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As orações e lágrimas que Deus não resistiu

Redação – (Quarta-feira, 27-08-2014, Gaudium Press) -No dia de hoje a Igreja comemora a festa de uma grande católica: Santa Mônica. Dela é que se pode dizer que Deus não resistiu as lágrimas.lagrimas-de-mae.jpg

Ela nasceu de uma família cristã, em Tagaste, na África, no ano de 332.

Desde que se casou com Patricio, aos 20 anos de idade, sempre teve uma grande preocupação: levar toda a família à santidade. Suportou com modéstia, suavidade e recato o mau gênio, o temperamento violento e até mesmo as traições de seu esposo, conseguindo assim que ele se convertesse. Patrício veio a falecer um ano depois de receber as águas purificadoras do santo Batismo.

Uma grande preocupação

Mas, a grande preocupação de sua vida foi com Agostinho, seu filho primogênito. Os dois filhos mais novos já se haviam feito católicos e seguiam o caminho da virtude. Agostinho era extraordinariamente inteligente, porém, era rebelde e caprichoso, não se preocupando com a prática do bem.

A mando do pai, ele foi enviado para Cartago, afim de estudar filosofia, literatura e oratória. Lá, seu grande interesse estava em obter boas notas, brilhar em festas sociais e sobressair-se nos exercícios físicos.

Agostinho tinha 17 anos quando seu pai morreu. Então, começaram a chegar a sua mãe as más informações acerca do comportamento dele. E as notícias eram cada vez mais graves: o jovem havia entregado-se ao jogo, à vida dissoluta e, pior de tudo, tinha se tornado membro da seita maniqueísta.

Mônica redobrou as orações para seu filho e aumentou a vigilância e cuidados para com aquele que não dava o menor sinal de arrependimento e que ainda demoraria muitos anos para converter-se.

Numa noite, porém, ela teve um sonho que lhe deu muito alento. Mônica viu-se num bosque, chorando pela perda espiritual de seu filho, quando aproximou-se dela um personagem luminoso e resplandecente, que lhe disse: “Teu filho voltará para ti”. Este sonho deu-lhe grande ânimo na luta sem tréguas pela conversão do filho.

Já doutor, aos 29 anos, Agostinho decidiu mudar-se para Roma, terra de seus sonhos, onde pretendia exercer o magistério.

Por essa época ele já era pai de um menino que tinha o nome de Adeodato e vivia com a mãe dele sem nenhuma intenção de casar-se.

Santa Mônica procurou Agostinho dispondo-se a acompanhá-lo. Ela tinha o desejo de, com isso, ajudá-lo a livrar-se das desordens morais que retardavam cada dia mais sua conversão. No dia da partida, já no porto, Agostinho utilizou-se de um estratagema para livrar-se da companhia da mãe: enquanto ela rezava na Igreja de São Cipriano, ele disse a ela que sairia um instante para visitar um amigo. De fato saiu, porém conseguiu embarcou sem a companhia da mãe.

Mais tarde, Santo Agostinho lembrava o fato declarando nas “Confissões” (V-8): “Nessa noite parti ocultamente, enquanto ela ficou orando e derramando lágrimas por mim.”

Luta interior, conversão e Batismo

Mônica, porém, não era mulher para deixar-se derrotar tão facilmente. Algum tempo depois, ela embarcou também para Roma. Partia no encalço do filho.

Contudo, não o encontrou mais na Cidade Eterna, porque ele havia ido para Milão. Ela foi atrás dele e o encontrou! Teve, então a grande alegria de ouvir da boca do próprio Agostinho que ele havia deixado a heresia maniqueísta.

Deixara a heresia, porém, ainda não tinha abraçado o Catolicismo. A boa mãe, santa mulher, redobrou-se em orações. Sua esperança lhe dava a certeza e a confiança de que a conversão dele se daria ainda antes que ela morresse.

Estando em Milão, cheia de gratidão, ela foi pedir conselho e auxílio a Santo Ambrósio, o grande bispo de Milão, cujos sermões seu filho havia assistido e de quem havia se tornado grande admirador.

Depois de tantas orações e lágrimas, Agostinho mandou a mãe de Adeodato de volta para a África, com a intenção de casar-se com uma outra moça de Roma.

Nesse período, o futuro Doutor da Igreja travava forte luta interior para aceitar inteiramente a Religião Católica.

Ele fez uma profunda análise de sua vida, olhando de frente todas as suas misérias. Gemia sob o peso de seus pecados, chorava e perguntava-se:

“Por quanto tempo, por quanto tempo andarei a clamar: Amanhã, amanhã? Por que não há de ser agora? Por que o termo das minhas torpezas não há de vir já, nesta hora?” (“Confissões” VIII-12).

De repente, ele começou a ouvir a voz de uma criança, vinda de uma casa próxima, que repetia sem cessar: “Toma e lê; toma e lê”. Julgou tratar-se de algum jogo infantil, mas nunca havia ouvido tal cantiga.batismo-de-santo-agostinho.jpg

Intrigado, ele lembrou-se de que Santo Antão havia se convertido lendo aleatoriamente um trecho do Evangelho que lhe valeu como uma advertência do Céu. Pressuroso, tomou o livro das Epístolas de São Paulo, decidido a ler o primeiro capítulo que encontrasse.

