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Artigo: E se o “Z” se revoltar?

 

A desigualdade é um bem ou um mal? Qual a raiz da desigualdade? Como seria uma sociedade onde todos os homens fossem iguais? Certo dia, estas e outras questões à maneira de uma avalanche começaram a assaltar e encher meu pensamento.

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E o se o Z se rebelar … / Foto: Eyþór Björnsson

Apesar de que nos mais diversos lugares eu tivesse ouvido grandes elogios à igualdade, a voz da razão parecia se erguer dentro de mim clamando contra este tão idolatrado conceito. De muitos modos tentava acalmar tal impulso. No entanto, todos os meus argumentos a seu favor não bastavam para sustentar minha crença no “dogma” da igualdade.

Tentava pensar em outra coisa, mas logo me vinham à mente as perguntas: você não percebe que não existe um homem igual ao outro? Não vê que todas as coisas são desiguais? Se Deus as criou deste modo pode a desigualdade ser um mal? Deus ao criar todas as coisas não viu que todas elas eram boas?1

Resolvi então ler algo, com esperança de distrair-me um pouco. Hélas, sem resultado…

E, por acaso, encontrei a notícia de que o governo espanhol estava estudando uma alteração da lei que dá ao sobrenome paterno a precedência em relação ao materno, no registro dos filhos.

Segundo o vice-presidente do Governo Alfredo Pérez Rubalcaba o modo atual em que a precedência é dada ao nome paterno “não é justa” e nem “igualitária”. Porém, ainda não encontrou a melhor forma e diz que a alfabética, a qual é prevista pelo projeto de lei para Registro Civil não parece a ideal.

Já não entendia mais nada. Pois, de fato se era “injusta” e “desigual” a forma atual de dar o nome aos filhos, também o vice-presidente do governo tinha razão em não achar boa a forma alfabética, a qual também é desigual e por tanto “injusta”. Pois, quem o “A” pensa que é para querer ser o primeiro? E o “Z” coitado, despre”Z”ado e posto em último lugar… o que aconteceria se ele resolvesse se revoltar e exigir a igualdade? Como acabar com essa “injustiça” de modo a fazer um alfabeto igualitário? Já sei! É preciso fazer um alfabeto com letras iguais… portanto, com uma só letra. Impossível!

Depois disso, parecia que estava perdendo o juízo, tinha a impressão de que todo um edifício de raciocínio parecia ter ficado sem fundamento e pronto a desabar. Já desiludido, resolvi estudar o assunto para depois poder partilhar minhas reflexões com alguns leitores. Quem sabe se assim a igualdade ainda podia ser salva?

Resolvi então aplicar a experiência do alfabeto a outras realidades. Começando pelos minerais. Por que algumas pedras são preciosas e outras não passam de vis pedregulhos, algumas são grandes e outras pequenas? É preciso estabelecer a igualdade! Resultado, tudo seria reduzido a uma única pedra. Tentei então com as plantas. Algumas davam flores outras davam frutos, umas “gostavam” de sol outras “preferiam” sombra, era preciso acabar com tanta desigualdade! Conclusão, só restou uma plantinha solitária. O mesmo se deu com os animais e com os homens. Até que tudo se resumiu num só ser.

Que seria Deus, pois a unidade cabe a Ele mais do que a qualquer criatura2 e a igualdade verdadeira só se aplica a Ele3. Portanto procurar atribuir a igualdade às criaturas é pretender torná-las como Deus. É o que desde a criação do mundo o demônio tem prometido aos homens sem nunca ter cumprido4.

Concluí que era impossível haver a multiplicidade de criaturas que encontramos no universo se não existisse desigualdade entre elas. Mas, se há desigualdade é preciso haver hierarquia, assim como no alfabeto o “A” é a primeira letra o “B” segunda e assim por diante. Assim também, para que houvesse ordem entre as criaturas Deus tinha que estabelecer uma hierarquia.

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Não há uma flor igual a outra/ Foto: Claudio Mufarrege

O mesmo deve-se aplicar em relação à questão dos sobrenomes, para que se tenha ordem é preciso estabelecer uma hierarquia. Ou seja, um precisa ser primeiro e outro, último. Será isso mais grave do que o fato da letra “A” ser a primeira do alfabeto e o “Z” a última?

Sempre ouvi dizer: “Primeiro as damas, depois os cavalheiros”. Mas por outro lado, num cortejo formado por pessoas sagradas (clérigos) o mais importante sempre vem no final. Esta regra não se pode aplicar também aos pais, os quais de certa forma tem um papel sagrado na família?

São tantos e tão diversos os possíveis princípios a serem adotados a fim de definir a precedência dos sobrenomes, que em cada país o costume é diferente.

Mas, se de fato alguém fizer questão de ter a precedência considere o seguinte: Certa feita “Os apóstolos estavam discutindo entre si qual deles deveria ser o maior. Sentando-se, Jesus chamou-os e disse-lhes: Se alguém quer ser o primeiro, seja o último e o servo de todos” 5.

Aí esta o método! Foi por tê-lo praticado perfeita e plenamente que Maria Santíssima mereceu ser chamada Rainha dos homens. Se quisermos ser os primeiros imitemo-la.

Renan Souza Freitas

 

1 Cf (Gn 1,31)

2 Cf. S.Th q.11, a.4

3 Cf. S.Th q.47, a. 2

4 Cf(Gn 3, 5)

5 (Mc 9,35)

 

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