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Artigo: Será que vemos do lado certo?

Quem, em noites especialmente belas, nunca saiu a uma janela, a uma varanda, ou até mesmo ao campo para admirar os feéricos encantos do firmamento, deslumbrante nem tanto pelo brilho de uma ou outra estrela, mas pelo grandioso espetáculo de seu conjunto?

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Ora, vendo este imenso corpo estelar, uma pessoa de feitio demasiado ordenativo poderia pensar: “Mas, que desordem! Isso dá impressão de que Deus foi tomando as estrelas e lançando a mancheias no céu, sem nenhuma razão e sem obedecer a nenhum princípio. Para o meu gosto estes astros deveriam estar arranjados àla jardim de Versailles“.

Esta aparência de desordem, e a dificuldade ou talvez impossibilidade de haver ordem em todos estes astros, se torna ainda mais acentuada se considerarmos o que hoje a respeito deles se sabe, graças aos avanços da astronomia.

Analisemos alguns dados a este respeito: Só a nossa galáxia, a Via Láctea, contém aproximadamente 1011 estrelas, ou seja, “1” seguido de onze zeros. Já o universo visível, aquele cuja luz chegou à Terra, possui aproximadamente 1012 galáxias. O que soma um número aproximado de 1023 estrelas. Mas, a olho nu, só podemos ver umas 3 mil delas.

Assim sendo, se cada homem, desde Adão até o último que acabou de nascer, tivesse que dispor uma única estrela, ainda restariam milhares para ordenar. No entanto, o Sol considerado uma estrela pequena tem uma massa 300 mil vezes superior a da Terra, e algumas estrelas consideradas gigantes são 100 vezes maiores do que o Sol. Deste modo, se toda a humanidade unisse forças no intento de mover a menor das estrelas, não atingiria resultado positivo. Para se ter uma noção de distância, considerada a Terra com o tamanho da cabeça de um alfinete (1mm) o Sol teria o tamanho de um prato (10 cm) e a Via Láctea teria extensão 500 vezes maior do que a distância entre a Terra e a Lua, desta forma, mesmo que um homem fosse capaz de mover uma estrela para dispô-la em certo lugar no universo, quantos milhares de anos não seriam necessários para percorrer só a mais próxima das galáxias?

Contudo, isso que ao homem é impossível, para Deus é perfeitamente possível. E mais ainda, para Ele impossível seria criar algo desordenado, pois a desordem é contrária a Ele, a Suma Ordem. Por isso, se vemos no firmamento algum desarranjo, antes devemos procurar sua causa numa deficiência nossa.

Assim sendo, nós podemos pôr o seguinte problema: Será que vemos do “lado certo”? Será que as estrelas não foram criadas por Deus e dispostas no universo para serem vistas de cima, do Céu, através dos “olhos” de Deus? Quem sabe se de lá não se pode verificar uma harmonia exímia entre estes astros que talvez componham figuras magníficas?

Esta impressão de desordem que pode ter quem contempla o firmamento parece análoga à que teria alguém que visse um belíssimo tapete persa, porém, do lado debaixo. E nele não notasse mais que um emaranhado de fios de cores diversas e até muito bonitas, mas nos quais, só com muita dificuldade se pudesse vislumbrar algo das delicadas, atraentes e sugestivas formas claramente perceptíveis do outro lado do tapete.

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Tal hipótese me pareceu tão bonita, que bem poderia ser verdadeira, mas como comprová-la?
Só mesmo se a Misericórdia Divina nos concedesse a graça de, ainda que por alguns instantes, sermos levados ao Céu para admirar os esplendores transbordantes de ordem e sabedoria, que Deus pôs no firmamento. Mas, lá sim vistos do “lado certo”.

No entanto, os que para lá vão não costumam voltar para narrar as maravilhas que viram. Por isso, não poderemos por agora confirmar e nem negar essa hipótese. No entanto, podemos ao menos dela aurir um valioso princípio.

Será que muitas realidades de nossa vida não vemos pelo avesso? Até mesmo certas coisas que nesta terra tanto nos encantam, será que as vemos do “lado certo”? As belezas contidas na natureza; ou o desenrolar, muitas vezes, misterioso e sempre grandioso da História; e sobretudo, os desígnios da Bondade divina para com os homens, será que de tudo isso não vemos senão os belos fios coloridos que compõem o reverso de um tapete, que, no entanto, em seu lado certo contém deslumbramentos inimagináveis à mente humana?

Podemos disto, sim, estar certos, pois a grandiosa ordem existente na Criação, os desígnios sapienciais e repletos de bondade que Deus tem para com todas as criaturas, só do alto podem ser vistos inteiramente e, portanto, do Céu, onde nos será dado participar da visão divina do Universo.

Se, pelos rogos de Maria Santíssima, Deus para lá nos conduzir, extasiados pela ordem, grandeza e sabedoria postas por Deus nas criaturas, unindo nossa voz à do salmista poderemos exclamar: Senhor, como são magníficas as vossas obras! E quão profundos os vossos desígnios! (Sl 91,6).

Renan Souza Freitas

 

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