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Revolta de Absalão

Redação – (Segunda-feira, 01/02/2016, Gaudium Press) – Grande foi a dor de Davi quando faleceu seu filho recém-nascido, fruto de sua união pecaminosa com Betsabeia, esposa de Urias. Após a morte deste, o Rei se casou com Betsabeia, a qual deu à luz outro filho que recebeu o nome de Salomão.

Fraticida e demagogo

Mas logo depois “a via das expiações iria se abrir sob os passos de Davi”1, como havia sido anunciado pelo profeta Natã. Um dos filhos prediletos de Davi,

Absalão, assassinou um de seus meios-irmãos e fugiu de Jerusalém. Passados três anos, Davi permitiu, a instâncias de Joab, chefe de seu exército, que o fraticida Absalão voltasse, mas que não se apresentasse ao Rei.

Após dois anos de sua permanência em Jerusalém, Davi consentiu em recebê-lo. Absalão se prosternou diante do Rei, que o perdoou. Como veremos, essa atitude de Absalão foi meramente formal, pois não estava sinceramente arrependido de seu crime.

Absalão tinha um aspecto formoso e “era muito elogiado” (II Sm 14, 25). Possuía grande cabelereira pela qual se envaidecia. Movido por suas paixões desordenadas, em especial a do orgulho, ele começou a tomar atitudes demagógicas junto ao povo.

Ficava junto à porta de Jerusalém e abordava aqueles que, devido a problemas pessoais, vinham pedir justiça ao Rei. Absalão criticava os juízes reais e, indiretamente, o próprio monarca. E usava familiaridades: “Quando alguém se aproximava para prostrar-se diante dele, estendia-lhe a mão, abraçava-o e beijava-o. Assim, […] seduzia o coração dos israelitas” (II Sm 15, 5-6). Durante quatro anos, ele desse modo urdiu a usurpação que meditava. Evidentemente,

Davi, guerreiro experiente, percebeu essa infame manobra, mas não puniu seu filho primogênito para evitar acrescer suas desgraças domésticas com a eclosão de novo escândalo 2. Entretanto, maiores tragédias ocorrerão logo depois.

Fuga de Davi

Certo dia, Absalão pediu permissão a Davi para ir a Hebron, a fim de oferecer um sacrifício a Deus. Davi o autorizou, e Absalão enviou mensageiros a todas as tribos de Israel, conclamando-as a proclamá-lo rei em Hebron. Tais mensageiros eram na verdade espiões “porque eles enviam sondar discretamente a opinião pública, e ganhar em segredo partidários para seu mestre”.3

Assim que tomou conhecimento dessa traição, Davi disse a seus servos que Absalão viria para Jerusalém, e todos precisavam fugir com Davi, pois do contrário seriam passados ao fio da espada do traidor. O Rei tomou essa decisão porque, “tomado de improviso e abandonado por grande número de seus súditos, ele não tinha muitos soldados para resistir”. 4

O Rei, acompanhado de seus fiéis, atravessou a torrente do Cedron, que separa a cidade de Jerusalém do Monte das Oliveiras. “Davi caminhava chorando, enquanto subia o Monte das Oliveiras, com a cabeça coberta e os pés descalços” (II Sm 15, 30).

“Este era o caminho que uma Outra vítima, imolada para a salvação do mundo, devia seguir mil anos mais tarde, começando assim a via dolorosa que conduziu Jesus Cristo, Filho de Deus e descendente de Davi, à árvore sangrenta do Calvário.”5

Davi ordenou que a Arca da Aliança ficasse em Jerusalém, e designou os sacerdotes Sadoc e Abiatar para a guardarem.

“Suspenso entre o céu e a terra”

Absalão entrou em Jerusalém, no meio de aclamações do povo; numa tenda armada no terraço do palácio real, cometeu hediondos pecados “diante de todo o Israel” (II Sm 16, 22) e, com seus soldados, foi em busca de seu pai Davi a fim de matá-lo.

Davi com os seus atravessou o Rio Jordão. Logo depois, Absalão fez o mesmo, e os dois exércitos – o do filho contra o do pai – iam se defrontar. Os três chefes do exército de Davi pediram-lhe que não participasse da batalha. Ele concordou e recomendou-lhes: “Por favor, tratai bem o jovem Absalão” (II Sm 18, Deu-se o choque e o exército de Davi venceu o do traidor Absalão. A batalha foi tão violenta que “houve uma mortandade de 20.000 homens” (II Sm 18, 7).

Montado numa mula, Absalão tentou fugir, mas, galopando através de um bosque, sua cabeça ficou presa nos galhos de um carvalho e o animal seguiu em frente, de tal modo que “ele ficou suspenso entre o céu e a terra” (II Sm 18, 9).

Avisado do que sucedera, Joab foi até o local e matou Absalão com dardos; o cadáver foi lançado numa fossa e sobre ele foi jogada uma grande quantidade de pedras.

Quando soube da morte de Absalão, Davi “caiu em prantos. Dizia entre soluços: ‘Meu filho Absalão! […] Por que não morri eu em teu lugar? ” (II Sm 19, 1)

Depois, Davi iniciou sua volta a Jerusalém, acompanhado pelos da tribo de Judá, mas dez tribos separaram-se do Rei para seguir um revoltado chamado Seba; os de Levi – a tribo sacerdotal – não são mencionados nessa circunstância. Mas Joab derrotou os revoltosos.

Que a Santíssima Virgem faça com que nos compenetremos da seguinte verdade: só a virtude traz felicidade; o pecado ocasiona todo tipo de desgraças.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada (58))

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1 – DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église depuis la Création jusqu’à nos jours.Paris : Louis Vivès. 1874. v. 2, p 387.

2 – Cf. DARRAS, op. cit. v. 2, p. 391-392.

3 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné. 1923, v.II, p. 385. 4 – Idem, ibidem, p. 386
5 – DARRAS, op. cit. v. 2, p. 394-395.

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