, tanto que muitos diziam: ‘Morreu!’ Mas Jesus o tomou pela mão e o levantou; e ele ficou de pé” (Mc 9, 15-27).

Também entre os demônios há desigualdade

Não se tratava de um menino epiléptico, embora ele apresentasse alguns sintomas análogos aos causados por essa enfermidade. O texto sagrado é claríssimo: era um espírito imundo, surdo e mudo que, exorcizado por Nosso Senhor, “saiu, gritando” (Mc 9, 26). Ou seja, o menino estava possuído por um demônio.

Em todo o universo há a desigualdade. Também entre os demônios ela existe, mas à maneira de uma pirâmide colocada em sentido contrário: a base para cima e o vértice para baixo. Neste se encontra Lúcifer.

Há “demônios superiores e tão potentes que uma fé comum é insuficiente para expulsá-los. Os Apóstolos acabavam precisamente de se encontrar em presença de um caso semelhante”.

Conceito de Fé

O pai do menino possuía Fé, porém apoucada. E com humildade ele disse ao Divino Mestre: “Eu creio, mas ajuda-me na minha incredulidade!” (Mc 9, 24).

O que é propriamente a Fé?
Ensina o Catecismo da Igreja Católica (n. 1814): “A Fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe para crer, porque Ele é a própria verdade.”

A Fé não é um sentimento. Esclarece São Tomás de Aquino que o ato de Fé “está em relação tanto com o objeto da vontade – o bem e o fim – como com o objeto do entendimento, a verdade”.

Afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
A “Fé é uma convicção adquirida em conformidade com as leis da razão, mas de fato incutida pela graça. Esta convicção deve ser tão forte, que o homem esteja disposto a morrer por ela. Porque o homem crê, e no momento em que ele creu lhe é dado o primeiro ato de amor, mas no primeiro ato de amor vem este pedido e esta exigência: morrer por Deus, se for necessário.”

Sinfonia que tem Deus por Autor

A respeito da afirmação de São Paulo: “O justo vive de Fé” (Hb 10, 38), comenta Cornélio a Lápide: “Assim, é necessária a Fé para ser justo; é necessária a Fé para viver; só o que vive tem Fé, e o que não a possui está morto.”

Como toda virtude, a Fé de uma pessoa precisa crescer continuamente. Para isso, é preciso fazer exercícios de Fé; do contrário, ela esmorece e pode até desaparecer. Um desses atos consiste em fazer jaculatórias, pedindo a Deus uma Fé crescente e inabalável.

Aquele que sempre procura crescer na Fé vai adquirindo horizontes grandiosos. E quem deixa que essa virtude diminua vai se tornando uma pessoa medíocre, apegada às coisas do mundo, e sobretudo a si mesma.

Diz São Bernardo que a Fé “alcança as coisas inacessíveis, descobre o desconhecido, abraça o imenso, se apodera do porvir, e por fim encerra a própria eternidade em seu seio”.

Comenta Garrigou-Lagrange que a Fé “é como um sentido espiritual superior que nos permite ouvir uma harmonia divina, inacessível a qualquer outro meio de conhecimento. A Fé infusa é como uma percepção superior do ouvido, para a audição de uma sinfonia espiritual que tem Deus por Autor”.

A Fé de uma pessoa deve ser manifestada, não só por palavras, mas pelos seus modos de ser, ambientes em que vive, etc. Lembremo-nos de que, segundo afirma o Apóstolo São Tiago, o Menor, “a Fé, se não se traduz em ações, por si só está morta” (Tg 2, 17).

Voltemo-nos, com o coração contrito e humilhado, a Nossa Senhora e Lhe peçamos: “Minha Mãe, eu creio, mas ajudai-me em minha incredulidade!”

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 182)

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1- FILLION, Louis-Claude. La sainte Bible avec commentaires – Évangile selon S. Matthieu. Paris: Lethielleux. 1895, p. 345.

2- Suma Teológica, II-II, q. 4, a. 1, resp.

3 -CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Como enfrentar a dor. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XVII , n. 199 (outubro 2014), p. 19-20.

4- Apud BARBIER, SJ, Jean-André. Tesoros de Cornelio a Lapide. Madri: Librerias de Miguel Olamendi y outros. 1866, v. II, p. 268.

5- SÃO BERNARDO DE CLARAVAL. Sermão 76, sobre o “Cântico dos cânticos”. Apud CORNÉLIO A LÁPIDE. In BARBIER, SJ, Jean-André. Op. cit., 1866, v. II, p. 269.

6- GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. Les trois âges de la vie intérieure. Paris:
Du Cerf, 1955, v. I, p.67.

 

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