Abriu o livro ao acaso e leu: “Não caminheis em glutonarias e embriaguez, nem em desonestidades e dissoluções, nem em contendas e rixas; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis a satisfação da carne com seus apetites.” (Rom. 13, 13). Nem quis ler mais…

Aquelas palavras lhe penetraram no coração como uma luz que dissipava todas as trevas das dúvidas. Era o mês de agosto de 386.

Contando com a valiosa ajuda de Santo Ambrósio e movendo os Céus com suas lágrimas e orações, Santa Mônica teve, afinal, a ventura de ver o filho convertido.

Estavam coroados os heroicos esforços dessa mãe que nunca desanimou e seguiu os passos do filho rebelde por todos os cantos, até ver a graça de Deus vencer em sua alma.

O próprio Santo Agostinho narra nas “Confissões” (VIII-12) a reação de sua mãe quando lhe contou a decisiva conversão: “Ela rejubila. Contamos-lhe como o caso se passou. Exulta e triunfa, bendizendo-Vos, Senhor, ‘que sois poderoso para fazer todas as coisas mais superabundantemente do que pedimos ou entendemos’. Bendizia-Vos porque via que, em mim, lhe tínheis concedido muito mais do que ela costumava pedir, com tristes e lastimosos gemidos.”

O Convertido

Decidido a manter-se celibatário a partir de então, Santo Agostinho fez um retiro espiritual durante as férias da colheita, em Cassicíaco, preparando-se para receber o Batismo, juntamente com Adeodato, seu filho, e alguns amigos catecúmenos.

Santa Mônica o acompanhou e participava das conversas espirituais e filosóficas com extraordinária penetração e um conhecimento da Sagrada Escritura pouco comum.
Na Páscoa de 387, de volta a Milão, Santo Agostinho e seus amigos foram batizados por Santo Ambrósio, para júbilo e gáudio de Santa Mônica.

O êxtase de Óstia

Decidindo voltar para a África, dirigiu-se com sua mãe para o porto de Óstia, onde embarcariam. Estando mãe e filho sozinhos, conversavam apoiados a uma janela cuja vista dava para o jardim interior da casa onde se hospedavam, discorrendo, então, sobre as mais altas cogitações, buscando a Verdade, a vida eterna dos santos, que nenhum olho humano viu, ou ouvido humano ouviu, ou nunca penetrou o coração do homem.

Neste colóquio intensamente sobrenatural, entraram os dois em êxtase.

Ao final dessa conversa, Santa Mônica disse as seguintes palavras, que Santo Agostinho eternizou em suas “Confissões” (IX-11) :

“Meu filho, quanto a mim, já nenhuma coisa me dá gosto, nesta vida. Não sei o que faço ainda aqui, nem por que ainda cá esteja, esvanecidas já as esperanças deste mundo. Por um só motivo desejava prolongar um pouco mais a vida: ver-te católico antes de morrer. Deus concedeu-me esta graça superabundantemente, pois vejo que já desprezas a felicidade terrena para servires ao Senhor. Que faço eu, pois, aqui?”a-partida-para-o-ceu.jpg

A despedida…

Óstia foi a despedida: cinco dias depois do encontro no Porto de Óstia , acometeu-lhe uma febre incontida que devorando-a, a levaria à morte. Totalmente desapegada de tudo e feliz por ver sua família inteira dentro da Igreja que tanto amava, Santa Mônica expressou assim seu último desejo aos seus filhos:

“Enterrai este corpo em qualquer parte e não vos preocupeis com ele. Só vos peço que vos lembreis de mim diante do altar do Senhor, onde quer que estejais.” (Confissões; IX-11)

Ao cabo de 9 dias de sofrimento, partiu para a eternidade. Tinha 55 anos de idade. Santo Agostinho conteve suas lágrimas durante os funerais, mas não as controlou depois que tudo havia passado. Chorou copiosamente por aquela que havia chorado por ele a vida inteira.

Modelo de esposa e mãe cristã, proclamada pela Igreja padroeira das mulheres casadas, Santa Mônica, ao longo dos séculos, tem ajudado na conversão das famílias de milhares de mães e esposas que se encomendaram a ela.

Fica para nós um modelo de mãe que soube estar junto de seu filho a cada momento, nunca deixando de pedir a Deus por ele. De seus sofrimentos e suas lágrimas dependeu a salvação do grande Doutor da Igreja. Este deixou para os séculos futuros as seguintes palavras de gratidão e reconhecimento a sua tão querida mãe:

“Pela carne, me concebeu para a vida temporal, e pelo coração me fez nascer para a eterna.” (“Confissões” ; IX-8)

Da Redação com fonte http://recife.blog.arautos.org/2014/08/lagrimas-que-converteram-um-filho/

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