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Judite corta a cabeça de Holofernes

Redação – (Terça-feira, 06/09/2016, Gaudium Press) – Depois que os chefes de Betúlia se retiraram, Judite com ardorosa fé prosternou-se e em altos brados dirigiu a Deus uma belíssima oração, na qual recordava ao Criador suas intervenções justiceiras na História de Israel e acrescentava:

Belíssimos adornos para prestar um serviço a Deus

“Senhor, escuta esta viúva! Aí estão os assírios cheios de orgulho; eles quiseram profanar teu Santuário. Olha para a soberba deles, e descarrega a tua ira em suas cabeças! Dá força à mão desta viúva, para eu fazer aquilo que planejei! Esmaga a altivez de Holofernes pelas mãos de uma mulher, pois Tu és o Deus dos humildes, o socorro dos mais pequenos, o defensor dos fracos, o protetor dos rejeitados, o salvador dos desesperados” (cf. Jt 9, 4-14).

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Terminada sua prece, Judite vestiu-se com traje de gala, ungiu-se com um perfume especial, colocou na cabeça um diadema refulgente de pedrarias, enfeitou-se com um colar de pérolas, braceletes, anéis, brincos e calçou sandálias bordadas de ouro; essas sandálias eram tão bonitas que iriam arrebatar os olhos de Holofernes (cf. Jt 16, 9).

Afirma o padre Darrras que Deus, vendo a reta intenção de Judite, acrescentou charmes à sua beleza natural, de sorte que ela parecia espargir um brilho incomparável. E Plinio Corrêa de Oliveira esclarece que Judite se adornou, “não por snobismo nem por pretensões de vaidade e muito menos por razões sensuais, mas pela alegria de ver transluzir no seu exterior uma beleza interior a qual Deus lhe deu, e que é bom, nobre, digno; convém, está de acordo com a ordem das coisas que transluza; [ seu objetivo era prestar] um serviço a Deus”.

Judite vai até a tenda de Holofernes

Judite apanhou um odre de vinho, uma bilha de azeite, farinha de cevada, massa de figos, pães e queijos e colocou tudo numa sacola, a qual ela entregou a uma de suas servas. Ambas saíram da cidade de Betúlia e conseguiram chegar até a tenda onde estava Holofernes, que repousava “debaixo de um cortinado tecido em púrpura, ouro, esmeralda e pedras preciosas” (Jt 10, 21).

Notemos como naquela época os judeus, e mesmo certos povos pagãos, admiravam a pulcritude: até num acampamento de guerra havia um cortinado com pedras preciosas…

O comandante a recebeu e Judite lhe narrou a terrível situação em que se encontravam os israelitas, os quais estavam na iminência de cometer um grande pecado e, se de fato o praticassem, se tornariam escravos de Holofernes. E acrescentou que ela resolvera deixar Betúlia para realizar com Holofernes “uma façanha, da qual se admirará toda a Terra” (Jt 11, 16).

E disse ela que sairia todas as noites até o vale, a fim de que Deus a informasse a respeito do momento em que os hebreus pecassem, pois nessa hora ela viria informar Holofernes que poderia partir para dominá-los. Admirado pela majestade e graça de Judite, bem como por sua elevação de ideias e de linguagem, o generalíssimo atendeu ao pedido dela.

Assim, Judite permaneceu no acampamento por três dias, e às noites saía de sua tenda e se dirigia ao vale para rezar.

“Tu és bendita, mais que todas as mulheres da Terra”

No quarto dia, Holofernes fez um grande banquete e convidou Judite para dele participar. Ela se enfeitou com suas vestes e todos os adornos femininos, e foi à tenda de Holofernes, onde se iniciou a lauta refeição.

Os convivas foram se retirando e, em certo momento, na tenda só ficaram Judite e Holofernes, o qual bebeu tanto que caiu “em seu leito, afogado no vinho” (Jt 13, 2).

Ela, então, invocou o Altíssimo, tomou a espada de Holofernes e, com energia e decisão, cortou-lhe a cabeça e arrancou das colunas o cortinado. A serva de Judite aguardava do lado de fora; Judite lhe entregou a cabeça decepada, que foi posta na sacola de provisões. E ambas saíram juntas, caminhando como se fossem para a oração noturna.

Contornaram o vale e se dirigiram até a porta da muralha de Betúlia. Acolhidas por todo o povo com alegria, foi acesa uma fogueira para serem vistas com maior clareza, pois ainda era noite. Judite, então, falou aos brados:

“Louvai o nosso Senhor, louvai-O porque não retirou a sua misericórdia da casa de Israel, mas esmagou os nossos inimigos pela minha mão nesta noite!” (Jt 13, 14).

Depois lhes mostrou a cabeça de Holofernes e o cortinado de sua tenda, dizendo: “O Senhor o matou pela mão de uma mulher!” E acrescentou: Holofernes “não me manchou nem me causou a vergonha!” (Jt 13, 15-16).

Então Ozias, o principal chefe de Betúlia, disse: “Tu és bendita, ó filha, pelo Deus altíssimo, mais que todas as mulheres da Terra” (Jt 13, 18).

Mas a atividade beligerante de Judite não cessou aí. Ela em seguida deu as instruções: a cabeça de Holofernes deveria ser pendurada no parapeito da muralha e, quando raiasse a aurora, todos os guerreiros tomariam suas armas e investiriam contra o primeiro destacamento dos assírios. Estes iriam correndo até a tenda de Holofernes e, vendo o seu corpo decepado, fugiriam apavorados; e os hebreus os perseguiriam, matando-os.

Antes que isso fosse realizado, Judite mandou chamar Aquior, o chefe amonita que anteriormente explicara a Holofernes quem eram os hebreus. Ao ver a cabeça do general assírio, Aquior o reconheceu, prosternou-se aos pés de Judite, louvou-a e pediu que ela contasse como eliminara Holofernes.

Após narrar diante de todos o que ela fizera, “o povo prorrompeu numa ruidosa alegria, enchendo a cidade com gritos de júbilo” (Jt 14, 9). Em seguida, Aquior se converteu à verdadeira Religião.

Ao despontar o dia, tudo foi feito como Judite ordenara. E os assírios foram massacrados pelos habitantes de Betúlia, e também por judeus que vieram das mais variadas regiões.

Humanamente falando, o ato heroico de Judite não poderia ser realizado; somente pela ajuda de uma graça divina ela eliminou tão poderoso inimigo. Assim também nós, diante de tantos adversários da Santa Igreja e de nossas almas, precisamos de muitas graças. Peçamos, então, à Mãe da Divina Graça que nos dê forças.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 82)

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1 – Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église depuis la Création jusqu’à nos jours.
Paris : Louis Vivès. 1863. v. III, p. 136.

2 – Conferência em 14/11/1969.

3 – Cf. DARRAS, op. cit. p. 139.

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