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Santa Rita de Cássia – Padroeira das causas impossíveis

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Redação – (Quarta-feira, 20-05-2015, Gaudium Press) – Aquela que no futuro seria conhecida como a advogada dos desesperados nasceu em 1381 no vilarejo de Roccaporena, na região de Cascia, na Úmbria (centro da Itália). Seus pais – Antonio Mancini e Amata Ferri – formavam um casal exemplar, e gozavam de fama de reconciliadores pela habilidade que tinham em desfazer inimizades e pôr fim a disputas, sendo por isso apelidados de “pacificadores de Cristo”. Formavam eles um casal adiantado em anos, porém suas preces foram ouvidas e uma menina veio ao mundo. Com quatro dias de nascida, na pia batismal da igreja de Santa Maria em Cascia recebeu ela o nome Margherita, que depois foi carinhosamente reduzido para apenas “Rita”.rita_de_cassia-1.jpg

Infância e adolescência de Rita

Já na infância Rita se destacava em casa pela inclinação à piedade e à união com Deus pela oração, e assim seus pais adequaram um pequeno cômodo da casa montando ali um oratório, onde ela passava agradáveis momentos em oração. Apesar de analfabetos, Amata e Antonio procuravam transmitir à menina os edificantes conhecimentos da vida de Jesus, da Virgem Maria, e dos santos populares, e assim Rita cresceu dócil, respeitosa e obediente para com seus idosos pais. Aos oito anos inclinou-se a consagrar sua virgindade a Jesus, esposo das virgens, mas segundo os costumes da época resignou-se à vontade de seus pais, e ao fim da adolescência casou-se com o jovem Paulo Fernando, fonte de muitos sofrimentos durante a vida matrimonial.

A família, igreja doméstica: sofrimentos e provações

Seu esposo, descrito como um indivíduo pervertido e impulsivo, de caráter feroz e sem temor a Deus, não admitia opiniões diferentes da sua. Muitas vezes injuriava a esposa sem motivos, mas ela nunca respondia com ressentimento ou queixas. Rita lhe era obediente, pedindo-lhe permissão até mesmo para ir à igreja, e com o passar dos anos a docilidade e a benquerença da esposa transformaram o feroz leão em manso cordeiro: passou a ser respeitoso com a esposa, dando bom exemplo aos dois filhos, João Tiago e Paulo Maria, que lamentavelmente herdaram o temperamento paterno.

O matrimônio durou dezoito anos, até o momento em que Paulo Fernando foi brutalmente assassinado por inimigos que cultivou nos tempos de violência. Sepultado, foi agraciado com muitas orações e penitências de Rita em sufrágio de sua alma, tendo a santa viúva feito um corajoso ato heróico: perdoou os assassinos.

Prefere que os filhos morram antes que cometam pecado

Mais um sofrimento se abateu sobre Rita: refeita da dor causada pela morte de seu esposo, e tendo dirigido toda a dedicação à formação dos dois filhos, percebeu ela que ambos estavam inclinados a vingar a morte do pai. Tomou então uma resolução difícil porém firme: pediu que Jesus levasse seus filhos antes de cometerem esse pecado, se fosse humanamente impossível impedir que o fizessem; amava-os tanto que queria encontrá-los no Paraíso, tendo o mesmo sentimento que levou a mãe de São Luís, rei da França, a dizer ao filho que preferia vê-lo morto a seus pés antes que cometesse um pecado mortal. João Tiago e Paulo Maria adoeceram, mas receberam continuamente os cuidados da diligente mãe, que lhes obtinha todos os remédios então disponíveis para lhes conservar as vidas, e então, reconciliados com Deus e tendo perdoado os assassinos do pai, partiram para a eternidade (o que aconteceu cerca de um ano após a morte de Paulo Fernando, junto a quem foram sepultados). Dir-se-ia que Rita ficou só, no mundo, mas na mais perfeita das solidões, pois tinha Deus consigo.

