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A Direção Espiritual

Rio de Janeiro (Quarta-feira, 12-06-2013, Gaudium Press) – Dom Orani João Tempesta, Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, propôs a seus arquidiocesanos considerações oportunas a propósito do tema, hoje em dia pouco tratado, da “direção espiritual”. Reproduzimos na integra as considerações feitas por Dom Orani:

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“Além da celebração penitencial, a que somos chamados a participar sempre, ou seja, a confissão frequente (o Papa nos pede que a confissão seja uma atitude quase que cotidiana, de uma amizade especial para com Deus, de deixar de lado o pecado), também é considerável reviver a figura do diretor espiritual. Ele é muito importante na nossa caminhada de cristãos. Todos nós deveríamos procurar um Diretor Espiritual e com ele mantermos um contato frequente, que nos ajude no caminho da vida cristã.

O Magistério Pontifício vem, ultimamente, chamando a atenção sobre o tema da direção espiritual pessoal. Ao longo de vários decênios, como sabemos, esta tem sido uma prática um tanto descuidada. Às vezes, em algumas comunidades, a direção espiritual tem-se limitado quase que exclusivamente à orientação coletiva, por meio de palestras, meditações e retiros etc., coisa louvável, mas insuficiente. Vê-se claramente que está havendo, agora, o desejo de que seja resgatada a prática da direção espiritual no sentido clássico de orientação individual, pessoal.

A Exortação Apostólica Pastores dabo vobis (25/3/1992), ao tratar da pastoral vocacional, enuncia um programa que é válido para todos: “É preciso redescobrir a grande tradição do acompanhamento espiritual pessoal, que sempre deu tantos e tão preciosos frutos na vida da Igreja” (n. 40).

O Diretório para o ministério e a vida do presbítero, da Congregação para o Clero (31/1/1994), afirma: “Paralelamente ao Sacramento da Reconciliação, o presbítero não deixará de exercer o ministério da direção espiritual. A descoberta e a difusão desta prática em momentos diversos da administração da Penitência é um grande benefício para a Igreja no tempo presente» (n. 54). Nesse sentido, o presbítero, além de ter um diretor espiritual, também deve exercer essa missão junto ao seu povo.

A direção espiritual deve consistir, principalmente, em orientar e ajudar o dirigido a alimentar e aumentar a vida da graça, a cultivar as virtudes (teologais e morais ou humanas) e a buscar uma purificação e união com Deus cada vez maior, de modo a se tornar capaz de secundar com delicadeza as moções do Espírito Santo, que não cessa de impelir para uma vida santa por meio dos seus dons.
“Os cristãos de qualquer estado ou ordem são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG n. 40).

O Beato João Paulo II, ao propor o “programa pastoral” da Igreja para o novo milênio, quis destacar, com uma ênfase toda especial, essa “chamada universal à santidade”, salientando dois”princípios” que jamais se podem perder de vista, quer na luta pessoal, quer na direção de almas:
1) “O horizonte para o qual deve tender todo o caminho pastoral é a santidade” (NMI n. 30);
2) “Não se trata de inventar um “programa novo”. O programa já existe: é o mesmo de sempre, expresso no Evangelho e na Tradição viva. Concentra-se, em última análise, no próprio Cristo, que temos de conhecer, amar e imitar” (Ibid., n. 29).

O diretor espiritual deve ser, antes de qualquer outra coisa, um homem de Deus. Desta forma, então, deve conhecer os caminhos que a Ele conduzem e deve, igualmente, ensiná-los a quem recorre à sua experiência, à sua sabedoria e comprovada prudência para percorrê-los, acompanhado por um guia seguro, sem se enganar e sem deixar-se enganar.

O Servo de Deus, o Papa Paulo VI, afirmou, falando da evangelização: “Seria certamente um erro impor qualquer coisa à consciência dos nossos irmãos. Mas propor a essa consciência a verdade evangélica e a salvação em Jesus Cristo, com absoluta clareza e com todo o respeito pelas opções livres que essa consciência fará, e isso, sem pressões coercitivas, sem persuasões desonestas e sem aliciá-la com estímulos menos retos, longe de ser um atentado à liberdade religiosa, é uma homenagem a essa liberdade, à qual é proporcionado o escolher uma via que mesmo os não-crentes reputam nobre e exaltante”. (EN n. 80).
Esse respeito para com as pessoas a serem evangelizadas também faz parte do respeito àqueles que são os atendidos na direção espiritual.

Desejo, pois, que, em nossa Arquidiocese, não só os clérigos, mas, sobretudo, os jovens e leigos, procurem a prática da direção espiritual com nossos presbíteros, para que possam experimentar a riqueza do crescimento espiritual e sejam mestres da santidade, no caminho contínuo da conversão e mudança de vida!

Que a aproximação da JMJ e o reavivamento da vida cristã levem todos a aproximar-se ainda mais dessa prática da Igreja, tão importante para a vida das pessoas.”

Dom Orani Tempesta

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