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"Falar claramente" sobre suicídio assistido, aconselha Cardeal aos sacerdotes

Redação (Quinta-feira, 19-12-2019, Gaudium Press) Em declarações feitas à Agencia CNA, nesta semana, o Cardeal Willelm Eijk, Arcebispo de Utrecht, na Holanda, tratou sobre as atitudes dos sacerdotes diante do caso de que uma pessoa venha fazer uma opção por um suicídio assistido ou pela eutanásia.

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Cardeal Eijk: suicídio assistido ou eutanásia são pecados graves.
(Foto Arquivo Gaudium Press)

Para o Cardeal Arcebispo de Utrecht, um sacerdote deve falar claramente a uma pessoa que opta por suicídio assistido ou eutanásia voluntária e esclarecer que ela está cometendo um pecado grave.

“Pela mesma razão, um sacerdote não pode estar presente quando se realiza a eutanásia voluntária ou o suicídio assistido. Isso poderia implicar que o sacerdote não tem problemas com a decisão ou inclusive que esses atos, moralmente ilícitos, não são tais em algumas circunstâncias, de acordo com os ensinamentos da Igreja”, esclareceu o Cardeal Willelm Eijk.

Pecado grave diz o Cardeal, pastor e médico

Doutor em medicina antes de descobrir sua vocação, o Cardeal Eijk dedicou a dissertação de seu doutorado, em meados da década de 1980, às leis da eutanásia. Lidera os fiéis em um dos países com a lei de eutanásia mais liberal do mundo.

O Cardeal Eijk explicou na entrevista que “um sacerdote deve dizer claramente àqueles que optam pelo suicídio assistido ou pela eutanásia voluntária que ambos os atos violam o valor intrínseco da vida humana, isso é um pecado grave”.

Acompanhamento espiritual – responsabilidades do médico e do paciente

O Purpurado não negou a possibilidade de acompanhamento espiritual, mas enfatizou que o sacerdote não deveria estar presente no momento da realização destas práticas.

Do mesmo modo, fez uma distinção entre a eutanásia voluntária e o suicídio assistido:
“Com o suicídio assistido, é o paciente que toma intencionalmente os medicamentos que o médico prescreveu para cometer o suicídio.

Depois, há uma eutanásia voluntária, que é quando o próprio médico administra os medicamentos para acabar com a vida do paciente após a solicitação do mesmo.

No entanto, as responsabilidades do paciente e do médico são as mesmas nos dois casos”.

Para esclarecer, o Cardeal Eijk disse que “a responsabilidade do paciente é igualmente grave, tanto no suicídio assistido quanto na eutanásia [voluntária], porque tomou a iniciativa de acabar com a sua vida, e é a mesma coisa se ele próprio coloca fim a sua vida ou se o médico o faz”.

Os médicos também são igualmente responsáveis nos dois casos, ressaltou.

Ao realizar a eutanásia, o médico viola diretamente o valor da vida, “que é um valor intrínseco.

Ao ajudar no suicídio assistido, o médico coopera com a vontade do paciente e isso significa que ele compartilha a intenção do paciente.

Por esta razão, inclusive a mera cooperação é um ato intrinsecamente malvado, tão sério como se o médico tivesse acabado pessoalmente com a vida do paciente”, especificou com detalhes o Cardeal.

O Cardeal Eijk admitiu que “o suicídio assistido talvez seja menos pesado psicologicamente para o médico. No entanto, não há diferença moral significativa entre as duas coisas”.

Pode haver funeral? Sacramentos?

O Cardeal também abordou o assunto de um eventual funeral para pessoas que escolheram suicídio assistido ou eutanásia.

“Se um paciente pede ao sacerdote que administre os sacramentos (confissão ou unção dos enfermos) e planeja um funeral antes que o médico acabe com a sua vida a seu pedido ou se suicide, o sacerdote não pode fazê-lo”, disse o Cardeal. Indicou que há três razões para essa proibição.

Razões das proibições

A primeira é que “uma pessoa pode receber os sacramentos somente quando estiver em uma boa disposição e esse não é o caso quando uma pessoa quer se opor à ordem da criação, violando o valor intrínseco de sua vida”.

A segunda razão é que a pessoa “que recebe os sacramentos coloca sua vida nas mãos misericordiosas de Deus. No entanto, quem quer terminar sua vida pessoalmente, quer levar sua vida em suas mãos”.

A terceira razão é que, “se o sacerdote administra os sacramentos ou planeja um funeral nesses casos, o sacerdote é culpado de um escândalo, pois suas ações podem sugerir que o suicídio ou a eutanásia estão permitidos em certas circunstâncias”.

Sacerdote pode celebrar funerais?

O Cardeal Eijk também explicou que um sacerdote pode celebrar o funeral de uma pessoa que morreu por suicídio assistido ou eutanásia voluntária apenas em algumas circunstâncias, embora o suicídio seja sempre ilícito.

“Desde a antiguidade, os sacerdotes aceitaram celebrar os funerais de pessoas que cometeram suicídio ou solicitaram eutanásia em casos de depressão, de qualquer outra doença psiquiátrica. Nesses casos, devido à doença, a liberdade das pessoas diminui e, assim, acabar com a vida não pode ser considerado um pecado mortal”, afirma o Cardeal holandês.

Além disso, ressaltou que o sacerdote deve “julgar sabiamente se está diante de um caso de liberdade diminuída” e, “se for o caso, ele poderá realizar o funeral”.

Igreja e combate à eutanásia e suicídio assistido

Segundo o Purpurado, para combater a tendência pró-eutanásia, a Igreja deve “anunciar que Deus criou o ser humano à sua imagem em sua totalidade, alma e corpo”.

“A constituição do Concílio Vaticano II Gaudium et spes descreveu o ser humano como uma unidade de alma e corpo. Isso significa que o corpo é uma dimensão essencial do ser humano e faz parte de seu valor intrínseco. Portanto, não é lícito sacrificar a vida humana para acabar com a dor “, acrescentou.

Solidão, cuidados paliativos, espiritualidade, fé vivida

O Cardeal disse em sua entrevista que os cuidados paliativos são uma resposta positiva e a Igreja recomenda frequentemente solicitá-los, enquanto “existem muitos grupos cristãos ou religiosos que os fornecem em centros especializados”.

O Purpurado ainda disse que, para combater a tendência pró-eutanásia do Ocidente, a Igreja “deve fazer algo contra a solidão”.

“As paróquias costumam acolher comunidades onde as pessoas têm vínculos sociais e cuidam umas das outras.
Na sociedade contemporânea hiperindividualista, os seres humanos geralmente estão sozinhos. Há uma grande solidão em nossa sociedade ocidental”, destacou.

A Igreja “incentiva a formação de comunidades para não deixar as pessoas sozinhas. Uma pessoa que vive em solidão, sem a atenção e o cuidado dos demais, é menos capaz de suportar a dor”, disse.

Finalmente, o Cardeal Eijk acrescentou que a Igreja “anuncia uma espiritualidade cristã e uma fé vivida. Isso implica que também pode se unir ao Cristo sofredor e suportar a dor com ele. Então, nunca estamos sozinhos”. (JSG)

 

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