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Os jardins e a beleza: uma forma de entender a relação do homem com a criação

Londres – Inglaterra (Terça-feira, 01-09-2015, Gaudium Press) David Clayton, artista britânico, professor e autor do livro The Way of Beauty (O Caminho da Beleza), realizou uma notável reflexão sobre a relação do homem e a criação inspirada em uma arte pouco fomentada na atualidade: a dos jardins. No lugar de propor uma visão da ecologia contrária ao crescimento da presença humana no mundo – como frequentemente se promove através dos meios de comunicação – o autor propôs em um artigo escrito para a página web New Liturgical Movement uma aproximação a partir da missão transcendente do ser humano.

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“Necessitamos de mais pessoas no mundo, não menos, se vamos solucionar os problemas do mundo”, indicou o escritor. “E necessitamos mais jardineiros -falo sério. Porque o verdadeiro jardineiro é o homem transformado em Cristo que trabalha no mundo para elevá-lo ao que está chamado a ser”. Clayton rejeitou a visão frequente do homem como um ser inatural cujo trabalho prejudica inevitavelmente a natureza, produto de uma ótima pessimista que despreza o desenvolvimento humano e exalta um imaginário do homem selvagem, que seria mais uma parte da natureza.

O significado do jardim

Pretender que o homem seja reduzido a menos na criação foi advertido pelo autor como uma tendência neo-pagã de grande relevância. “Esta falsa elevação do resto da criação a algo maior que o homem na hierarquia das coisas tem consequências sérias e mortais. E de verdade quero dizer mortais”. Clayton destaca que o homem, mais do que uma parte da criação, é absolutamente necessário para que a criação esteja completa. “Através da graça de Deus a atividade humana é a resposta a todos os problemas ecológicos como uma solução viável e para o escritor está relacionada com a necessidade de evangelizar a cultura.

Para expressar seu pensamento, Clayton propôs a arte da jardinagem floral como “modelo da beleza natural em muitas maneiras”. O jardim simboliza “o verdadeiro fim do mundo natural, no qual sua beleza pode ser somente realizada pelo trabalho inspirado do homem”. Na imagem Adão foi o primeiro jardineiro, e Cristo, que restaura a ordem da criação através de seu sacrifício, é precisamente confundido com um jardineiro por Santa Maria Madalena, testemunha da ressurreição.

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A maneira de entender esta relação do homem com a natureza parte de vários princípios. “O primeiro ponto é que ambos são imperfeitos”, explicou. “Somos decaídos e vivemos em um mundo decaído”. O homem pode ser destrutivo para o ambiente certamente, mas através da graça de Deus e um correto uso da liberdade pode escolher dar perfeição à natureza. “Ele tem o privilégio de participar na obra de Deus que levará eventualmente à perfeição de todas as coisas em Cristo. Então tudo o que o homem faça está em harmonia com a natureza e com o bem comum. Esta é a via pulchritudinis, a Via da beleza”.

A Via da Beleza

No lugar de buscar um modelo de homem selvagem ou primitivo para ilustrar a relação harmônica com a natureza, Clayton propõem recuperar o valor da contribuição humana. Inclusive o propósito das reservas naturais, onde se constrói um ambiente selvagem não alterado pelo homem, é na realidade impossível, já que essas reservas são de fato administradas pelo homem para sua conservação. Este estado natural é belo, mas para o autor não representa o auge da beleza. “Quando o homem trabalha harmonicamente com o ambiente, faz algo mais belo. A terra cultivada e bela harmoniosamente tira a respiração, como podemos ver nos campos de França, Espanha e Itália, por exemplo”, indicou.

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“Mais elevado ainda é o jardim cultivado só para a beleza”, expôs. “Um jardim é um símbolo da Igreja. Cada parte, cada planta é em harmonia com as outras, justo como cada pessoa é única e tem um lugar no plano de Deus”. O trabalho de fazer um jardim para a beleza se assemelha ao trabalho pela obra de Deus no mundo para conduzi-lo à sua plenitude. “O jardim em si mesmo é um sinal para todos os demais de que toda a criação está disposta para ser transfigurada sobrenaturalmente”, indicou. “O ato da jardinaria, então, reflete e aponta a nossa participação na Sagrada Liturgia pela qual somos transfigurados e pela qual participamos na obra de Deus”.

Os Salmos são comparados aos jardins por São Pio X, por conter os tesouros das Sagradas Escrituras em forma de canção e deste modo produzir um fruto especial no espírito. O homem que trabalha o jardim gera uma beleza que é o maior aspecto do que trabalha. “A beleza tem a mais nobre utilidade, uma que tem em conta nosso fim sobrenatural, porque prepara as almas dos homens para ser receptivas ao amor de Deus na Sagrada Liturgia”, expôs Clayton. (GPE/EPC)

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