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Nosso Senhor lavou os pés até mesmo do traidor

Redação (Quarta-feira, 28-08-2019, Gaudium Press) Antes de instituir a Sagrada Eucaristia, Jesus quis lavar os pés dos Apóstolos a fim de mostrar que devemos ter a alma limpa para podermos comungar.

Nosso Senhor lavou os pés até mesmo do traidor-Arquivo Gaudium Press.png

Sala decorada com distinção e categoria

O Divino Mestre ordenou aos Apóstolos que fizessem os preparativos para a Páscoa, a qual era uma festividade muito solene entre os judeus. Disse Ele a São Pedro e São João Evangelista:
“Ide à cidade [Jerusalém]. Um homem carregando um jarro de água virá ao vosso encontro. Segui-o e dizei ao dono da casa em que ele entrar: ‘O Mestre manda dizer: onde está a sala em que vou comer a Páscoa com os meus discípulos?’ Então ele vos mostrará, no andar de cima, uma grande sala, arrumada com almofadas. Aí fareis os preparativos para nós!

“Os discípulos saíram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus havia dito, e prepararam a Páscoa” (Mc 14, 13-16).
Comenta Monsenhor João Clá:

“O recinto escolhido pelo Redentor, como cenário do ato de suma importância que iria realizar, era uma ampla sala decorada com distinção e categoria (cf. Lc 22, 12). Belos tapetes, tecidos, cortinas e requintada mobília compunham agradavelmente o ambiente.

“De acordo com o costume do tempo, nos banquetes as mesas eram dispostas em forma de “U” e os comensais não comiam sentados como hoje, mas reclinados em divãs distribuídos no lado externo da mesa. O lado interno ficava livre a fim de permitir o serviço. O lugar de honra – que na ocasião deveria ser ocupado por Nosso Senhor – ficava ao centro. […]

Judas procura os sinedritas para trair o Divino Salvador

“São Pedro e São João executaram com toda a presteza a missão que o Mestre lhes confiara. Além de providenciar o cordeiro sem defeito, de um ano – o qual se imolava no Templo, depois do meio-dia, com um rito apropriado à Páscoa -, prepararam também os outros alimentos prescritos pela Lei, tais como os pães ázimos e as ervas amargas, as quais representavam
os sofrimentos do povo hebreu durante o cativeiro no Egito.

“Sendo Judas Iscariotes o responsável pela logística do Colégio Apostólico, cabia-lhe tomar as providências para a celebração. Porém, a narração de outro Evangelista indica terem sido Pedro e João os discípulos que Nosso Senhor encarregou deste trabalho (cf. Lc 22, 8).”

Mas nesse ínterim o infame Judas foi ter com os sumos sacerdotes e anciãos do povo, e ofereceu-lhes sua pérfida contribuição para trair o Divino Mestre. Prometeram-lhe trinta moedas de prata, “e desde aquele instante, [Judas] procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus” (Mt 26, 16).

“Deveis lavar os pés uns dos outros”

Explica São João que, ao iniciar a Ceia, Nosso Senhor “tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos, enxugando-os com a toalha com que estava cingido.

“Chegou a vez de Simão Pedro. Pedro disse:

‘Senhor, Tu me lavas os pés?’

Respondeu Jesus:

‘Agora não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás.’

Disse-Lhe Pedro:

‘Tu nunca me lavarás os pés!’

Mas Jesus respondeu:

‘Se Eu não te lavar, não terás parte comigo.’ Simão Pedro disse: ‘Senhor, então lava não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.’
“Jesus respondeu:

‘Quem já se banhou não precisa lavar senão os pés, porque já está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos.’

Jesus sabia quem O ia entregar; por isso disse:

‘Nem todos estais limpos.’
“Depois de ter lavado os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e sentou-Se de novo. E disse aos discípulos: ‘Compreendeis o que acabo de fazer? Vós Me chamais de Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois Eu o sou. Portanto, se Eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que Eu fiz'” (Jo 13, 4-15).

Uma alvura divina penetrou na alma de São Pedro

Continua Monsenhor João Clá:

“Devemos levar em consideração os costumes orientais de há dois mil anos, bem distintos dos nossos. Naquele tempo, era praxe, para manifestar deferência, os servos lavarem os pés dos convidados, com água, perfumes e unguentos, nos banquetes e jantares solenes. Ora, isso jamais era feito pelo próprio anfitrião. Tratava-se de serviço próprio aos escravos.

“Nesta Ceia, quem era o Anfitrião?

Nada mais nada menos que o próprio Deus feito Homem.”
Nosso Senhor começou por São Pedro, como cabeça dos demais Apóstolos.

“Podemos imaginar o que deve ter sido sentir os próprios pés sendo lavados pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade!

“Não terá ele experimentado também, à medida que as sagradas e adorabilíssimas mãos de Jesus retiravam a poeira do caminho, que todos os passos dados por esses pés, que não foram bons, ou foram quiçá pecaminosos, estavam sendo perdoados e uma alvura divina penetrava em sua alma?

Devemos fazer o papel de servo uns em relação aos outros

“E nós? Se quisermos ter parte com Jesus, devemos pedir, como São Pedro, a graça de sermos purificados por inteiro, ou seja, que o preciosíssimo Sangue do Redentor limpe todas as nossas faltas. […]

“Por mais que possamos encontrar dificuldades temperamentais ou inconveniências no relacionamento com os outros, devemos imitar Jesus, tratando cada um de nossos irmãos como Ele tratou Judas no lava-pés.

“As relações humanas podem ser, no princípio, repletas de alegria e de suavidade, mas logo depois costumam aparecer os percalços, as rusgas, as dificuldades. São as contingências deste vale de lágrimas.

“Nesses momentos, devemos lembrar-nos da Santa Ceia, estando dispostos a fazer o papel de servo uns em relação aos outros, a perdoar o irmão a ponto de esquecer qualquer desgosto que nos tenha dado; em suma, a estimá-lo como se víssemos nele a própria figura de Jesus.”

Afirma o exegeta Maldonado:

“Cristo executou tal ação ou cerimônia com o objetivo de ensinar, por meio desse simbolismo externo, que os homens não devem aproximar-se da sacrossanta e divina Eucaristia impuros e manchados.”

* * *

Que a Santíssima Virgem nos conceda a graça de não guardarmos nenhum ressentimento contra nossos irmãos, e tratá-los como Nosso Senhor tratou os Apóstolos.

 

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada -206)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2014, v. III, p. 424. 426-427.

2 – CLÁ DIAS. Op. cit. 2013, v. VII, p. 317. 319. 322.

3 – MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelio de
San Juan. Madrid: BAC, 1954, v. III, p 747-748

 

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