Gaudium news > Artigo: “És toda bela, ó minha amada, e não tens um só defeito” (II parte)

Artigo: “És toda bela, ó minha amada, e não tens um só defeito” (II parte)

A proclamação do dogma.

 

Após longa espera chegou o momento propício para a confirmação do dogma. O Papa Pio IX, em 1849, enviou a todo o episcopado a Encíclica Ubi primum – depois do consentimento de teólogos e cardeais – pedindo o parecer individual a respeito deste privilégio de Maria. Ao todo foram consultados 603 bispos, dos quais 546 assentiram com a definição dogmática. Foi publicado, então, a 8 de dezembro de 1854, a Bula Ineffabilis Deus onde definia como dogma a Imaculada Conceição de Nossa Senhora:

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“Para a honra da santa e indivisa Trindade, para adorno e ornamento da Virgem Deípara, para exaltação da fé católica e incremento da religião cristã, com a autoridade do nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e nossa, declaramos, proclamamos e definimos: a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha da culpa original, é revelada por Deus e por isso deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis”.(1)

Divergência teológica

Uma vez definido este dogma, é razoável apontar a divergência encontrada para sua definição. A maior dificuldade encontrada pelos teólogos para definição do dogma da Imaculada Conceição consistia na aparente contradição entre este dogma e o Dogma da Redenção Universal, verdade edificada e confirmada pela morte de Cristo, que se encarnou, sofreu e morreu na cruz para salvação do gênero humano. Com sua morte, Cristo nos alcançou a abertura das portas do céu bem como o perdão de todos os pecados do gênero humano. Este tesouro se encontra em poder da Igreja, que pode restituir às almas a reconciliação com o próprio Criador, primeiro através do Batismo e posteriormente com a Confissão.

No entanto, ao afirmar que uma criatura humana não tem necessidade da redenção e que foi isenta da mácula deixada pelo pecado de Adão aos seus descendentes, se negaria o Pecado Original e a Redenção Universal de Cristo.
Diante deste paradoxo nascia uma controvérsia entre a crença na Imaculada Conceição de Maria e o Dogma da Redenção Universal, optando por uma verdade, automaticamente se negava a outra; e tendo o Dogma da Redenção já sido chancelado pela Igreja, criou-se um impasse que durante muitos séculos permaneceu abrigado nos corações dos fieis à procura de uma explicação.
Para elucidar mais facilmente o argumento da preservação de Maria, tomaremos as palavras de Fr. Royo Marín, sacerdote dominicano:

“De duas maneiras, com efeito, se pode redimir a um cativo: pagando o preço de seu resgate para tirá-lo do cativeiro em que já incorreu (redenção liberativa) ou pagando antecipadamente, impedindo com isto de ele cair no cativeiro (redenção preventiva). Esta última é uma verdadeira e própria redenção, mais autêntica e profunda todavia que a primeira, e esta é a que se aplicou à Santíssima Virgem Maria”.(2)

“Eu sou a Imaculada Conceição”

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Após quatro anos da proclamação dogmática, uma surpreendente aparição de Nossa Senhora a uma humilde pastora, chamada Bernadette, na gruta de Massabielle, nos arredores de Lourdes, veio a confirmar a decisão tomada pelo sucessor de São Pedro.

Naquele dia 25 de março de 1858, a jovem Bernadette via a mesma Virgem pela décima-sexta vez, e por duas vezes já tinha pedido para que Ela revelasse seu nome, mas não logrou nenhum resultado. Santa Bernadette Soubirous insistiu para saber como se chamava aquela Virgem envolta em luz: “a Aparição, que até então mantinha as mãos unidas, abriu os braços, inclinou-os tal como na Medalha Milagrosa, fazendo deslizar até o punho seu terço de alabastro e ouro. Em seguida, juntou novamente as mãos, aproximando-as de seu peito. Por fim, olhos postos no céu, ela revela seu segredo: Eu sou a Imaculada Conceição”.(3)

Desta forma, estava assegurada a verdade a respeito de Sua Imaculada Conceição, a qual durante séculos seus filhos cultivaram e que o Romano Pontífice proclamou como dogma de fé. Sua aparição em Lourdes é uma prova de Sua proteção e amparo a todos os fieis que professaram essa verdade com pureza de coração.

Marcelo Rezende

 

1 DENZIGER, Op. Cit. N. 2803.
2 Apud DIAS, João S. Clá. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. São Paulo: Artpress, 1997, p. 346.
3 Fr. H.-L. Maréchal, O. P. Mémorial des Apparitions de La Vierge Dans l’Église. Paris: Éditions du Cerf, 1957, pp. 105-106. Apud DIAS, Op. Cit., p. 332.

 

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