Artigo: Festa da Mãe de todas as igrejas do mundo

 

No dia 9 de novembro a Santa Igreja, em todo o orbe católico, comemora a Festa de dedicação da Arqui-basílica do Santíssimo Salvador e dos Santos João Batista e Evangelista, comumente chamada Basílica de São João de Latrão ou Lateranense.

Esse templo sagrado, histórico e imponente, é de grande significado para os fiéis de todo o mundo, pois é a mais importante das quatro basílicas papais, sede da diocese de Roma e Catedral do Papa, na qual está a Cathedra romana, o trono papal, símbolo de seu poder e infalibilidade.

Sua história se inicia por volta do ano 65. Nesta época, a área da atual basílica pertencia à nobre família dos Laterani. Segundo os anais de Tácito, Nero a teria confiscado de seu cônsul Plauzio Laterano, devido à conspiração que este moveu contra o imperador. Descoberta a conspiração, Plauzio foi morto e suas terras passaram a ser propriedade do Império.

Em 201 o imperador Sétimo Severo utilizou parte do terreno para construção de um edifício militar, onde pretendia abrigar os cavaleiros celtas que compunham sua guarda pessoal. Esta nova edificação levou o nome de “Nova Caserna dos Guardas Celtas”.

Neste mesmo período Sétimo Severo doou a outra parte do terreno para seu amigo e valoroso comandante Tito Sextio Laterano. Considera-se a possibilidade de que este fosse parente do conspirador Plauzio Laterano. Fato é que até a Idade Média as construções que lá se faziam levavam o nome de iuxta Lateranis (próximo ao Latrão).

O terreno com o tempo passou a pertencer a uma mulher chamada Fausta, que se acredita era segunda esposa de Constantino (280-337). Como dote ela deu ao imperador a casa chamada Domus Faustae e a Nova Caserna dos Guardas Celtas.

Antes da batalha de Ponte Milvia, o imperador Costantino teve o famoso sonho no qual via uma cruz e as palavras IN HOC SIGNO VINCES (com este sinal vencerás). Apressando-se em marcar o escudo de todos os seus soldados com uma cruz, obteve grande vitória.

Após este miraculoso triunfo, Constantino proclamou um edito (313) dando liberdade de culto ao Cristianismo, até então alvo de perseguição de muitos os imperadores. Tempos depois quis oferecer à Igreja um lugar para o exercício do culto católico. Escolheu a Caserna dos Cavaleiros Celtas, oferecendo-a ao Papa Melquiades a fim de que naquele terreno se edificasse uma igreja, a primeira do Ocidente.
Pouco tempo depois a basílica seria consagrada pelo Papa Silvestre I e dedicada ao Santíssimo Salvador.

Posteriormente, no IX século, Sérgio III a dedicou também a São João Batista, e no século XII Lúcio II acrescentou ao título o nome de São João Evangelista.

A Basílica Lateranense, até o século XIV, foi a sede do papado e residência papal durante toda a Idade Média. Neste período foi objeto de lamentáveis depredações por parte de visigodos e vândalos, mas também de significativas reformas e aperfeiçoamentos.

No ano 1309, por diversos motivos, Clemente V foi residir em Avinhão, onde os papas permaneceram até 1377, até que por fim Gregório XI pôde voltar a Roma. No entanto, durante este período Latrão ficou quase abandonado e suas lamentáveis condições fizeram com que o Papa, retornando a Roma, fosse viver no Vaticano.

Desde então a Basílica e suas dependências passaram por diversas restaurações e reconstruções de certas partes, alcançando o indescritível esplendor e grandeza que hoje nela se contemplam.

A Arqui-basílica do Santíssimo Salvador e dos Santos João Batista e Evangelista, acima de tudo, é um símbolo da unidade da Igreja e da Primazia do Bispo de Roma, como também uma prova da imortalidade da Igreja.

Com efeito, assim como “as torrentes deram contra a casa [a Igreja] e não a puderam abalar” (Lc 6, 48), do mesmo modo a basílica apesar de todas as tempestades não foi destruída, pelo contrário cresceu e povoou o mundo todo com suas filhas, as milhares de igrejas espalhadas pela terra, fazendo jus a seu glorioso título de Omnium Urbis et Orbis Ecclesiarum Mater et Caput, Mãe e Cabeça de todas as Igrejas da cidade (de Roma) e do Mundo.

É com a alegria de uma filha que celebra mais um ano da longa existência de sua bondosa, santa e querida Mãe, que as igrejas de todo o orbe devem comemorar a festa da dedicação da Basílica Lateranense.