Gaudium news > Guerra não mundial, mas pessoal

Guerra não mundial, mas pessoal

Redação (Sexta-feira, 18-04-2014, Gaudium Press) Não pense o leitor que se trata dos episódios que estamos vivendo atualmente em diversos lugares do mundo. Não se trata de uma guerra nuclear. Não é uma guerra de tanques, aviões, navios, bombas, mísseis, nem de soldados fortemente armados. No entanto, é realmente uma guerra, inclusive mais violenta do que as que conhecemos. Mas antes de falar propriamente sobre isso, vejamos um fato que nos importa a todos.

Em uma noite escura, onde as trevas invadiam todos as paragens daquele povo, impregnando-os de ódio infernal e sede de uma sobressaltada ânsia de sangue, um homem levava ao auge uma obra tão grandiosa e importante que marcaria a história para sempre.

Ele saiu e, como de costume, foi ao Monte das Oliveiras. Os discípulos lhe seguiram. Então Jesus foi com eles a um lugar chamado Getsêmani, e disse aos discípulos: “Sentem-se aqui, enquanto eu vou ali orar”. Tomou consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, e começou a sentir tristeza e angústia. Em seguida, lhes disse: “Minha alma está triste a ponto de morrer; ficai aqui e vigiai comigo”. Ele se adiantou um pouco, caiu com o rosto em terra e suplicou: “Pai, se quiseres, aparte de mim este cálice; mas não se faça a minha vontade, mas a tua”. Então lhe apareceu um anjo vindo do céu que lhe confortou. E, posto em agonia, insistia mais em sua oração. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caiam no chão.

Agonia… mas o que você quer dizer com a palavra agonia? De alguma maneira, é semelhante ao de uma pessoa que está morrendo, apesar de sabermos que não é nesse momento que Nosso Senhor iria morrer. Então, nos voltamos para um outro ponto de vista desta agonia. Tomando boa parte das palavras do Professor Plinio Corrêa de Oliveira, em uma de suas conferências , é interessante ressaltar que a palavra “agonia”, em grego, significa “luta”. Mas será que poderíamos aplicar esse sentido a Agonia do Messias? Realmente não é uma luta aquela que viveu Nosso Senhor naquele momento? Será que não existem outras lutas além das corporais? Prossigamos a responder essas perguntas.

No momento em que Jesus Cristo iria começar sua oração Lhe invadiu um medo terrível; Judas O traía, os apóstolos dormiam e, por assim dizer, O abandonavam em um dos momentos mais trágicos de Sua vida. O povo Judeu, tomado por um ódio diabólico, O perseguia, e assim, Nosso Senhor sabia perfeitamente que se aproximava o início de Sua paixão, o início dos sofrimentos levados a um extremo nunca visto, e vendo isso sentia tristeza e angústia porque Ele media todos os sofrimentos físicos e mentais que teria sobre no transcurso da Paixão; inumeráveis… Se desatava uma batalha mais difícil e violenta que a que se dá entre dois exércitos.

Era a luta contra si mesmo da qual o episódio da Agonia não é só o começo. Se perdesse desde o início, se não tivesse se resignado à vontade do Pai, se ele apenas tivesse dito “não quero”, o que é totalmente absurdo, bastaria para não ter sofrido tudo o que veio depois. Mas não foi assim. Ele queria entregar todo o seu ser para uma causa, uma das mais sublimes e santas que se pode conceber. Qual? A Redenção do gênero humano, sem a qual nunca seria possível que alguém entrasse no Céu. Se Ele tivesse deixado se levar por aquela angústia que o assaltava, todos os homens estariam no triste estado de nunca ver a Deus.

O Verbo feito carne em sua inefável perfeição venceu completamente tudo aquilo que lhe impedia de cumprir sua missão Divina e quais eram estes obstáculos? A tristeza e a angústia que foram mencionados eram apenas uma reação natural do seu corpo ao pensamento de terríveis tormentos. Vários teólogos, místicos e santos, afirmam que durante a Agonia, Nosso Senhor viu passar diante de si todos os homens que existiram até esse momento, que existiam e aqueles que existiriam até o fim do mundo. Viu -dizem- todos os atos, pensamentos, desejos, intenções, e enfim, tudo o que pode suceder em um homem e, portanto, todos os pecados, crimes e ofensas que contra Deus se cometeriam ao longo da história, ou seja, tudo aquilo que a humanidade o ofendeu e ofenderia.

Imagine ter que sofrer por uma humanidade ingrata que o amor expresso em seu sangue plenamente derramado, com blasfêmias, ódio e desprezo. E é por isso que esta guerra, batalha, combate -ou como queiram chamar-lhe-nos inclui a todos. “Todos?” Sim! Todos: os homens, mulheres, idosos e crianças do mundo inteiro. Nós também estávamos presentes na Agonia de Jesus Cristo com os nossos pecados, e assim como Ele venceu a batalha nós o faremos?

É a batalha da vida, ou melhor, é a guerra pela eternidade. Alguém pode perguntar:

– “Quem é o inimigo?”

– Nós mesmos.

– “Qual é o campo de batalha?”

– A batalha se dá em nosso interior.

– “Quanto tempo vai durar?”

– Essa é a luta da vida, não para sobreviver a esta vida terrena, mas para obter a eterna; desde que nascemos morrermos.

– “E o diabo não tem nada a ver?”

– Sim, e muito, ainda que não seja o adversário principal.

– “Mas como eu posso ser meu pior inimigo?”

– Podemos ter certeza de uma coisa: não há inimigo mais terrível para a nossa salvação eterna do que o orgulho.

O orgulho, a soberba, o amor próprio, a auto-estima exagerada de si, o egoísmo. Nada mais que nomenclaturas da mesma coisa. Quanto sofre a humanidade por esse problema, e muitas vezes sem dar-se conta. Quão violenta é essa guerra em que o homem deve constantemente reprimir a sua perversa tendência a sobrepor-se aos demais, a não permitir-se humilhações por mais justa que sejam, a desejar ardentemente sua realização pessoal puramente egoísta, onde tudo gira ao redor de si. O único sentido que teria o mundo seria favorecer ao “eu” de cada um, já que tudo existe para tal “eu”. É difícil acreditar que alguém possa pensar assim, mas não são poucos os que pensam assim, e nem menos aqueles que estão próximos desse grau de soberba. É das coisas mais comuns no ser humano, e é um combate que é, sobretudo, interior. Muito mais duro que lutar contra um exército de homens, é lutar contra si mesmo.

O que fazer? Meditemos a Agonia de Nosso Senhor Jesus Cristo no Horto das Oliveiras, nestes dias santos que estamos vivendo, para que possamos entender como conseguirá, cada um de nós, obter a vitória na batalha pela vida eterna. É aí onde veremos qual é a solução para problema tão complicado e cheio de ramificações que vão tomando silenciosamente a alma de cada um até já não distinguir entre a ideia que temos de nós mesmos, e o que realmente somos.

Finalmente , como já sabemos de que a guerra se trata e já está declarada, temos apenas duas opções: ser derrotados pela nossa fragilidade e miséria humana que nos enche de mentirosas ilusões, ou lutar vigorosamente até colocar o orgulho sob os nossos pés. Mas para vencer devemos seguir o sagrado exemplo de Nosso Senhor: “…posto de joelhos orava “Pai, se quiseres, aparta de mim este cálice; mas não se faça a minha vontade, mas a tua”.

Por Jonathan Caldas

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas