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Saul tenta matar Davi

Redação – (Terça-feira, 24/11/2015, Gaudium Press) – Após a morte de Golias e a derrota dos filisteus, Saul levou Davi consigo e não permitiu que ele voltasse à casa de seu pai.

Ao som de tamborins e címbalos, mulheres exaltam Davi

Jônatas, filho de Saul e grande guerreiro, admirava Davi pelo seu heroísmo e formou-se entre ambos uma santa amizade. É o primeiro exemplo de amizade narrado pela Sagrada Escritura.[1] Jônatas deu-lhe o que possuía de mais precioso: sua túnica, e “mesmo sua espada, seu arco e até seu cinturão” (I Sm 18, 4).

Saul enviou Davi para diversas expedições militares e, devido ao êxito que ele sempre obtinha, nomeou-o chefe dos guerreiros.

Voltando Davi de uma batalha em que foram destroçados os filisteus, as mulheres de Israel “saíram ao encontro de Saul, dançando e cantando alegremente ao som de tamborins e címbalos”. E cantavam:

“Saul matou aos milhares,

Davi, às dezenas de milhares” (I Sm 18, 6-7).

Ao invés de ficar alegre com esse reconhecimento do valor de Davi, Saul deixou-se arrastar pela inveja e chegou até mesmo a querer matá-lo.

Atentados criminosos de Saul contra Davi

Então, o “espírito deprimente” apoderou-se de Saul levando-o ao delírio. Para afastar essa agitação “produzida pelo demônio”[2] e tranquilizar Saul, Davi começou a tocar cítara. Mas o ímpio Saul arremessou uma lança contra Davi, que agilmente se esquivou; e, no mesmo dia, repetiu esse atentado criminoso.

Depois disso, Davi realizou diversas expedições e sempre saía vitorioso, pois “o Senhor estava com ele” (I Sm 18, 14).

Saul prometeu dar a Davi sua filha mais velha como esposa – a qual, aliás, já lhe pertencia de direito, como vencedor de Golias (cf. I Sm 17, 25) -, contanto que ele combatesse “nas guerras do Senhor” (I Sm 18, 17).
Guerras do Senhor porque “Israel, sendo o povo de Jeová, todas suas guerras eram guerras santas”.[3]

Mas Saul acabou fazendo com que ela se casasse com outro. Além de invejoso, Saul era mentiroso… Depois, deu-lhe sua filha Micol como esposa.

Uma estátua coberta com pele de cabra

Reunindo sua corte com seu filho Jônatas, Saul comunicou-lhes sua intenção de matar Davi. Mas Jônatas, em conversa com seu pai, defendeu Davi, dizendo que ele arriscara sua vida matando Golias e proporcionou grande vitória a todo Israel. Saul acabou concordando com seu filho, e Davi voltou para a corte onde retomou suas funções.

Novamente o ímpio Saul ficou tomado pelo espírito maligno, e Davi veio tocar harpa a fim de exorcizá-lo. Mas Saul repetiu o atentado homicida contra o fiel Davi, o qual se esquivou e a lança cravou-se na parede, tal a força com que fora arremessada. Depois disso, Davi dirigiu-se rapidamente para sua casa.

Sabendo que seu pai queria matar Davi, Micol fez com que ele descesse pela janela de sua residência para escapar com vida. Depois ela tomou uma estátua de ídolo, vestiu-a com um manto, cobriu sua cabeça com pele de cabra e colocou-a sobre a cama. “É incontestável que Davi […] ignorava a existência dessa estátua no interior de sua casa; tratava-se de uma superstição de Micol”.[4]
Saul mandou emissários para prender Davi, e Micol disse-lhes que ele estava doente. Então, Saul ordenou-lhes que o trouxessem “com cama e tudo” (I Sm 19, 15). Eles voltaram à casa de Davi, mas encontraram sobre o leito a estátua…

Escolas de profetas semelhantes às ordens religiosas

Dessa forma, inicia-se para Davi uma vida errante repleta de perigos, a qual só terminará com a morte de Saul.

Davi foi ao encontro do profeta Samuel, que se encontrava em Ramá, e contou-lhe tudo o que Saul fizera contra ele.

Em Ramá estava instalada uma das escolas de profetas, fundadas pelo Profeta Samuel. “Deixadas na sombra por algum tempo pelos escritores sagrados, elas reaparecerão, muito florescentes, na época de Elias e Eliseu.

Aqueles que as compunham nesse segundo período são chamados ‘filhos dos profetas’. Elas tinham alguma semelhança com as ordens religiosas, pois seus membros viviam juntos sob uma regra comum e sob um superior comum, dedicando-se à oração e ao estudo da Lei […]
Eles cumpriram uma missão importante em Israel, seja por seus exemplos de virtude, seja por seus protestos enérgicos contra a idolatria, seja redigindo os anais de sua nação”.[5]

Ao ser informado disso, Saul enviou um grupo de emissários para prender Davi, mas eles “foram tomados pelo espírito de Deus” (I Sm 19, 20) e nada fizeram contra Davi.

Isso aconteceu com um segundo e um terceiro grupo enviados por Saul. Explica Fillion que os emissários foram “tomados pela graça e mergulhados num êxtase sobrenatural, que lhes fez cantar louvores ao Senhor e esquecer completamente sua missão”.[6]

Depois o próprio Saul se dirigiu à localidade onde estavam Samuel e Davi, mas foi “aterrorizado por Deus e não pôde executar seu cruel desígnio”.[7]

Saul estava corroído pela inveja, a qual é definida por Santo Agostinho como sendo “o ódio pela felicidade de outros”. Segundo Bossuet, ela é “a mais baixa, a mais odiosa, a mais vituperada de todas as paixões; mas talvez a mais comum e da qual poucas almas se encontrem puras”.[8]

Que Maria Santíssima nos obtenha a graça da admiração humilde e desinteressada pelas pessoas virtuosas, e que jamais sejamos dominados pela inveja.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada (51))

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1 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné. 1923, v.II , p.286.
2 – Idem, ibidem, p. 287.
3 – Idem, ibidem, p. 288.
4 – Idem, ibidem, p. 291.
5 – Idem, ibidem, p. 292.
6 – Idem, ibidem, p. 292.
7 – Idem, ibidem, p. 293.
8 – CORNÉLIO A LÁPIDE. In BARBIER, SJ, Jean-André. Tesoros de Cornelio a Lapide. Madri: Librerias de Miguel Olamendi e outros. 1866, v. II, p.123.

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