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Os hebreus pedem um rei

Redação – (Segunda-feira, 28/09/2015, Gaudium Press) – Rejeitando a Deus, representado pelo profeta Samuel, os israelitas querem ser governados por um rei, como o faziam todos os outros povos:

A sabedoria de Samuel se manifestava cada vez mais, e suas palavras se fizeram ouvir por todo o Israel.

A Arca da Aliança é raptada pelos filisteus

Certo dia, os filisteus moveram guerra contra Israel e, num combate em campo aberto, morreram 4.000 hebreus.

Os notáveis de Israel resolveram, então, mandar buscar a Arca da Aliança, que se encontrava em Silo, a fim de colocá-la no meio do acampamento dos israelitas. Os dois filhos do sumo sacerdote Eli, os quais também eram sacerdotes, acompanharam o transporte da Arca, em direção àquele local.

Comenta Fillion:”Eles teriam agido melhor se procurassem o verdadeiro motivo do abandono em que o Senhor os tinha deixado. Esperavam, de uma maneira supersticiosa, que a presença da Arca O forçaria a combater por eles e lhes dar a vitória.” Ora, os dois filhos de Eli levavam uma péssima vida e o sumo sacerdote se deixara conduzir pela moleza, sem punir eficazmente os pecados hediondos cometidos por eles.

Quando a Arca chegou ao acampamento, os israelitas clamaram de contentamento, e em tal volume que causou medo nos filisteus. Mas estes, dominando o pavor, lançaram-se contra os hebreus e massacraram 30.000 deles; a Arca da Aliança foi raptada e os dois filhos de Eli morreram.

Essa tragédia deveu-se também aos pecados dos israelitas, que inclusive adoravam ídolos. Diz o salmista que Deus “se indignou e rejeitou Israel completamente. Abandonou a morada de Silo, a tenda onde morava entre os homens” (Sl 77, 59-60).

Morte trágica de Eli

Um homem conseguiu escapar e, com as vestes rasgadas e a cabeça coberta de pó, foi correndo até Silo, onde transmitiu a notícia ao povo, que começou a gritar de tristeza. Depois contou a Eli, o qual estava com 98 anos de idade e praticamente cego.

Ao saber, sobretudo, de que a Arca havia sido tomada pelos filisteus, “Eli caiu da cadeira para trás […] quebrou o pescoço e morreu, pois era um homem velho e pesado” (I Sm 4, 18). Comenta São João Bosco: “Deus pune muitas vezes, mesmo nesta vida, os pais indolentes, e abrevia a vida dos filhos rebeldes.”

Mas, entre os filisteus, a Arca provocou grandes castigos: derrubou o ídolo deles, Dagon, causou-lhes doenças e suas terras começaram a ser devastadas por ratos (cf. I Sm 6, 5). Apavorados, eles a devolveram aos israelitas.

O Senhor trovejou sobre os filisteus

Transcorreram cerca de vinte anos. Foi “um longo período bem triste na História de Israel, sob o aspecto seja religioso, seja político: a nação teocrática humilhada sob o domínio dos filisteus, e particularmente sob o da idolatria mais grosseira”. De fato, muitos israelitas estavam adorando Baal e Astarte (cf. I Sm 7,4); o culto do primeiro era sanguinário e o de Astarte envolvia obscenidades.

Em determinada ocasião, Samuel ordenou “a toda casa de Israel” que eliminasse os ídolos que tinha consigo, pois assim os filisteus seriam vencidos. Os hebreus obedeceram ao profeta do Senhor.

Novamente os filisteus atacaram os israelitas. E Samuel ofereceu um cordeirinho em holocausto a Deus, rogando a intervenção divina. E o Senhor “trovejou com grande fragor sobre os filisteus, aterrorizando-os” (I Sm 7, 10). Então, os hebreus se lançaram contra eles e os destroçaram.

Pedem um rei para imitar os pagãos

Quando envelheceu, Samuel constituiu dois de seus filhos como juízes. Eles “não seguiam, porém, os caminhos de Samuel, mas, orientando-se pela ganância, aceitavam suborno e infringiam o direito” (I Sm 8, 3).

Então, os principais de Israel procuraram Samuel e, dizendo-lhe que ele já estava velho e seus filhos agiam mal, pediram ao profeta que estabelecesse um rei para governar o país, “como se faz em todos os povos” (I Sm 8, 5).

Nas circunstâncias em que essa solicitação foi feita, ela manifestava um desprezo da teocracia. E o pretexto alegado por eles, “como se faz em todos os povos”, demonstra que os hebreus não mais pautavam sua conduta pelo que agrada ao Altíssimo, mas queriam imitar os outros povos. Ora, nessa época somente os israelitas adoravam o verdadeiro Deus, e todos os outros povos eram idólatras.

Tal pedido desgostou Samuel, pois percebeu que no fundo eles estavam rejeitando-o. O profeta recorreu a Deus, que lhe respondeu: “Não é a ti que eles rejeitam, mas a Mim, para que Eu não reine mais sobre eles. Fazem o que sempre fizeram, desde o dia em que os tirei do Egito até hoje. Assim como me abandonaram e serviram a outros deuses, assim procedem contigo. Atende-os, mas adverte-os seriamente, dando-lhes a conhecer os direitos do rei que reinará sobre eles” (I Sm 8, 7-9).

Advertência de Samuel

Samuel reuniu os israelitas, transmitiu-lhes as palavras do Senhor e declarou-lhes que o rei teria sobre eles diversos direitos, entre os quais: mandaria os filhos deles fabricar armas, trabalhar em seus campos, e suas filhas para serem perfumistas e cozinheiras do rei. Além disso, exigiria dos habitantes o dízimo de suas colheitas e de seus rebanhos.

E acrescentou: “Clamareis ao Senhor por causa do rei que vós mesmos escolhestes, mas o Senhor não vos atenderá” (I Sm 8, 18).

Os hebreus não deram atenção às advertências de Samuel, e continuaram a pedir um rei, pois queriam “ser como todas as outras nações” (I Sm 8, 20).

O profeta transmitiu a Deus as palavras do povo, e o Altíssimo lhe disse que atendesse ao pedido dos israelitas.

Que Nossa Senhora nos obtenha a graça de sempre nos guiarmos pelo que Deus quer, e não pelo modo de agir da maioria dos homens.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada (47))

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1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v.II,p. 228.

2 – SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.100.

3 – FILLION, Louis-Claude. Op. cit. v. II, p. 240.

4 – Cf. Idem, ibidem, p.110.

5 – Cf. Idem, ibidem, p. 243.

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