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Pompas fúnebres do Homem-Deus

Redação (Quarta-feira, 04-12-2019, Gaudium Press) Durante a agonia de Nosso Senhor, uma escuridão cobriu toda a Terra e houve um forte terremoto. “A rocha do Calvário, sobre a qual se levantava a Cruz do Salvador, se fendeu violentamente até ao profundo. […] Abriram-se os sepulcros e muitos mortos ressuscitaram e apareceram, envoltos em seus longos sudários, pelas ruas de Jerusalém, espalhando por toda parte o espanto e a consternação.”

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Os Anjos se retiram do Templo e nele entram os demônios

Comenta Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
“E no meio das trevas, nos estertores da Terra que tremia, no ruído dos prédios que caíam, nos gemidos dos feridos e das pessoas que choravam, no silêncio da natureza animal aterrorizada, [os justos] passeavam com os olhos fechados, com os corpos envoltos por aquelas tiras estreitas que enfaixavamantigamente os mortos, exprobando de boca fechada aos que tinham crucificado o Salvador. 

“Era, como disse Bossuet, o Padre Eterno fazendo as pompas fúnebres de seu Divino Filho. O Templo estremeceu e seu véu se rasgou. Dele saíram os Anjos, ali entraram os demônios. Aquilo tudo, até então objeto
da benevolência de Deus, foi execrado e atirado para o lado.”

No interior do Templo, o véu que fechava a entrada do “Santo dos santos” rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, significando o rompimento da antiga aliança para ceder lugar à nova.

Um brado que ecoou até nos Infernos
Logo após a Alma santíssima de Nosso Senhor ter se separado do Corpo sagrado, satanás compreendeu inteiramente o erro que cometera.

Ele “tinha amotinado a sinagoga contra o Justo, e aquele Justo era o Filho de Deus. Quisera o demônio, com raiva insensata, aquela morte que dava a vida ao gênero humano e trabalhara sem o saber para remir aqueles filhos de Adão que considerava como seus perpétuos escravos. ‘Era o Filho de Deus, gritava ele desesperado, e eu servi-O nos seus desígnios.'”

A Alma de Jesus foi, então, “ao misterioso Limbo onde desde longos séculos A estavam esperando os filhos de Deus”.

Ali se encontravam nossos primeiros pais, Adão e Eva, que há uns cinco mil anos esperavam esse momento sublime. Lá estava, recém-chegada, a alma do Bom Ladrão, justificado pelos próprios lábios do Salvador: “Em verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

“Ao entrar naquele templo dos santos, foi Jesus acolhido com um brado tal que ecoou naquele momento ao pé da Cruz e nos Infernos: ‘É Ele, é o Filho de Deus, é o Redentor que nos vem anunciar a nossa próxima libertação!'”

Nossa Senhora tinha a certeza de que viria a Ressurreição 

Face aos crimes cometidos contra Nosso Senhor, “a mais inconforme com tudo aquilo, que mais execrava tudo aquilo, que mais odiava tudo quanto se passava, que mais amava o Salvador morto, que mais esperava, mais certeza tinha, a certeza de todas as certezas”, era Maria Santíssima. Ela possuía uma “Fé que continha toda a Fé que deveria haver no mundo até o fim dos tempos!”

A Mãe de Deus estava em pé junto à Cruz, “com os olhos inundados de lágrimas, mas com a alma inundada de luz!”

“Maria Santíssima tinha a certeza que, depois das grandes tragédias, do abandono geral, viria a aurora da Ressurreição, da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, nimbada de glória a partir de Pentecostes.”

“Isso exprime-o a Igreja na Sexta-Feira Santa, ao ir apagando sucessivamente os círios todos, menos um, que representa Maria. No coração de Maria era imorredoura a Fé.”

Simbolismo do sepulcro de Jesus

Ali também se encontravam Nicodemos e José de Arimateia, membros do Sinédrio. José, que era nobre, rico e “discípulo de Jesus às escondidas” (Jo 19, 38), animado de uma coragem heroica, dirigiu-se a Pilatos e pediu-lhe o Corpo de Jesus a fim de sepultá-Lo no jardim que possuía nas proximidades do Monte Calvário. Tendo o governador assentido, José comprou um lençol de linho puro e regressou ao Gólgota.

Ajudados por São João Evangelista e mais alguns discípulos, Nicodemos e José despregaram da Cruz o Corpo do Salvador e O colocaram no colo virginal de Nossa Senhora, a fim de ser ungido com aproximadamente 30 quilos de perfumes (cf. Jo 19, 39).

Devemos imaginar, “na simplicidade e misérias extremas dessa Mãe e desse Filho, a sublime majestade de ambos: a régia grandeza do cadáver divino, e como Maria se sentia dignificada com aquele tesouro depositado no seu colo”.

No jardim, havia um sepulcro talhado na rocha e que não fora ainda utilizado. Nele foi colocado o Corpo do Redentor. Isso tem também seu simbolismo: “Nasceu Jesus num seio de virgem; é sepultado num sepulcro inabitado. […] No ventre da Virgem não encontrou sequer vestígio do pecado original; na sepultura […] não tem de encontrar o mínimo sinal da corrupção.”

Rompendo os preceitos do sábado -que proibiam caminhar além de tantos passos-, os sumos sacerdotes e fariseus foram até o palácio de Pilatos e lhe pediram que colocasse guardas no sepulcro, pois temiam que os discípulos de Jesus fossem roubar seu Corpo e depois dissessem ao povo: “Ele ressuscitou dos mortos” (Mt 27, 64).

“Pilatos, sempre na sua atitude espúria de homem incapaz de tomar decisões em favor do bem, não quis mandar soldados romanos para custodiar o túmulo, mas permitiu que os sumos sacerdotes ali postassem os seus.”

Nossa Senhora e as Santas Mulheres acompanharam o sepultamento de Jesus e depois foram para o Cenáculo, a fim de lá passarem o dia de sábado.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 218)
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1- BERTHE. CSSR. Jesus Christo – sua vida, sua Paixão, seu triunpho. Einsiedeln (Suíça): Estabelecimentos Benziger. 1925, p. 403-404.
2 Jacques-Bénigne Bossuet (1627-1704) foi um dos mais eminentes oradores sacros da França.
3- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Certeza da vitória. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XIX, n. 220 (julho 2016), p. 21.
4- Cf. BERTHE. Op. cit., p. 404.
Idem, p. 405.
5- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Op. cit., p. 21
VEUILLOT, Louis. Vida de Jesus. São Paulo: Editora Jornal dos Livros. s/d. v. II, p. 247.

6- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Reflexões em torno da Festa de Cristo Rei. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XI, n. 128 (novembro 2008), p. 27.
7- VEUILLOT, op. cit. p. 248.
8- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. VII, p. 380.
9- Cf. BERTHE, op. cit. p. 408.
10- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Reflexões em torno da Festa de Cristo Rei. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XI, n. 128 (novembro 2008), p. 27.
11- Cf. BERTHE, op. cit. p. 408.

 

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