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A verdadeira caridade

Redação (Terça-feira, 18-06-2019, Gaudium Press) Depois de ter proferido tremendas encrespações aos escribas e fariseus – os sete “ai de vós” -, Nosso Senhor mostrou o amor que Ele tem pelos seres humanos.

A verdadeira caridade-Foto Arquivo GaudiumPress.jpg

Singela e tocante comparação

Disse o Redentor:
“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas aqueles que te foram enviados! Quantas vezes Eu quis reunir teus filhos como uma galinha reúne seus pintainhos debaixo das asas, mas não quisestes!” (Mt 23, 37).

A Sabedoria eterna e Encarnada utiliza essa singela comparação para exprimir uma verdade sublime que toca os corações mais enrijecidos, desde que não coloquem obstáculos.

Quantas provas temos de que Deus nos ama! Ele nos criou, nos sustenta no ser, redimiu-nos por sua Paixão e Morte. Pelo Batismo, concedeu-nos a graça de nos tornarmos seus filhos. Exclama São João Evangelista: “Olhai que amor teve o Pai para nos chamar filhos de Deus, e nós o somos!” (I Jo 3, 1).

O amor de Jesus por nós é concedido através de Maria Santíssima, Medianeira universal de todas as graças. E Ela nos ama tanto que São Luís Grignion de Montfort afirma ser o amor d’Ela para conosco incomparavelmente maior que a soma dos amores de todas as mães do mundo por um único filho.

Devemos corresponder a esse amor, como ordena o Primeiro Mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas.” E, consequentemente, amar a Nossa Senhora e a Santa Igreja, Esposa Mística de Cristo.

Esse amor se mostra pelas obras.

Pode-se comparar o amor a uma cruz, que possui uma haste vertical e outra horizontal. O amor acima referido é vertical. Mas existe também o amor horizontal, ou seja, aquele que devemos ter a nossos irmãos. “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como Eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13).

Antiguidade cristã, Idade Média e mundo atual

Nos primórdios da era cristã, durante as sangrentas perseguições do Império Romano contra a Igreja, havia entre os católicos tal benquerença que os próprios pagãos diziam: “Vede como eles se amam e como estão dispostos a morrer um pelo outro.” Depois vieram as terríveis invasões dos bárbaros, mas a Igreja, movida pelo seu grande amor às almas, os converteu.

Na Idade Média havia a perfeita caridade, pois “a filosofia do Evangelho governava os Estados […], a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil”.

Mas com a decadência da Idade Média eclodiram movimentos cheios de ódio ao bem, à verdade e à beleza, que se lançaram contra a Igreja e a Civilização Cristã: o protestantismo, a Revolução Francesa, o comunismo, etc. A respeito desse tema, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu, em 1959, a obra “Revolução e Contra-Revolução”, que foi traduzida para os principais idiomas do Ocidente.

E desembocamos numa situação em que na humanidade, por ter desprezado o amor a Deus e ao próximo, o ódio prolifera. Assim, “o terrorismo ameaça, os sequestros se alastram, o roubo de crianças prolifera, o comércio de órgãos humanos se avoluma, o crime, os vícios e o desrespeito se impõem; assistimos cotidianamente à expansão de ódios, guerras intestinas e internacionais, matanças de inocentes, ao desaparecimento gradual e progressivo do instituto da família… Enfim, quanto mais haveria para enumerar!”

Não tem origem nas afeições transitórias e caprichosas

O amor a Deus e ao próximo é também chamado caridade. Sobre a verdadeira caridade, escreve Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:

“Assim como a água verdadeiramente pura não é aquela que nasce nos vales sombrios, mas aquela que, saída do mais profundo das entranhas da terra, se eleva até o cume dos montes, de onde brota em veios cristalinos, assim também a verdadeira caridade não é o sentimento que tem sua origem nas afeições naturais, transitórias e caprichosas dos homens uns pelos outros, mas sim o amor que, saído do mais profundo do coração humano, se eleva a Deus, e de lá, em veio límpido e cristalino, desce, como do alto de uma montanha, sobre todas as criaturas.

“A primeira caridade, portanto, a caridade verdadeira e isenta do lodo dos afetos humanos, é a que se eleva diretamente a Deus.”

Deturpação do sentido da palavra “amor”

A caridade não pode ser confundida, como muitas pessoas julgam, com o “amor todo feito de sensibilidade esparramada e ilógica, de afetos nebulosos e sem base na razão, de obscuras condescendências consigo mesmo, e escusas acomodações de consciência. Mas é o amor verdadeiro, iluminado pela Fé, justificado pela razão, sério, casto, reto, perseverante; em uma palavra, o amor de Deus”.

“Quão diferente é este puríssimo amor divino do sentimento romântico e egoísta que o mundo hoje ousa chamar de amor, maculando o sentido mais profundo desta palavra!”

A palavra “caridade” tem sido tão deturpada como sucedeu com o termo “liberdade”.

Madame Roland – que era, aliás, revolucionária – foi condenada à morte pelos ultrarrevolucionários durante a Revolução Francesa, em 1793. No momento de subir o cadafalso para ser guilhotinada, numa praça em Paris, voltou-se para a gigantesca estátua da liberdade ali existente e gritou: “Liberdade, liberdade, quantos crimes são cometidos em teu nome!”

E hoje poder-se-ia dizer:

“Caridade, caridade, quanta sandice e quanto crime se cometem em teu nome!”
Peçamos à Santíssima Virgem a graça de aumentarmos nosso amor a Deus e ao próximo, bem como de sentirmos que somos amados por Ela, como se cada um de nós fosse seu filho único.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 197)

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1- Cf. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. Petrópolis: Vozes. 8. ed. 1974, p. 103.
2-TERTULIANO. Apologeticum, XXXIX: ML 1, 471
LEÃO XIII, Encíclica Immortale Dei, de 1-11-1885. Paris: Bonne Presse, v. II, p. 39.

3- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2012, v. VI, p. 88.

4- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. A verdadeira caridade. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano II, n. 19 (outubro 1999), p. 12.

5- Idem. Prece junto ao presépio. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano IV, n. 45 (dezembro 2001), p. 17.
6- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. III, p. 352.
7- Cf. ROBERT, Henri. Os grandes processos da História. Rio de Janeiro: Editora Globo. 1964, tomo II, p. 226.
8- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. … E astutos como as serpentes. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano V, n. 53

 

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