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Em busca da alegria

Redação – (Sexta-feira, 10-04-2015, Gaudium Press) – “Este é o dia que o Senhor fez para nós, exultemos e nele alegremo-nos!” Esta é a antífona que emoldura os cinquenta dias do Tempo da Páscoa, a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio, da luz sobre as trevas, por que Cristo Jesus passa pela paixão, morte e ressuscita. Eis uma referência que, certamente, pode soar de modo estranho em ambientes que ultrapassam os limiares das igrejas cristãs. Porém, trata-se de uma compreensão que pode garantir ao coração humano o que se procura tão Dom Walmor Oliveira de Azevedo.jpgintensamente: a alegria. É importante não confundir alegria com satisfação, que remete a uma sensação passageira. A satisfação, muitas vezes, é transformada em necessidade pela dinâmica da cultura contemporânea e, assim, converte-se na extenuante busca de “coisas e circunstâncias” que produzem, momentaneamente, apenas o prazer da alegria.

Essa busca alimentada e produzida como necessidade impede que o ser humano encontre a alegria que dura. A consequência é uma desarvorada procura, de maneira cega, que produz absurdos, perversidades e esvaziamentos. Na busca equivocada pela alegria, volta-se, repetidamente, ao ponto de partida. Isso gera permanente insatisfação, que produz loucuras e irracionalidades revestidas de arbitrariedades. É reforçado, por exemplo, o caráter dominador do dinheiro, patrocinador do impulso de se querer e tentar encontrar a alegria em coisas, em situações meramente prazerosas, em posses. É um erro entender que a alegria necessária está na superficialidade do que dá prazer. Nesse equívoco, a humanidade se afunda numa lógica perversa de disputas e de perda da essencialidade, do sentido da verdade e do bem. Ser alegre se torna uma louca aventura que custa alto preço, produz sérios prejuízos.

O Tempo da Páscoa é o anúncio e o convite para que se tome consciência e se torne experiência a busca pela fonte da verdadeira alegria. Essa fonte não é um “ajuntamento” de coisas produtoras de satisfações passageiras e superficiais. É a pessoa de Cristo Ressuscitado. Não são coisas que garantem a conquista da alegria. O caminho que perpassa a humanidade é desenhado e percorrido pelo Filho de Deus, Salvador e Redentor, o homem perfeito que assume sobre si as dores, dissabores e esvaziamentos da condição humana e os transformam por sua paixão, morte e ressurreição vitoriosa. Ele, Cristo, portanto, é o ponto referencial de encontro, iluminando e dando sentido a todos os outros encontros. O Mestre redimensiona tudo e garante as condições para que se busque e se encontre a alegria verdadeira.

O Tempo Pascal é oportunidade para que se compreenda, pela claridade da razão e pela singularidade do amor, o que concluiu Santo Agostinho, ao refletir sobre os equívocos que cometeu na busca desarvorada pela felicidade. Dirigindo-se a Deus, o Santo de Hipona diz, enfaticamente: “A vida feliz consiste em nos alegrarmos em Vós, de Vós e por Vós. Eis a vida feliz e não há outra. Os que julgam que existe outra, apegam-se a uma alegria que não é a verdadeira”. A alegria que nasce do encontro com Deus é terapêutica, pois a tristeza infinita que dizima o coração humano só se cura com um amor infinito. Põe-se o desafio de uma experiência pessoal de encontro com Cristo para saborear a sua amizade e a sua mensagem. Eis o caminho para configurar a busca da alegria verdadeira, que ultrapassa as satisfações momentâneas e contentamentos passageiros.

A lógica da alegria que se sustenta no encontro com Cristo Ressuscitado, sem medo de estar próximo de suas chagas e sofrimentos, que são também dores da humanidade, capacita o coração para não se acovardar diante do drama humano. Essa lógica permite avanços nas relações e uma compreensão alicerçada na alegria que dura. É antídoto para a ganância que envenena, para a indiferença que corrói e empurra a sociedade na direção de um lento suicídio, encoberto por tudo o que apenas contenta e dá prazer fugaz. A alegria verdadeira e que dura é encontrada quando se comprova que não se vive melhor ao fugir do outro, por negar-se a partilhar e por fechar-se em comodidades. O Tempo Pascal é para exercitar o coração e a inteligência em busca da alegria.

Por Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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