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Artigo: Sofia e Edi

 

Eles apareceram de repente. Estávamos perto da estrada de ferro que levava à antiga Transvaal, na cidade de Maputo. Tarde ensolarada e cheia de luz como frequentemente são as da capital moçambicana.

Eu acompanhava um missionário Arauto que mora na cidade. Fomos levar as nossas roupas para lavar, numa senhora que presta esse serviço já há algum tempo.

Nosso carro parou junto a uma casa, ao lado da linha férrea. Muita gente caminhava, por ali, bordejando aqueles trilhos: trazendo objetos na cabeça ou nas mãos, com roupas coloridas, olhos vivos e alegres. Era fim do dia.

Fim, muitas vezes nos lembra decadência, tristeza, decomposição. Lá não! Havia qualquer coisa de esperança, de futuro dentro daquele panorama onde a luz fugia e ao mesmo tempo brilhava. Sobretudo isso se acentuou quando vi os dois pequenos interlocutores: Sofia e Edi.

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Pôr do sol em Maputo, Moçambique

Enquanto meu companheiro entrou na casa para deixar o material, fiquei sozinho na carrinha – expressão portuguesa que designa uma perua que utilizamos para o nosso apostolado. Já velha, branca, com o adesivo de nosso escudo de um e de outro lado de ambas as portas da frente.

As duas crianças chegaram sem fazer barulho e sorriam sempre. A princípio um pouco tímidas e depois falantes, abertas e simpáticas: características do povo moçambicano. Estavam encantadas com o escudo da Virgem Maria. Passavam suas pequenas mãos sobre ele e me olhavam com curiosidade.

– Qual é seu nome? Indaguei.
– Numa voz cantante: Sofia! A menina era só sorriso, olhos grandes, pequenas tranças caiam de sua cabeça adornada por minúsculas flores, de cor branca.
– E o seu? Ao menino.
– Edi. Apesar de ser mais novo, era mais forte e também vivo e inteligente.
– Quantos anos têm?

Sofia fez um gesto com os dedos da mão direita, mostrando cinco pequenos dedos. O menino errou primeiro, e depois resoluto fez sinal que eram quatro.

Perguntei-lhes sobre a religião: quem era Maria, se já sabiam fazer o sinal da cruz, onde moravam. Eles muito prestativos respondiam, com alegria, com sorriso franco.

Nosso diálogo foi breve, pois o motorista havia chegado e partimos. Ficou-me na lembrança as mãos dos pequenos que se agitavam no ar e a pureza feliz daquelas almas, que se alegraram com tão pouca coisa: algumas palavras e um pouco de afeto.

O carro tomou a direção de nossa casa, no bairro de Nhencobe, e os dois pequenos me traziam uma indagação: por que tanta alegria?

A resposta saltou mais que evidente: “O cristão segue o Senhor quando aceita com amor a sua cruz”. A alegria que não passa, só Deus pode conceder. O sucesso social e o bem estar não bastam. Mas é o misterioso caminho da cruz, que proporciona a verdadeira felicidade.

Isso explica, apesar de tantas dificuldades e carências materiais em que meus pequenos protagonistas estavam inseridos, a felicidade que viviam.

Traziam em seus pequenos corações a chama da fé, da inocência, do amor à cruz sem saber explicá-lo por causa de suas tenras idades, mas eram felizes. Irradiavam felicidade, naquela tarde luminosa…

Lucas Miguel Lihue

 

 

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