Parar para descansar

Redação (Quarta-feira, 18-03-2015, Gaudium Press) Na prática psicológica com frequência se constata que não apenas são os fatos que vivemos, mas particularmente a interpretação que damos a esses fatos, o que causa o agrado ou o aborrecimento.

Alguém pode ir no mesmo transporte urbano irritado porque há muitos passageiros, ou contente porque está tendo a ocasião de contemplar um maravilhoso entardecer. Alguém sentado em um bom automóvel pode estar irritado porque ainda não tem tal conforto, enquanto que outro no mesmo veículo pensa alegre na interessante trama de um livro que está lendo, enquanto esquiva de algum veículo para evitar a colisão em um difícil tráfego.

É claro que todos os dias teremos “x” número de acontecimentos não propriamente agradáveis, que tendem a ocupar nosso espaço mental e sensível tornando a vida pesada, tediosa, até ‘insofrível’. É por isso necessário que tenhamos constantemente a intenção de abrir nossos espíritos à consideração dos horizontes e dos temas elevados, que tragam ‘oxigênio’ ao coração, que sejam como uma janela ao céu especialmente para os momentos de aflição.

As dificuldades próprias das grandes cidades, nas quais se corre a toda hora, facilmente fazem que esqueçamos a necessidade da meditação, da reflexão, da contemplação. Se corre para ir ao trabalho, se corre no trabalho, se corre para aproveitar algum espaço e atender tal compromisso, para pagar tal conta, para fazer tal outra coisa e ao final do dia, exaustos, não são poucos só que dedicam os poucos preciosos minutos de seu tempo livre para “continuar correndo” com tal filme de ação, ou vendo tal ‘trailer’ de tensão, excitante.

Com frequência as pessoas que correm, o fazem a sobressaltos. São pessoas que se levassem um ritmo não agitado, mas constante, renderiam muito mais em seus ofícios e em todos seus trabalhos.

Entretanto, é importante que nos momentos de descanso, por exemplo, lhe demos um tempo ao bom “sonho”, fruto da sã imaginação, momentos estes nos quais as tensões próprias do dia cedam o espaço à distensão de um são deleite, a um ‘uso’ relaxante da alma. Por exemplo, a leitura de um clássico da literatura, pode ser a ocasião de viajar em espírito para outros ambientes de outras épocas, onde brilhava particularmente a graça, o trato ameno, os frutos da cultura. Esses momentos podem ser a ocasião inclusive de seguir com prazer uma ilustrativa trama de intriga literára, da qual não sairemos com os nervos ainda mais “à flor da pele”.

Ao homem moderno mal acostumado com a passividade das imagens aceleradas da televisão, não lhes é fácil usar sua imaginação para recorrer por exemplo aos salões e os múltiplos e ricos personagens de “Guerra e Paz” de Tolstoi. Mas com certa prática, e algo de esforço, ainda o homem de hoje poderá caminhar as páginas de um bom clássico imaginando inclusive melhorando os protagonistas, os ambientes, aprendendo junto aos grandes autores do que é a psicologia humana, de história, dos costumes dos diferentes povos. E se há que consultar o dicionário de vez em quando, pois não será tempo perdido mas “investido”.

A imaginação é algo maravilhoso quando se sabe utilizar. O anterior é somente um exemplo do que se pode fazer.

Mas também pode ser possível ao final dos trabalhos do dia ir a uma igreja, melhor se esta é especialmente bela -e sem outra intenção diferente a de deixar-se banhar pela presença do Santíssimo e de todo o ambiente sobrenatural- permitir a Deus manifestar-se com alguma graça, que nos recorde sua bondade, a necessidade que temos dEle, de sua Providência Divina, da intercessão de sua Mãe Santíssima, de pensar constantemente nEle.

Parar para meditar, para restaurar, para restabelecer, para recordar para que vivamos, porque lutamos. Para sentir que a vida tem sentido, quando se pensa em Deus. Quando se faz isto, os inconvenientes de toda vida não terminarão amargando a existência.

Por Saúl Castiblanco

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho