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Temos parte nos sofrimentos de Jesus?

Redação (Quinta-feira Santa, 18-04-2019, Gaudium Press) Talvez sem nos apercebermos, incorremos também nós na imensa injustiça feita contra Jesus todas as vezes que pecamos.

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Quanto deveríamos ter isto presente no momento em que o demônio nos tenta ou nossas inclinações nos induzem ao mal!

No fundo, esbofeteamos Jesus, como o fizeram seus cruéis algozes: o pecado é, em certa medida, uma participação no deicídio. Se todos os homens, desde Adão e Eva até o último, tivessem perseverado, e qualquer um de nós fosse o único a cometer uma só falta, seria o culpado desses tormentos, porque Jesus Se encarnaria e sofreria tudo isso, ainda que apenas por causa deste.

Modelo de castidade, pobreza e obediência

Percorramos alguns episódios de sua terrível Paixão:

O que Lhe fazem?

Arrancam-Lhe a roupa. Sendo Nosso Senhor Jesus Cristo o arquétipo de toda a humanidade, seu senso de pudor é o mais excelente possível. Que deve ter sentido Ele em seu interior quando passou por extremo tão horroroso?! Ele permitiu tal humilhação para reparar os pecados de sensualidade.

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Quantos desvios há por vaidade, por ostentação na indumentária, por extravagância das modas! Por causa disso, quanta perda do senso moral e do pudor! E nós, como controlamos nossa sensualidade? Esforçamo-nos por evitar as ocasiões próximas de pecado?

Ao ser despojado de suas vestes, Ele, o Rei do universo, ficou sem nada possuir.

Só Lhe deixaram um símbolo ultrajante da sua realeza: a coroa de espinhos. Como é nosso apego aos bens terrenos?

Na Paixão, o Salvador também quis ser para nós um modelo de obediência.
Apesar da violência exercida contra Ele, submeteu-Se a tudo, sem a mais leve manifestação de inconformidade ou revolta, para reparar nossas desobediências à Lei de Deus e às autoridades legitimamente constituídas.

A Nosso Senhor bem se poderia aplicar a frase do salmista: “Quæ utilitas in sanguine meo? – Qual a utilidade do meu sangue?” (Sl 30, 10). Esta pergunta ecoa não somente na Paixão, mas em nossos dias: que utilidade tem o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo para nós, no século XXI? Que utilidade tem esse Sangue para mim? Esse Sangue preciosíssimo derramado, até se esgotar, por mim!

Pilatos, a típica figura do tíbio

Causa espanto, por exemplo, o procedimento de Pilatos ao ouvir dos lábios de Jesus a seguinte afirmação:

“O meu Reino não é deste mundo. […] Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz” (Jo 18, 36-37).

O governador, homem mesquinho, medíocre, vulgar e arrivista, rejeitou nessa hora um convite para pertencer a este outro Reino…

“O que é a verdade?” (Jo 18, 38), perguntou e, em seguida, retirou-se.

É provável que experimentasse no fundo da alma o desejo de conhecer a verdade com clareza, mas percebeu que a resposta de Nosso Senhor o obrigaria a ser inteiramente reto e abandonar os sofismas que criava para cobrir sua falta com estas ou aquelas roupagens espúrias.

Pilatos sabia que não podia condenar Nosso Senhor e procurava encontrar uma saída para estar em paz com sua consciência.

A justificação do mal nos levará aos piores pecados

Pilatos é a imagem perfeita desses que vão elaborando raciocínios cada vez mais confusos para adormecer a própria consciência e decaem até cometer o pecado. Porque o homem é lógico como um monólito e nunca pratica o mal pelo mal, sempre está buscando uma desculpa para justificar seu crime.

Quantas vezes nós pecamos, certos de que não deveríamos trilhar esse caminho!

Quantas consciências se tornam deformadas, à maneira de um Pilatos, por não querer aceitar a verdade tal como ela é!

Mais adiante, aguilhoado pela consciência ao ouvir que Nosso Senhor Se dizia Filho de Deus, Pilatos perguntou-Lhe: “De onde és Tu?” (Jo 19, 9).

Jesus não lhe responde, porque quando as consciências se tornam relaxadas o Senhor não lhes fala mais. Só no fim Ele dá uma última chance, recordando-lhe:

“Tu não terias autoridade alguma sobre Mim, se ela não te fosse dada do alto. Quem Me entregou a ti, portanto, tem culpa maior” (Jo 19, 11).

E São João acrescenta: “Por causa disso, Pilatos procurava soltar Jesus” (Jo 19, 12).

Mas… a consciência que não é íntegra é arrastada pela opinião pública má, pelas companhias ruins, pelo demônio, e derrapa até cair no precipício.
É o que acontece a Pilatos por sua tibieza: lava as mãos e acaba condenando Jesus sem, todavia, querer assumir a responsabilidade por sua morte.

“Sou inocente do Sangue deste Homem. Isto é lá convosco” (Mt 27, 24). Esta atitude inconsequente, até o fim do mundo será lembrada no Credo: “Padeceu sob Pôncio Pilatos”.

Incoerente ao extremo, a energia que não teve para enfrentar o Sinédrio e salvar a vida de Nosso Senhor que estava em suas mãos -apesar de ser advertido pela esposa (cf. Mt 27, 19), pela voz da graça e até pela própria presença de Jesus-, ele a teve quando os judeus protestaram por causa dos dizeres postos na Cruz: “Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus” (Jo 19, 19).

Nesse aspecto minúsculo e secundário ele é de uma firmeza pétrea e faz prevalecer sua autoridade. E nós, somos exigentes com relação às pequenas coisas e displicentes com as graves e importantes?

Ocasião adequado para um bom exame de consciência

Assim, nós poderíamos percorrer todos os episódios desse relato sublime da Paixão e deles extrair mais conclusões para um exame de consciência… num artigo que nunca acabaria.

Fiquemos com o que foi comentado até aqui e aproveitemos para pedir com ardor a graça de reparar tudo isso pelas nossas boas obras e, sobretudo, pelo horror ao pecado.

Não é este o momento de, recordando a Paixão e Morte de Nosso Senhor, fazermos um propósito sério de emenda de vida, deixando todos os caprichos, todos os desvios, para transformar nossa existência em um ato de reparação a tudo o que Jesus sofreu?

Tenhamos um verdadeiro arrependimento de nossas faltas, todo feito de espírito sobrenatural, a ponto de pedir de coração sincero a santidade, que não é tanto o fruto de nosso esforço, e sim da graça de Deus. E nós devemos implorá-la empenhadamente, pois, o Salvador no-la conquistou neste dia, no alto do Calvário.

“Com a árvore da Cruz, foram-te devolvidos bens maiores do que aqueles que lamentavas ter perdido com a árvore do Paraíso”.5

Que eu me ofereça inteiro para abraçar uma vida de virtude, de pureza, de humildade, de obediência, em uma palavra, de santidade, e possa fazer companhia à Mãe de Jesus, ao pé da Cruz.

(Fonte: “Revista Arautos do Evangelho, Abril/2019”)

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5 SÃO PEDRO CRISÓLOGO. Homilía LX: Sobre el Símbolo, hom.V, n.8. In: Homilías Escogidas, op. cit., p.186.

 

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