Fogo do amor ou crisol da dor: meios sem os quais não há salvação

Redação (Terça-feira, 25-06-2013, Gaudium Press) – Nada há de verdadeiramente útil na Terra que não tenha sido sublimado por Nosso Senhor Jesus Cristo. Sendo os quatro elementos, – a terra, o ar, a água e o fogo – os meios mais indispensáveis para a sobrevivência humana, convinha que Cristo deles fizesse o uso perfeito a fim de santificá-los para sempre. […] “fez um pouco de lodo com a saliva e com o lodo ungiu os olhos do cego”. (Jo 9,6) Foi do barro da terra, que o Divino Mestre curou a vista do cego de nascença. Se formos ainda considerar o uso que Nosso Senhor fez do ar, é realmente arrebatador pensar que por aquelas sagradas narinas tenha circulado o ar desta Terra. O que dizer então da água, elemento continuamente utilizado pelo Divino Salvador? Seja ao acalmar uma tempestade, seja ao andar sobre as águas, ou no momento de ser batizado por São João Batista, não é verdade que Ele santificou as águas todas do Universo? Porém, apenas em um momento consta que Nosso Senhor tenha feito o uso físico do fogo no episódio após a ressurreição, onde, à beira-mar aguardava, com pão e um peixe em cima de brasas , os apóstolos que voltavam da pesca. Terá sido somente por este fato que Nosso Senhor santificou este elemento?

Basta observar outras referências feitas ao fogo para ver como Cristo quis dar-lhe o mais alto significado: o espiritual: “Eu vim lançar fogo à Terra, e quero senão que ele arda?” (c.f. Lc 12,49) De fato, aquele Sagrado Coração de Jesus crepitava com as chamas do amor divino, desejando comunicá-las aos homens. Daí podemos concluir: Se Deus é Amor, Nosso Senhor é também fogo. Por que fogo? “Porque o Senhor vosso Deus é um fogo devorador”. (Deut. 4, 24) Ele veio para afugentar as trevas do pecado e da morte, iluminar as consciências, acalentar e inflamar os corações no fogo do amor e, enfim, destruir o mal com o furor de Sua santa cólera.

Quis Nosso Senhor, assim, dar mostras de que, sem ter um coração ardente como um braseiro, não se conquista a vida eterna. Por este motivo apontava o precursor: “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”. (Lc 3, 16). Após admoestar os seus a respeito dos terrores do inferno, Cristo condiciona o homem à necessidade de ser tomado pelo fogo ao dizer: “todo homem será salgado pelo fogo”. (Mc 9, 49) Sob qual prisma devemos conceber esta afirmação? Certamente não seria uma alusão ao fogo do inferno, posto que não são todos os homens que se condenam. Tampouco se aplica às chamas purificadoras do purgatório, uma vez que nem todas as almas terão de passar por ele. O que quer dizer, então ser “salgado pelo fogo”?

“É pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da provação”. (Cf. Eclo 2,5) Aos seus amados, Deus reserva o cálice da dor para que dele sorvendo sejam-lhes purificadas as insuficiências. Conforme disse Santa Teresinha: “O fogo do amor é mais santificante do que o do purgatório”. Perseverará quem souber amar incessantemente nos longos anos de demora e aparentes derrotas.

Irmã Maria Cecília Lins Brandão Veas, EP