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Deus é anti-igualitário

Redação (Segunda-feira, 24-06-2019, Gaudium Press) Poucos dias antes da Santa Ceia, Nosso Senhor narrou diversas parábolas entre as quais a dos talentos, que passaremos a comentar.
Disse o Divino Mestre:

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Distribuição não igualitária dos talentos

“Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus servos e lhes entregou seus bens. A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade. Em seguida viajou.

“O servo que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles, e lucrou outros cinco. Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só, saiu, cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do seu patrão.

“Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar contas com os servos. O servo que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’

“Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais.

Vem participar da minha alegria!’

“Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. O patrão lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e que ceifo onde não semeei? Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’.

“Em seguida, o patrão ordenou: ‘Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez! Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!'” (Mt 25, 14-30).

Deus ama a hierarquia

O talento não era propriamente uma moeda, mas uma unidade de valor equivalente a 26 quilos de prata. O patrão representa Deus, que distribui aos homens dons – talentos – de modo desigual, quer na ordem da natureza, quer na ordem da graça.

Alguém poderia objetar: Mas enquanto seres humanos, todos somos iguais. Explica Monsenhor João Clá:

“Somos todos iguais, pois temos cabeça, tronco e membros, mas é uma insensatez defender a existência da igualdade absoluta. Deus não é tartamudo para criar dois seres repetidos! Pelo contrário, Deus é anti-igualitário; Ele ama a hierarquia e quer uma sociedade humana escalonada, de modo que uns dependam dos outros e considerem com alegria os aspectos por onde os demais são superiores a si.”

“Deus, em sua infinita sabedoria, tem um desígnio específico para cada um, de maneira que todo homem pode se considerar como filho único de Deus. Ou seja, todo ser humano é irrepetível, o que torna exclusivo seu chamado e sua missão.

“Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!”

“Ao distribuir os seus dons, Deus dá mais a uns e a outros menos […], conforme a capacidade de quem os recebe e em função da respectiva vocação.

“Desta forma, cada um de nós tem, na sua medida, dons naturais e sobrenaturais a desenvolver. Deles deve se servir em benefício próprio e dos outros, mas sempre visando a maior glória do Criador e a salvação das almas.”

Os dois primeiros servos se esforçaram diligentemente e fizeram frutificar os dons que receberam. Mas o terceiro se deixou “levar pelo egoísmo e pela falta de zelo. Em lugar de utilizar os dons para a glória de Deus e salvação das almas, pensou apenas em suas próprias conveniências.

“Ora, quando Deus nos concede determinadas qualidades, quer que elas sejam usadas em benefício dos outros, conforme adverte São Pedro: “Como bons dispensadores das diversas graças de Deus, cada um de vós ponha à disposição dos outros os dons que recebeu” (I Pd 4, 10).

“Afinal, a Lei não se resume no amor a Deus e ao próximo como a si mesmo? Como o bem é eminentemente difusivo, o servo negligente deveria ter exclamado com São Paulo: ‘Ai de mim, se eu não anunciar o Evangelho!’ (I Cor 9, 16).”

Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Na parábola dos talentos, o Redentor nos mostra que não […] se trata apenas de fazer o bem, mas ainda de fazer o maior bem possível. E este bem máximo só o teremos realizado trabalhando para a salvação das almas.”

Inferno: lugar onde “haverá choro e ranger de dentes”

As palavras “depois de muito tempo, o patrão voltou” (Mt 25, 19a), significam o fim do mundo – quando Jesus virá para julgar os vivos e os mortos – e também a morte de cada um de nós, após a qual seremos julgados. Durante esses juízos – o particular e o Final -, Nosso Senhor irá “acertar contas” (Mt 25, 19b), ou seja, “nos pedirá satisfação dos talentos e dons que Ele nos concedeu ao longo da nossa existência terrena”.

O servo que nada fez para render seu talento será jogado num local tenebroso, onde “haverá choro e ranger de dentes!'” (Mt 25, 30). Esse lugar é o Inferno, onde são castigados os pecadores que, por omissões e ações, morreram na inimizade com Deus.

“Se de algo nossa consciência nos acusar ao meditarmos sobre esta passagem do Evangelho, lembremo-nos de que na parábola falta uma figura: a Mãe do Senhor. Ela sempre está ao nosso lado, acompanhando-nos e advogando por nossa causa diante de seu Divino Filho.

“Peçamos, pois, que essa afetuosa Mãe nos obtenha, em qualquer situação na qual nos encontremos, um irresistível influxo de graças, de forma a fazermos render ao máximo os talentos recebidos.”

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada ” – 198)

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1- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. III, p. 138-139.
2- Idem, ibidem, 2013, v. II, p. 476.479.
3- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O maior bem possível. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano V, n. 52 (julho 2002), p. 26.
4- CLÁ DIAS, op. cit. 2013, v. II, p. 477.
5- Idem, ibidem, 2013, v. II, p. 485.

 

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