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Deus rejeita Saul

Redação – (Terça-feira, 10/11/2015, Gaudium Press) – Por ter desobedecido às ordens divinas, transmitidas pelo profeta Samuel, Saul perdeu a realeza. O jovem Davi é ungido como rei.

Os filisteus reuniram uma multidão de soldados para combater os israelitas. Estes, vendo que estavam encurralados, “esconderam-se em grutas, cavernas, penhascos, covas e cisternas” (I Sm 13, 6); e alguns conseguiram fugir.

“Agiste como um insensato!”

Saul se encontrava com seus soldados em Guilgal, esperando Samuel para oferecer um sacrifício. Entretanto, passaram-se sete dias e o profeta não chegava. Apavorados, os soldados começaram a abandonar Saul.

Então, o próprio Saul ofereceu o holocausto, e logo depois chegou Samuel, que lhe disse: “Agiste como um insensato! Não guardaste o mandamento que o Senhor, teu Deus, te havia prescrito! O Senhor teria confirmado tua realeza sobre Israel […], mas agora o teu reino não subsistirá. O Senhor procurou para Si um homem conforme seu coração e o constituiu como chefe sobre o seu povo, porque tu não observaste o que o Senhor prescrevera” (I Sm 13, 13-14).

Saul partiu de Guilgal e foi para Gabaá, onde passou em revista as tropas que permaneceram com ele: eram apenas 600 homens. E todos sem espadas nem lanças, com exceção de Saul e seu filho Jônatas (cf. I Sm 13, 15.22).

Heroísmo de Jônatas

Nessa situação terrível, em que a desproporção entre o número de filisteus e de israelitas era clamorosa, Jônatas tomou uma resolução heroica.

Junto com seu escudeiro, Jônatas se dirigiu ao posto avançado dos filisteus; ambos atravessaram um desfiladeiro e, arrastando-se com os pés e as mãos, chegaram ao lugar almejado e mataram quase 20 filisteus.

Com isso o terror se apoderou do acampamento dos filisteus, e cada um fugiu numa direção. “Até a terra tremeu, e Deus causou o pânico” (I Sm 14, 15).

No meio da confusão, os filisteus se matavam entre si; e os hebreus que estavam escondidos nas montanhas desceram e se lançaram contra eles.

Terminada a guerra, o povo hebreu reconheceu que Jônatas foi “aquele que alcançou tão grande vitória para Israel” (I Sm 14, 45).

Saul vence os amalecitas, mas desobedece a Deus

Agora se tornava necessário batalhar contra outro povo, que havia tentado barrar o caminho dos hebreus quando saíam do Egito, em direção à Terra Prometida.

Samuel disse a Saul: “Assim fala a Senhor dos exércitos: […] Investe contra Amalec e vota ao interdito tudo o que lhe pertence, sem nada poupar. Matarás [todos os amalecitas] e também bois, ovelhas, camelos e jumentos” (I Sm 15, 2-3).

Saul partiu com 210.000 homens e derrotou-os, mas poupou Agag, rei de Amalec, bem como seus melhores animais.

Quando soube disso, Samuel entristeceu-se e passou a noite em oração. No dia seguinte, bem cedo, foi ao encontro de Saul e increpou-o por não ter obedecido a Deus. E Saul afirmou que mandara poupar os melhores bois e ovelhas, a fim de oferecê-los em sacrifício ao Senhor.

O profeta, então, replicou: “A obediência vale mais que o sacrifício […] A rebelião equivale a um pecado de magia, e a desobediência, a um crime de idolatria. Assim, porque rejeitaste a palavra do Senhor, Ele te rejeitou: tu não és mais rei” (I Sm 15, 22-23).

Samuel, então, ordenou que lhe trouxessem Agag, o qual tremia de pavor diante do profeta; e Samuel o “fez em pedaços na presença do Senhor” (I Sm 15, 33). Em seguida, voltou para sua casa, em Ramá, e nunca mais viu Saul.

A obediência vale mais que o sacrifício

Ensina o grande exegeta flamengo Cornélio a Lápide (1567-1637):

“A obediência é preferível aos sacrifícios: 1º – Porque a obediência é a imolação da vontade. O homem, diz São Bernardo, é tanto mais agradável a Deus quanto mais rapidamente se sacrifica com a espada do preceito, depois de haver reprimido o orgulho […]; 2º – Porque a obediência faz que nossa vontade se conforme à vontade de Deus, que é santíssimo e é a forma e a regra de toda virtude e santidade; 3º – Porque a obediência faz da vontade um sacrifício vivo e contínuo, enquanto que os antigos sacrifícios se compunham somente da carne dos animais sacrificados, e duravam poucos instantes. Neste sacrifício místico, mas muito nobre, a vontade morre, e sem embargo vive; morre para si mesma, e vive em Deus e na vontade divina.”[1]

Quem obedece aos seus superiores – evidentemente naquilo que não constitua pecado – imita Nosso Senhor que foi “obediente até a morte – e morte de cruz!” (Fl 2, 8).

Deus apareceu a Samuel e lhe ordenou que enchesse um chifre de azeite e fosse à casa de Jessé, em Belém, pois Ele escolhera um de seus filhos para ser rei.

Samuel dirigiu-se à residência de Jessé, o qual tinha oito filhos; quando viu um deles julgou, pela sua boa apresentação, que este era o escolhido. Mas Deus lhe disse: “Não te impressiones com a sua aparência, nem com a sua grande estatura; não é este que Eu quero. Meu olhar não é o dos homens: o homem vê a aparência, o Senhor vê o coração” (I Sm 16, 7)

Jessé chamou outros seis filhos, mas nenhum deles era o eleito. Tendo Samuel lhe perguntado se ali se encontravam todos os seus filhos, Jessé respondeu que o mais novo estava cuidando do rebanho. Obedecendo à ordem do profeta, Jessé mandou que o trouxessem: era um menino de belos olhos e muito boa aparência, chamado Davi.

Avisado por Deus de que era o escolhido, Samuel tomou o chifre com azeite e ungiu Davi. “E a partir daquele dia, o espírito do Senhor começou a ser enviado a Davi” (I Sm 16, 13).

Que a Santíssima Virgem nos obtenha a graça da perfeita obediência, para assim imitarmos seu Divino Filho e rejeitarmos as seduções do demônio.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada (49))
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1 – CORNÉLIO A LÁPIDE. Apud BARBIER, SJ, Jean-André. Tesoros de Cornelio a Lapide. Madri: Librerias de Miguel Olamendi e outros. 1866, v.III , p 467.

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