Gaudium news > A refeição em família: o melhor meio de comunicação

A refeição em família: o melhor meio de comunicação

Redação (Quarta-feira, 26-03-2014, Gaudium Press) Tratemos da atualidade. Imaginemos uma cena comum da vida de hoje: um apartamento com uma sala de jantar -ou algo que se assemelhe- para quatro pessoas. A família que vive ali está jantando, mas aquela sala de jantar não passa de adorno. Onde eles estão? Por seu lado, o pai de família, com o prato na cama, está vendo o último jogo de futebol de seu time favorito, “a ponto de ganhar o campeonato”. A dona da casa está conversando com algumas amigas. E as crianças? Um está muito entretido com os seus jogos de videogame e, claro, não come tudo o que tem em seu prato. O outro -ou a outra- está tomado pelo iPhone desde que chegou em casa. Enfim, todos parecem bastante ocupados, mas nem por isso vão deixar de comer, não é?

refeicao_em_familia.jpg

Talvez alguém esteja pensando: “que importância tem tudo isso? Afinal, é algo que já faz parte da nossa vida diária”. E de fato, essa cena é muito comum hoje em dia. É o que diz um estudo conduzido por Birmingham Food Fest, publicado pelo jornal britânico Daily Mail. A pesquisa mostra como são cada vez mais escassas as refeições em família, e quando elas existem, os objetos eletrônicos tem presença marcante, se não indispensável. Em que refeição não há alguém usando o telefone para fazer uma ligação, verificar o e-mail, ou talvez para conversar? Outros, menos discretos, levam o seu laptop para a sala de jantar. As crianças se contentam com os videogames, e aos jovens não podem faltar o seu iPhone. Por que não referir-se a influência da televisão? Ela já tem 40 anos, e hoje é um pouco antiquada em comparação com os dispositivos eletrônicos modernos cuja presença é cada vez mais evidente. Assim, a família esteja ou não esteja reunida, há sempre algum “amigo” eletrônico fazendo companhia, ou pelo menos fingindo.

Se os dispositivos eletrônicos são bons ou não, é uma questão de resposta fácil, pois como se costuma dizer “depende de para o que é usado”. Portanto, não é este o principal problema e nossa atenção caminha em direção a outras questões analisadas. Comecemos pelas evidências.

No que diz respeito às crises sociais que se apresentam cada vez mais, muitas pessoas as sintetizam como um problema cuja raiz é a ausência de diálogo, os problemas de comunicação. Vale ressaltar que sendo a família a “célula mãe da sociedade” não é possível que existam estas crises se em primeiro lugar não se efetuem no âmbito familiar. Logo, a falta de comunicação não tem outra origem que não seja o lar. Mas de quem depende isso? A resposta é óbvia para todos quando se trata de seres humanos, quer dizer, seres pensantes e com capacidade de expressar-se através da linguagem.

A conversa, falar uns com os outros, expressar as ideias por meio das palavras; é uma maneira primordial de comunicação, e é aquela que talvez tenha sido mais negligenciada. O uso excessivo dos dispositivos eletrônicos não é mais do que uma desculpa para esse problema, não passam de uma fuga para a necessidade natural de relacionar-se com os outros, especialmente ter que conversar. Consequência, as pessoas se fecham em si mesmas, tornam-se egoístas, antipáticas a qualquer tipo de adversidade ou contratempo, perdem a paciência facilmente, perdoam dificilmente, e esquecem que fazem parte de uma família. Não é difícil que a nível familiar esta situação faça com que apareçam mal-entendidos, desunião, etc.

É incrível tudo o que pode acontecer quando você deixa de fazer algo tão simples como conversar. E o que tudo isso tem a ver com comer à mesa? Se não fizemos essa pergunta antes, é hora de fazê-la.

Há um ditado popular que diz: “família que reza unida permanece unida”; poderíamos também dizer que “a família que come unida permanece unida”, pois sendo o momento doméstico por excelência, a refeição em família é quando todos os seus membros se reúnem de forma mais natural, honesta e íntima. Mas surge outro problema. Para que esse ditado aqui formulado seja realidade, é necessário indicar qual é o fim deste ato familiar; ou é o alimento, ou é o desejo de convivência com os entes queridos. Que melhor modo de conviver que a conversa, é ali o momento oportuno para compartilhar aquilo que se pensa, se crê e se ama. É o lugar onde se encontram o apoio e descanso necessário para a vida. É o tempo para mostrar aos outros quem são verdadeiramente.

Desta forma, poderíamos enumerar muitíssimas outras características da conversa, sem contar com os benefícios e privilégios concedidos por aquelas pessoas que habitualmente a praticam, ainda que em brevíssimas palavras podemos como o oposto das consequências dos conflitos familiares. Quantas e quantas famílias teriam uma situação diferente se se reunissem à mesa, independentemente do alimento que nela houver, se se interessassem mais pelos seus, deixando um tanto de lado a sua própria pessoa e sua natural propensão para comer! Quantas outras que já dissolvidas ou em forte conflito haveriam arranjado o seu desconforto desta forma! É um tema que nos ajudará a refletir por muito tempo, até o dia em que a família se veja tão degradada mundialmente que já não possa se falar propriamente de família, ou seja, quando as crises da nossa sociedade estejam solucionando-se notavelmente. Tanto por um lado como por outro, as refeições familiares encaradas com uma benéfica conversa, serão sempre um ponto crucial na formação da sociedade.

Por Jonathan Caldas

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas