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A Maravilha da Liturgia

Redação – (Terça-feira, 03/05/2016, Gaudium Press) – Caro leitor, já lhe aconteceu de entrar numa igreja, e extasiar-te diante das maravilhas dentro encontradas? Às vezes são obras de arte dos séculos passados ou relíquias de santos que lembram a vida dos justos na terra! Mas, quantas vezes também, a alma do visitante “se eleva até os pés de Deus ao som do órgão, ao desenrolar grave e compassado da música sacra…”.

Pode acontecer isso numa antiga e majestosa catedral gótica, que retém nas suas ogivas seculares uns restos de claridade coada através dos vitrais, enquanto some no céu, lentamente, um sol crepuscular. Mas também, e quantas vezes, ocorre numa igreja operária, na qual se podem observar mulheres paupérrimas, mendigos, operários exaustos, e miseráveis dos arrabaldes, que vão dirigir a Deus, depois de um dia de intenso trabalho, preces confiantes.

Mas, tanto num templo quanto noutro, invariavelmente, de dentro do sacrário, o Senhor invisível os consola a todos, repetindo, sem palavras, o sermão da montanha: “Bem-aventurados os que choram, os que sofrem, os que têm sede de justiça…”

Uma linguagem sacra

Tudo isso forma parte da linguagem da Igreja, que através dos ambientes criado por ela na Casa de Deus, que é o templo católico, nos facilita o contato com o sobrenatural e predispõe nossas almas para a graça de Deus.

Nós, homens, comunicamos certas notas ao ambiente onde estamos. Mais ainda, temos gestos, atitudes e modos de falar que exprimem nossa mentalidade e são coerentes com ela, são sintomas dela.

Ora, na Igreja, passa-se algo parecido: todos os gestos da liturgia católica revelam a mesma mentalidade, como se fosse o gesticular de uma só pessoa.

Seja numa Missa, numa bênção do Santíssimo, num casamento, num batizado ou quando um enfermo recebe a unção, que vai ajudá-lo a superar a doença ou prepará-lo para a vida eterna, sempre nos acolhe a mesma linguagem sagrada expressa de modos diversos, segundo as circunstâncias.

Ação sagrada por excelência

Mas, o que é propriamente a liturgia? Ela é uma realidade viva e rica ao mesmo tempo, compreensível unicamente pelos que nela participam e que não se deixa facilmente fechar num só conceito.

Às vezes nos equivocamos quando pensamos que a liturgia da Igreja é apenas a parte externa e sensível do culto divino ou um belo aparato cerimonial. Ou então as normas com que a hierarquia ordena os ritos sagrados.

Pio XII, na encíclica Mediator Dei (1958), rejeitou semelhantes apreciações e sublinhou a realidade sobrenatural da liturgia ao dizer que ela é o exercício da função sacerdotal de Cristo.

E o Concílio Vaticano II (1963), retomando essa mesma idéia, explicitou que na liturgia “os sinais sensíveis significam e, cada um à sua maneira, realizam a santificação dos homens; nela, o Corpo Místico de Jesus Cristo – cabeça e membros – presta a Deus o culto público integral. Portanto, qualquer celebração litúrgica é, por ser obra de Cristo sacerdote e do seu Corpo que é a Igreja, ação sagrada por excelência, cuja eficácia, com o mesmo título e no mesmo grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja”.

Quando, no alto da Cruz, o Divino Salvador morreu por nós, do seu costado divino brotou a Igreja, que ao longo dos tempos foi configurando a sua liturgia, com características próprias para cada povo da terra, fazendo assim uma recapitulação da obra da Salvação: com Jesus Cristo, finaliza a época dos símbolos e começa a época do simbolizado; termina a figura e se presenta ao mundo a figura que inaugura o culto “em espirito e verdade” (Jo 4, 24).

Por isso, a liturgia terrestre, quando bem realizada, com amor, piedade e beleza, convida os fiéis a pregustar já a liturgia celeste da “cidade santa, a nova Jerusalém” (Ap 21, 2).

Modelando os homens

Bento XVI, ao ser interpelado a respeito do que faz falta para uma verdadeira e reta renovação na Igreja, responde simplesmente dizendo que o destino da fé e da Igreja se define, mais do que noutro lugar, no contexto da liturgia. Porque onde os homens nos pomos em comunicação com Deus, onde podemos “tocá-lO” e onde recebemos instrução e força, é na ação litúrgica. Nós saímos de nós mesmos para ir além, entregarmo-nos a Deus e deixarmo-nos “tocar” por Ele: é a experiência de Deus vivida em comunidade.

Se todas as igrejas, cada uma na medida das suas possibilidades, cuidasse da sua liturgia nas atitudes, movimentos, sons, ornamentos e vasos sagrados, palavras, orações, etc. com esta perspectiva, não é verdade que muitas pessoas que se afastaram não tê-lo-iam feito?

Compenetremo-nos e saibamos explicar que a Igreja é uma instituição existente desde Jesus Cristo até hoje. Ela transmite um conjunto de convicções (são as verdades da fé), um conjunto de normas (são as leis da moral). A Igreja não é um conjunto de livros, mas um conjunto de virtudes praticadas e transmitidas de geração em geração. Tais virtudes, efetivação na vida humana dos ensinamentos propostos pela fé e indicados pela moral, vão assim modelando os homens em todos os lugares do mundo e em todos os tempos.

José Alejandro Mendoza, para a Gaudium Press.

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1 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Legionário, nº 93. São Paulo, 1932.
2 – MARTIMORT, Aimé Georges. La Iglesia en Oración. Introducción a la Liturgia. Barcelona: Herder, 1992, p. 41-44.
3 – CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia, n. 7.
4 – FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, Pedro. Introducción a la liturgia. Conocer y celebrar. Madrid: San Esteban-Edibesa, 2005, p. 243.
5 – BENEDICTO XVI. Luz del mundo. El Papa, la Iglesia y los signos de los tiempos. Una conversación con Peter Seewald. Bogotá: Herder, 2010. p. 163-165.

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