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Os novíssimos

Redação (Quinta-feira, 03-11-2016, Gaudium Press) Quando vemos o mundo que nos rodeia ficamos não poucas vezes atemorizados diante dos surpreendentes acontecimentos que vão se sucedendo. É um atentado em um aeroporto no qual as vítimas, em sua maioria turistas, inesperadamente se encontram com a morte. É um terremoto que causa centenas de vítimas. É um atropelamento sobre uma multidão, com muitas crianças presentes, de um caminhão, deixando numerosíssimos mortos e feridos. A triste notícia diária de mortes pela violência delinquente. Não caem no esquecimento os tsunamis, na Indonésia e Japão, que arrastaram tantas e tantas pessoas até a eternidade. Os incêndios, os furacões, as inundações, as secas, as epidemias. Guerras, tanto internas como entre países, com o risco de bombas atômicas ou bacteriológicas.

Tudo isto nos leva a pensar na afirmação de Santo Afonso Maria de Ligório: “Nada mais certo que a morte, nada mais incerto que a hora da morte”. Lei inexorável, universal, que ninguém poderá abolir. Questão, como verão, “espinhosa” de falar. É a delicada situação do sacerdote que celebra uma missa de corpo presente, ou do último dia do novenário de falecimento.

Certa vez, terminada a Santa Missa, se aproximou da sacristia um irmão do falecido e me disse: “o felicito, padre, pois você falou o que poucos falam nestes momentos de dor: da morte”. Não sabia o que lhe responder, apenas lhe disse que as homilias têm que ser correspondentes ao momento. Se é um casamento, pois será sobre a beleza do Matrimônio, das cruzes que enfrentarão, de sua fidelidade até a morte. Claro, se é de um Batismo, a alegria de que este menino ou menina passará a ser filho de Deus, da beleza do ritual, explicando em cada momento seu significado. Se é de Primeira Comunhão, pelo Evangelho que normalmente se escolhe: “deixai que as crianças venham a mim”, destacar que o ser como crianças é manter a inocência batismal; e para a própria criança assinalar-lhe a graça de poder receber a Jesus Sacramentado. Se é uma Unção dos Enfermos, dependerá de cada um; mas se é de agonia, sobressaltar-lhe que está entrando no momento mais importante de sua vida, a passagem à eternidade, falar-lhe muito do papel da misericórdia, de voltar-se à Santíssima Virgem como intercessora diante do Supremo Juiz, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Somos peregrinos rumo ao paraíso celeste. A morte é um momento terrível e grandioso. O juízo, circunstância tão especial pela qual passaremos todos -sem exceção-, mesmo aqueles que não acreditam que pode ocorrer por considerar que “post mortem” apenas seremos pasto de vermes. São os que não creem na eternidade, que afirmam que não estamos compostos de corpo e alma, e que a alma não é eterna.

Vemos que, é um tema que quase ninguém quer ouvir falar, mas, de seu conhecimento, depende a salvação eterna de cada um. Poucos conhecem o que são os Novíssimos, quer dizer, os últimos momentos, o fim. Pode apresentar-se quando menos pensamos, subitamente, como um relâmpago; de improviso, como um ladrão na noite.

A exortação bíblica: “Pensa em teus novíssimos e não pecarás eternamente” (Eclo 7, 40), nos convida a meditar na morte, o juízo e suas imediatas consequências: o Céu ou o Inferno.

Falar ou escrever sobre os novíssimos têm sido matéria de muitos livros, não é fácil transmiti-los em um simples artigo jornalístico. Tentaremos umas pinceladas dos dois primeiros -a morte e o juízo- pois são os momentos em que ficará definido nosso futuro para o Céu ou para o inferno. Creio serão um bem espiritual para todos.

Para todos? Melhor dizermos para os que tenham o coração aberto à voz de Deus, que atuando com sua graça e misericórdia, nos sustentará nesses cruciais momentos pelos quais todos passaremos: a morte.

Alguém poderá dizer: “não é um pouco traumatizante pensar na morte?”. Não, responderia, pois os que consideram amargo pensar nela, é por apego que tem as coisas da terra, pelo remorso de seus pecados e pela incerteza de sua própria salvação.

Será tranquilizante, pelo contrário, se pensamos em nosso acionar diário, em nossa preocupação pelo cumprimento dos Mandamentos, em estar compenetrados de voltar-nos a Deus a todo momento e, principalmente, de não deixar-nos atropelar pelo mundo distante de Deus em que vivemos.

Por isso Nosso Senhor nos convida a estar “preparados, pois a hora que menos pensar, vem o Filho do Homem” (Mt 24, 42). Se há algo desconhecido para nós é o dia e a hora. Será uma vez, não sabemos em que situação; será repentinamente, quando menos esperamos. Nesta “viagem” caminho à eternidade, não poderemos levar absolutamente nada das coisas materiais que tenhamos acumulado. Bem alertava Jesus, na parábola à multidão, sobre o homem que acumulava bens pensando em descansar, comer, beber: “Mas Deus lhe disse: Insensato! Nesta mesma noite te pedirão a alma e tudo o que acumulou, para quem será?” (Lc 12, 19-20).

Não há coisa mais importante, queridos irmãos, que o instante de nossa morte, dele depende nossa eterna bem-aventurança ou nossa eterna desgraça. Recordemos que, da boa ou má vida, depende a boa ou má morte. Como é a vida, assim será nosso fim: “talis vita, finis ita”; pois, não é fácil corrigir toda uma vida em um instante.

Não há volta atrás, iremos sozinhos diante do Juiz Supremo, na data fixada pelo próprio Deus. E, no próprio lugar no qual a alma é separada do corpo, no momento da morte, é julgada para receber o prêmio ou o castigo, dependendo da conduta que teve durante a vida nesta terra. O Supremo Juiz será Nosso Senhor Jesus Cristo. Haverá, nessas circunstâncias, dois livros: os Santos Evangelhos e nossa consciência. Nos Evangelhos veremos o que devia ter sido feito, em nossa consciência o que fizemos. Será nosso juízo particular. Será o momento feliz do “vinde a mim benditos de Meu Pai”, ou o momento infeliz do “distanciai-vos de mim, malditos de Meu Pai”. Esse mundo depois da morte, não é igual para todos…

Pensemos nos novíssimos: morte, juízo, Céu e inferno. Isso nos ajudará para nossa salvação. Em meio dos horrores e perigos que presenciamos no mundo todo, voltemos sempre, desde já, mas principalmente no crucial momento em que sejamos chamados à eternidade, até a Santíssima Virgem Maria, Mãe de Misericórdia e Advogada dos pecadores. Que Ela nos obtenha um arrependimento sincero, um coração contrito e humilhado, que Ela interceda diante de Jesus Nosso Senhor para a salvação de nossas almas.

Por Padre Fernando Gioia, EP.

(Publicado originalmente em ‘La Prensa Gráfica’, 2 de novembro de 2016)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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