Inclina-se à vida religiosa conventual

Não mais tendo obrigações matrimoniais ou maternais, Rita aperfeiçoou-se na prática das virtudes, dedicando-se à caridade e à oração, mas isso não era suficiente para quem estava tomada pelo amor a Deus, e que desde a infância aspirava à vida religiosa. Ao passar junto aos conventos e mosteiros, sentia uma atração interior para a vida dos claustros, tendo uma santa inveja das almas virgens que ali estavam encerradas em total entrega a Jesus, mas pelo matrimônio um muro intransponível se elevara entre ela e a vida conventual: segundo as normas e regras então vigentes era-lhe vedado o ingresso na vida que tanto aspirava. Rita queria uma coisa impossível: batendo às portas do convento das religiosas agostinianas de Santa Maria Madalena, recebeu da madre superiora a resposta negativa apesar da boa impressão que causou, pois ali só se admitiam mulheres solteiras, não sendo possível o ingresso de quem já tivera vida matrimonial.

Quer seguir os conselhos evangélicos

Rejeitada, continuou com orações e penitências, além das boas obras, mas mantendo a confiança naquilo que considerava uma “causa desesperada” voltou duas vezes ao mesmo convento para implorar a admissão, sendo em ambas as ocasiões novamente rejeitada. Entregou-se então à vontade de Deus, recomendando-se aos santos de sua devoção. Já praticava a pobreza, desapegando-se dos bens que possuía para distribuí-los entre os necessitados; a castidade, vivia-a no estado de viuvez, desinteressando-se em contrair novas núpcias e assim desapegando-se do próprio corpo. Faltava-lhe ainda a obediência, que almejava abraçar dentro de um convento, submetendo inteiramente sua vontade a alguma pessoa investida da superioridade religiosa.

Deus é quem lhe proporciona a entrada no convento

Certa noite ouviu alguém a chamar pelo nome: “Rita, Rita”… Ninguém parecia estar ali, e tendo retornado às orações ouviu novamente seu nome ser chamado: “Rita, Rita”. Indo à porta deparou-se com três pessoas, e nelas reconheceu São João Batista (que, como ela, fora concebido na velhice dos pais), Santo Agostinho (fundador da família agostiniana, por ela tanto admirada) e São Nicolau de Tolentino (religioso agostiniano), os quais a convidaram a segui-los. Chegando ao convento de Santa Maria Madalena, onde fora por três vezes recusada, a porta estava evidentemente bem fechada, pois era o momento em que as religiosas dormiam, mas seus três protetores fizeram rita_de_cassia-2.jpgcom que ela inexplicavelmente se visse conduzida ao interior do imóvel. Ao se reunirem para as obrigações matinais, as religiosas se surpreenderam ao encontrarem Rita rezando na capela, e tendo constatado que a porta não fora arrombada e que não havia sinal algum que explicasse a entrada da viúva por meios humanos, creram no relato que dela ouviram, reconhecendo assim a vontade de Deus: uma nova alma foi então recebida naquela família religiosa. Rita desfez-se de seus bens, abraçando assim formalmente a pobreza evangélica, continuou a manter a castidade na viuvez depois de ter passado pelo estado matrimonial, e tornou-se submissa à autoridade da madre superiora, renunciando até mesmo à própria vontade.

Um milagre é o prêmio da obediência

Certa ocasião Rita recebeu da superiora a ordem para regar duas vezes ao dia um galho seco, o que foi cumprido com diligência pela manhã e à tarde quotidianamente, mês após mês, observada com irônico sorriso pelas demais irmãs. Elas se surpreenderam cerca de um ano depois com o surgimento de folhas na videira que começava ali a se desenvolver, e que passou a dar saborosas uvas século após século, produto da santa obediência. Tal árvore atravessou as épocas, chegando até nossos dias, mantendo-se viçosa e frutífera, fruto da cega obediência à qual se submeteu.

