Gaudium news > Como será o culto eucarístico do século XXI?

Como será o culto eucarístico do século XXI?

Redação (Quarta-feira, 03-02-2016, Gaudium Press) A Igreja, Corpo Místico de Cristo formado pelo povo de Deus, é uma realidade viva, “sem mancha nem ruga, nem coisa parecida, mas santa e imaculada” (Ef 5, 27), apesar dos defeitos que tem os seus membros.

Um organismo vivo em constante crescimento

Animada pelo Espírito Santo, atravessa os séculos em permanente regeneração. Nada é mais contrário à verdade que imaginá-la como uma espécie de paraíso ideal, composto por seres impecáveis, alheios à cotidianidade do mundo; ou então, como um museu cheio de veneráveis -ou desprezíveis…- peças de coleção que seriam seus dogmas e ritos. São duas ideias correntes e erradas que seus inimigos e seus filhos tíbios costumam ter da Igreja.

Outro erro ou mal entendido consiste em pensar que o modelo definitivo e acabado a respeito dela é o dos Atos dos Apóstolos, e que, portanto, teria que “refazer” a Igreja tal como se vivia nas primeiras comunidades. Trata-se de uma simplificação irrealizável.

Recuperar seu espírito primogênito? De acordo. Mas conservando aquilo que já foi enriquecendo ao longo dos séculos, tanto em seu ensinamento como em seus ritos. Porque, ao ser um organismo vivo, a Igreja produz vida e está em permanente crescimento, da mesma forma que seu divino Esposo, do que nos diz o evangelista que “crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens” (Lc 2, 52).

Da fração do Pão à Adoração Eucarística

Esse crescimento podemos perceber claramente no que se refere ao culto eucarístico. Façamos uma breve resenha de seu desenvolvimento no tempo.

Nos primeiros dez séculos, os fiéis sempre se congregavam para a fração do pão eucarístico, a Missa, e praticamente só se adorava publicamente ao Senhor sacramentado durante o momento da celebração. Acabada esta, ficava a reserva do Santíssimo para levá-lo aos ausentes e aos enfermos.

Mas no segundo milênio, na Igreja no Ocidente, de rito latino, as homenagens à Eucaristia foram desenvolvendo-se gradativamente.

No século XI, a reserva do Santíssimo Sacramento vai se transladando progressivamente das sacristias aos templos. No século seguinte aparece a elevação na celebração da Missa: se mostra a Hóstia para que os fiéis a adorem, com o que saciam seu desejo de ver e de participar melhor no culto. Já no século XIII começam as procissões públicas com o Santíssimo e se estabelece nos calendários litúrgicos a festa de Corpus Christi.

No século XIV em certos lugares da Europa começa a colocar-se a Hóstia no ostensório para que possa ser vista e adorada pelos fiéis fora da Missa. No século posterior surge a celebração das Quarenta Horas, em recordação ao tempo em que o Senhor passou no sepulcro; se realizavam em ocasiões de necessidade ou ação de graças.

Durante o período chamado “Renascimento” (séculos XV e XVI) o sacrário se colocou sobre o altar maior, ficando assim no centro das atenções. Toda esta exaltação da Eucaristia ia acompanhada de um sólido desenvolvimento doutrinal, dentro do qual a teologia de São Tomás de Aquino e os documentos do Concílio de Trento têm um papel saliente.

Na Espanha, o culto público à Sagrada Eucaristia toma novo vigor a partir das iniciativas de Teresa Enríquez (1450-1529), a “Louca do Sacramento”, que fazem multiplicar as confrarias de adoração.

Na Idade Moderna e na Contemporânea se difunde a prática das visitas regulares a Jesus Sacramentado graças ao impulso dado por Santo Alfonso Maria de Ligório.

A graça da comunhão frequente

No século XIX surge na França a figura profética de São Pedro Julião Eymard que está na origem da Adoração Eucarística com exposição e bênção solene, uma prática que foi sendo adotada por todas as paróquias, congregações e movimentos eclesiais. Também tem início os Congressos Eucarísticos Internacionais que ao longo do século XX adquiriram enorme relevância na vida da Igreja.

No princípio do século XX, o Papa São Pio X publicava importantes documentos que abriram as portas à comunhão frequente e cotidiana, e a comunhão precoce das crianças, duas novidades que contribuíram bastante ao bem da comunidade cristã em particular, e da sociedade em geral.

E durante o longo pontificado de João Paulo II veio à luz em 2003 a encíclica Ecclesia de Eucharistia, que põem nitidamente o Sacramento do Altar na origem, coração e meta da vida da Igreja.

Duas décadas antes, o Código de Direito Canônico promulgado em 1983, permite aos fiéis a possibilidade de comungar duas vezes por dia, sempre que a segunda comunhão se receba participando em uma Missa (Canon 917) E pensar que há não muito tempo se podia comungar somente de vez em quando, com autorização do confessor, e que alguns grupos de fiéis, como comerciantes ou pessoas casadas, raramente tinham essa graça!

Para dizer a verdade, seria interminável referir aqui todas as manifestações do crescimento da presença da Eucaristia na vida da Igreja. Mas este breve enunciado, nos servirá para ver como é ela: uma Mãe generosa, que cresce em dadivosidade para com seus filhos aos quais alimenta com o divino Manjar. Que nos reservará o século XXI como nova riqueza em relação à Eucaristia?

Por Padre Rafael Ibarguren Schindler, EP

Assistente Eclesiástico da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja

(Publicado originalmente como Mensag del Asistente Eclesiástico, en www.opera-eucharistica.org)

Traduzido do espanhol por Emílio Portugal Coutinho

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas