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Jesus institui o Sacramento da Reconciliação

Redação (Quarta-feira, 08-01-2020, Gaudium Press) O Sinédrio lançara contra os Apóstolos a terrível acusação de que haviam violado o Santo Sepulcro para roubar o Corpo de Nosso Senhor. Isso era considerado uma das mais criminosas ações, à qual eram infligidas pesadas penas.

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Estende a tua mão e coloca-a no meu lado…
E não sejas incrédulo, mas fiel.
Foto Arautos do Evangelho

As portas do Cenáculo estavam fechadas

Ao anoitecer do domingo, os Apóstolos estavam reunidos no Cenáculo e, por medo dos judeus, mantinham as portas fechadas.
De repente, “Jesus entrou e, pondo-Se no meio deles, disse: ‘A paz esteja convosco.’

Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.

“Novamente, Jesus disse: ‘A paz esteja convosco. Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio’.

E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse:

‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos.’

“Tomé, chamado Dídimo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe depois: ‘Vimos o Senhor!’

Mas Tomé disse-lhes: ‘Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei.’

“Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-Se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco.’

“Depois disse a Tomé: ‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel.’

Tomé respondeu: ‘Meu Senhor e meu Deus!’ Jesus lhe disse: ‘Acreditaste, por que Me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!'” (Jo 20, 19-29).

Jesus fez sobre os Apóstolos uma espécie de exorcismo

Embora as portas do Cenáculo estivessem fechadas, Nosso Senhor entrou porque após a Ressurreição seu Corpo era glorioso. De fato, ensina a Teologia que uma das propriedades dos corpos gloriosos é a sutileza, pela qual são capazes de atravessar outros corpos sempre que o queiram.

Transcrevemos a seguir alguns comentários feitos por Monsenhor João Clá.

E, pondo-Se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19b).

“Em Nosso Senhor tudo tem peso, conta e medida. Não devemos, portanto, compreender tais palavras como sendo uma mera saudação. Qual é o seu significado mais transcendente?

“Os Apóstolos, enquanto criaturas concebidas no pecado original, tinham más inclinações, tentações e problemas, e é bem provável que não desfrutassem naquele momento da paz de alma própria àqueles cuja consciência está em ordem, livre de escrúpulos ou perturbações.

“Sem dúvida, o demônio os agitava, especialmente a propósito da entrada de Jesus, incutindo-lhes receio e inquietação sobre sua situação espiritual. Pois, quem pode ter certeza absoluta de que se encontra em estado de graça? Ninguém!

“E para que aproveitassem ao máximo aquele convívio, o Divino Mestre fez sobre eles uma espécie de exorcismo ao lhes desejar a paz, introduzindo o equilíbrio na alma de cada um e serenando as paixões.”

O mundo seria um inferno se não houvesse o Sacramento da Penitência

Jesus soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20, 22-23).

Nesse momento, o Redentor instituiu o Sacramento da Reconciliação.

Soprando sobre eles, Nosso Senhor “quis simbolizar com um ato humano o que expressou com as palavras ‘recebei o Espírito Santo’, a fim de, estimulados na sensibilidade, melhor compreenderem o que se passava naquele momento: uma verdadeira efusão do Paráclito, embora ainda não em plenitude e com a solenidade que se verificaria mais tarde, em Pentecostes, pois só então lhes seriam infundidos todos os seus dons. […]

“De fato, sem a assistência do Espírito Santo não é possível exercer missão tão elevada, pois o confessor deve tratar cada alma tal como Jesus o faria, sabendo discernir as disposições do penitente, dar-lhe o conselho adequado e estimulá-lo ao sincero arrependimento de suas faltas.”

Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira:
O mundo seria um inferno se não houvesse o Sacramento da Penitência, “se nós não pudéssemos nos abrir sobre os nossos pecados, e não tivéssemos a certeza do perdão. Que horror seria a incerteza sobre se Deus nos perdoou ou não, se estamos ou não em estado de graça, etc.

“Que obra-prima de sabedoria existe no confessionário, e no fato de o segredo de confissão nunca ser traído!”

Tomé teve uma experiência mística

Continua Monsenhor João Clá:
O fato de Tomé ter declarado que, se não pusesse o dedo nas marcas dos pregos e a mão na abertura provocada pela lança, não acreditaria, mostra que ele “possuía um caráter obstinado, aferrado às suas ideias, que ninguém mudava; era um espírito positivo, quase cartesiano.”

No domingo seguinte, Jesus veio novamente ao Cenáculo. Tomé tocou em suas santas chagas e acreditou.

“E naquele momento Nosso Senhor Jesus Cristo, Criador da graça e em quem estão todas as graças, agiu em sua inteligência, infundindo-lhe uma Fé extraordinária que o levou a reconhecer a sua divindade.

“Ele teve uma experiência mística de que ali estava a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, a natureza divina unida à natureza humana, e de seus lábios brotou uma exclamação que era o máximo que ele poderia dizer, um verdadeiro ato de adoração: ‘Meu Senhor e meu Deus!’ Bastou tocar no Homem-Deus para alcançar a fidelidade que lhe faltava!

“Há ainda nesta passagem outro aspecto que merece nossa atenção: tudo isto aconteceu depois de São Tomé receber a paz de Nosso Senhor. Do contrário, embora ele pusesse a mão na chaga de nada aproveitaria, porque é na paz que a Fé, a esperança, a caridade – enfim, todas as virtudes – se desenvolvem.”

Através de São Tomé, peçamos a Nossa Senhora a graça da compenetração de que receber a Sagrada Eucaristia é um dom muitíssimo maior do que tocar nas chagas do Redentor.

 

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História Sagrada” – 221)

 

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1 – Cf. GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. L’éternelle vie et la profondeur de l’âme. Paris: Desclée de Brouwer, 1953, p.333.

2 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. I, p. 285.286.289.

3 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Perfeições da Virgem-Mãe, belezas da Igreja. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano IV, n. 42 (setembro 2001), p. 19.

4 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lume

 

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