Estigmatizada, participa do sofrimento de Jesus

Na quaresma de 1443 Rita ouviu um edificante sermão pregado por São Tiago da Marca (Giacomo della Marca, 1394-1476), frade franciscano, discípulo de São Bernardino de Siena. As palavras do religioso a sensibilizaram profundamente, e então, prostrada diante da imagem do Crucificado, pediu a participação naquelas lancinantes dores, ainda que fosse a dor de um dos espinhos, no que foi imediatamente atendida: sua fronte foi ferida por um espinho da coroa, o que a fez desmaiar de dor. Ao contrário das chagas de Jesus que se abriram em outros santos, a de Rita manifestou-se com aspecto repugnante, com saída de pus e odor fétido, o que a levou a uma vida isolada dentro do convento, em uma cela distante à qual uma religiosa lhe levava o necessário para viver. Esse sofrimento se estendeu por quinze anos.

Por ocasião do ano do Jubileu proclamado pelo Papa Nicolau IV, em 1450, Rita manifestou o desejo de ir a Roma com outras religiosas, mas não obteve permissão da superiora devido ao seu estado de saúde que se agravava, consequência da ferida causada pelo espinho. Rita então pediu a Deus o desaparecimento da ferida, no que foi atendida, viajando assim à Cidade Eterna para ali praticar os atos de piedade próprios à ocasião. Ao retornar ao convento a ferida reapareceu, retornando a religiosa à sua vida de sofrimentos. A saúde se debilitava, as dores aumentavam, mas a alegria e o sorriso continuavam em meio ao santo sofrimento pelo qual passava. Nos últimos dias de vida seu único alimento foi o Pão Eucarístico.

A roseira floriu em pleno inverno, representando a realização de uma coisa impossível

Aproximando-se o fim de sua vida, Rita consolou-se com a notícia de um fenômeno inabitual, ou melhor, “impossível”: durante um rigoroso inverno notou-se em sua horta uma roseira lindamente florida, e também uma figueira cujos frutos estavam maduros e saborosos. Esse fato prefigurava a nova rosa que em breve ornamentaria o rita_de_cassia-3.jpgParaíso, e o fruto que Jesus colheria na Terra para, lá no Céu, se deliciar, e até hoje é tradicional a Bênção das Rosas, as quais são levadas aos enfermos, alusão à roseira que milagrosamente floriu em pleno inverno e que confortou Rita em sua enfermidade. Por fim, confortada pelos Sacramentos, Rita foi chamada à Casa do Pai, em 22 de maio de 1457, quando contava 76 anos de idade e quatro décadas de vida religiosa. Não deixou escritos (cartas, livros, diários: nada disso existe), mas apenas os exemplos e as lembranças de sua vida de santidade. Registrou-se, nos anais da História, que os sinos do convento e da cidade de Cascia soaram sem serem acionados por mãos humanas.

No Céu, padroeira das coisas impossíveis e das causas desesperadas

Com a morte de Rita a ferida na testa, antes repugnante, tornou-se brilhante e limpa, exalando odor perfumado. A exposição de seu corpo para o último adeus dos numerosos peregrinos que acorreram ao convento foi-se estendendo dia após dia, e acabou por não haver sepultamento formal, mas o cadáver não sofreu a habitual decomposição, podendo até hoje ser sua face apreciada pelos que visitam a capela do convento onde a Santa das Coisas Impossíveis viveu. Filha obediente, esposa maltratada, mãe amorosa, viúva confiante, religiosa estigmatizada… tantos adjetivos haveria para se aplicar a essa agostiniana de espírito, e que não descansou enquanto não se tornou religiosa de fato, mas todos eles se resumem nessas palavras que são motivo de esperança por parte de todos os seus devotos: padroeira das coisas impossíveis e das causas desesperadas.

Fontes:

Heavenly Friends (Rosalie Marie Levy, St. Paul Editions, 1984).
The Incorruptibles (Joan Carroll Cruz, Tan Books, 1977)
A História de Santa Rita de Cássia (site dos religiosos Agostinianos Recoletos, http://www.santarita-oar.org.br/base.php?page=santarita_historico)

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