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A arte do cappuccino

Redação (Segunda-feira, 17-11-2014, Gaudium Press) Alguém com uma mentalidade simplista e pouco sutil, poderia dizer-nos que essa simples mas requintada e reconfortante bebida chamada ‘cappuccino’ não é mais que uma mera combinação de leite, café e açúcar. Entretanto, a experiência nos mostra que as coisas belas e deliciosas -diferentemente das feias e insípidas- são mais elaboradas, requerem para sua realização de um especial esforço de espírito, de agudeza e às vezes de destreza corporal.

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Clurichaun

“Criar” fealdade é muito fácil; criar beleza nem tanto assim. Mas o esforço tem sua recompensa: é fácil reconhecer e deleitar-se com a verdadeira beleza, assim como é simples reconhecer a fealdade, inclusive ainda que nos queiram apresentar como beleza…

De fato um cappuccino mescla leite, café e açúcar mas de uma maneira fina, delicada. (Comumente são 125 ml de leite e 24 ml de café. Às vezes também se usa creme de leite, reduzindo então a porcentagem de leite).

O café do cappuccino tem que ser ‘expresso’, quer dizer, um café que se elabora com o fluxo de água sob pressão pelo grão moído, mas em condições particulares: a água deve ser da melhor qualidade; a dose de café deve ser a correta, aproximadamente 7 grãos de café por xícara; o pó do café deve ser distribuído de maneira homogênea e ser pressionado da forma correta, porque se o pó é muito prensado a água do café sai lentamente e mais escura e se se pressiona pouco a água sai mais rápida e mais “clara”.

Igualmente o leite não é mero “leite”, mas tem que ser leite soprado com o vapor da água para gerar espuma e para dar claridade a este líquido, criando um leite vaporoso, um leite com bolhas que mais ou menos dobra seu volume inicial. Também, é claro, a espuma que se cria depende do tipo de leite que se usa: um leite inteiro, mais oleoso, dará uma espuma mais cremosa e densa, e um leite desnatado produzirá um creme menos espesso e de menor duração. Além disso, deve-se cuidar que o leite não sobrepasse os 65 ou 70 graus centígrados, nem muito menos chegar ao ponto de ebulição. Enfim, toda uma arte.

E para que tanto detalhe, tanta trivialidade, não é demasiada minúcia? Pois para obter beleza, para chegar à delícia rara, a possibilidade de apreço de um deleite que reconforta o espírito, que também pode sossegar, que para ser apreciado necessita certo ritmo não apressado, necessita delicadeza, e que pode gerar também delicadeza no espírito.

Porque o nome de ‘cappuccino’? Alguns afirmam que a invenção da deliciosa bebida se deve a um monge desta comunidade religiosa. Outros dizem que a cor resultante após a combinação é parecido a do hábito dos capuchinhos. Outros ainda expressam que a combinação do leite com a cor escura do café recorda a combinação da pele branca com o arco da tonsura dos monges, e que daí lhe veio a denominação.

Seja qual for sua origem, do nome e da bebida, constatamos isso sim que coisas belas como esta de que estamos falando preparam para a contemplação da Beleza Absoluta. Para medir melhor em sua profundidade e amplitude o sacrifício de Jesus temos que ter certa delicadeza de sentimentos que permita penetrar em peregrinação no coração do Salvador. É uma delicadeza de sentimentos que corresponde a uma finura de espírito, própria de quem sabe degustar um ótimo cappuccino.

Deus fez as coisas visíveis fundamentalmente para que daí se partisse às invisíveis, e finalmente se chegasse à Ele. Mas para poder realizar esse caminho, temos que ter voo de alma, um espírito meditativo e contemplativo, um espírito que ao longo da vida entendeu que o néctar da existência está em certas complexidades, nos matizes, nos imponderáveis delicados, nessas coisas às vezes nem tão evidentes que se possam perceber nas realidades palpáveis para quem as queira ver.

Por Saúl Castiblanco

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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