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“Ó vós todos os que passai pelo caminho!”

Redação (Quinta-feira, 13-10-2016, Gaudium Press) Devido às abominações praticadas em Judá, Jeremias increpa seus habitantes com “palavras tão eloquentes, imagens tão vivas e tão variadas, sentimentos tão ternos, que sua eloquência supera ao do próprio Isaías.”

Bobeira diante dos crimes mais hediondos

E anuncia com grande vigor os castigos que cairão sobre eles, caso não se arrependam; por isso, Jeremias é chamado, pelo grande exegeta Padre Fillion, “profeta da vingança divina”.

Eis alguns exemplos de increpações feitas por Jeremias:

– O Reino cismático de Israel fora destruído, em 721 a. C., e o de Judá sofrera várias e desastrosas derrotas. Mas os habitantes deste último “não aprenderam a lição! Tornaram sua fronte dura como pedra, recusaram-se a mudar de direção” (Jr 5, 3), ou seja, não se converteram.

– “Não sabem o que é ter vergonha!” (6, 15). “Foram além dos limites da maldade” (5, 28). Dizem “apenas: Paz! Paz! quando paz verdadeira não existe” (6, 14).

– Construíram altares “para assar ao fogo suas crianças” (7, 31), em holocausto aos ídolos.

– “Vossos próprios erros expulsaram o bem-estar” (5, 25).

– “O meu povo é tolo, a Mim ele jamais conheceu, gente boba e ignorante, sábios para o mal, não sabem o que é fazer o bem” (4, 22).

– Os falsos “profetas profetizam mentiras, os sacerdotes batem palmas” (Jr 5, 31).

Essas increpações se aplicam também ao mundo hodierno, onde, por exemplo, a falta de vergonha em praticar imoralidades, a matança de inocentes e a bobeira face aos crimes mais hediondos imperam.

Jeremias é lançado numa cisterna

Jeremias dizia a todo o povo que Jerusalém seria tomada pelo Rei da Babilônia.

Manobrados por certos indivíduos – entre os quais um filho do sacerdote Fassur -, altos funcionários da corte, com a aprovação do péssimo Sedecias, nomeado Rei de Judá por Nabucodonosor, agarraram o Profeta e, através de uma corda, o colocaram numa cisterna na qual não havia água, mas apenas barro; e Jeremias ficou atolado na lama.

Um funcionário etíope, de raça negra, disse a Sedecias que era injusto deixar Jeremias morrer de fome, no fundo de um poço. O Rei mandou que o Profeta fosse retirado da cisterna, mas o manteve na prisão.

Como veremos, Sedecias foi depois terrivelmente castigado pelos caldeus, e o funcionário negro, que tão valorosamente defendera o Profeta, poupado pelos invasores (cf. Jr 39, 16-18).

Quando conquistou Jerusalém, Nabucodonosor ordenou ao chefe de seu exército que retirasse Jeremias do cárcere e não lhe fizesse mal algum.

Jeremias foi libertado, mas acabou sendo posto, acorrentado, entre os outros habitantes da cidade que eram levados ao cativeiro da Babilônia. Chegando esse lúgubre cortejo em Ramá, o chefe da guarda dos caldeus tirou Jeremias do meio deles, libertou-o das correntes que prendiam seus punhos, deu-lhe alimentos, água potável e disse-lhe que poderia ir para o lugar que julgasse melhor. O Profeta se dirigiu à casa do hebreu Godolias, nomeado governador das cidades de Judá por Nabucodonosor, o qual lhe deu proteção.

Morre lapidado no Egito

Depois Jeremias foi para o lugar onde havia as ruínas de Jerusalém e do Templo e, banhado em lágrimas (cf. Lm 2, 11), compôs as comoventes “Lamentações”. Uma delas afirma:

“Ó vós todos os que passai pelo caminho, atendei e vede se há dor semelhante à dor que me atormenta” ( Lm 1, 12). Essas palavras são atribuídas a Nosso Senhor na Paixão e à Santíssima Virgem, quando encontrou seu Divino Filho carregando a Cruz. E Plinio Corrêa de Oliveira “as aplicava à Santa Igreja, Esposa Mística de Cristo, na situação contemporânea, em tantos aspectos semelhante à Via–Sacra: vilipendiada por muitos, abandonada por tantos e, por que não o dizer, com frequência traída por seus próprios filhos.”

O Templo de Salomão foi queimado um mês depois da destruição de Jerusalém. E antes do incêndio, valendo-se do apoio dos caldeus, Jeremias, com ajuda de outros fieis a Deus, levou até o Monte Nebo o Tabernáculo, a Arca da Aliança e o altar dos perfumes, e os colocou numa gruta declarando: Esse “lugar ficará desconhecido, até que Deus restaure a unidade do seu povo e manifeste a sua misericórdia” (II Mc 2, 7). Afirma o Padre Fillion que, segundo Cornélio a Lápide, esse local somente será descoberto no fim do mundo.

Godolias foi assassinado e os judeus que permaneceram em Judá pediram a Jeremias que consultasse a Deus sobre o caminho que deveriam seguir.

Estava claro para o Profeta que esses judeus queriam ir para o Egito, onde julgavam conseguir proteção do Faraó. Então Jeremias, inspirado pelo Altíssimo, os advertiu de que não fossem de nenhum modo para o Egito; e se não obedecessem a Deus seriam “amaldiçoados, desgraçados, desprezados e envergonhados”. E acrescentou: “Ficai, pois, sabendo: no lugar onde vos quereis refugiar, morrereis à espada, de fome ou de peste” (Jr 42, 18).

Ouvindo isso, os judeus se revoltaram contra Jeremias, no fundo contra o próprio Deus, e partiram para o Egito, levando também Jeremias e Baruc, seu secretário.

E no Egito, tendo eles adorado ídolos, Jeremias increpou-os duramente. Cheios de ódio, esses judeus empedernidos o mataram a pedradas.

O Profeta Jeremias é santo e sua memória se comemora em 1º de maio. Peçamos-lhe que nos ajude a execrarmos as abominações praticadas em todo o mundo, e desejarmos ardentemente que elas cessem e venha logo o Reino de Maria, prometido por Nossa Senhora em Fátima.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada – 87)


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1 – FUSTER, Eloíno Nácar e COLUNGA, Alberto OP. Sagrada Biblia – versión directa de las lenguas originales. 11.ed. Madrid: BAC. 1961, p 819.
2 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – La Prophétie de Jérémie. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p.516.
3 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira. Cidade do Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapintiae. 2016, v. IV, p.153.

4 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Les livres des Machabées. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 800.

5 – Cf. MATOS SOARES, Manuel. Bíblia Sagrada. 6 ed. Porto: Tip. Sociedade de Papelaria. 1956, p. 338.

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