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A adoração eucarística, a devoção mariana e o amor ao Papado

Redação (Sexta-feira, 18-11-2016, Gaudium Press) Dentro do que podemos chamar renovação da vida cristã nada tem maior importância do que as três bases de devoção de todo católico: a Eucaristia, a Santíssima Virgem e o amor ao Papado. Não chegaríamos a uma autêntica renovação se as almas não vivessem animadas sob o impulso destes três amores. Bem considerava Plinio Corrêa de Oliveira que: “Quando estas três devoções florescem, cedo ou tarde a Igreja triunfa. E, ao contrário sensu, quando elas estão em decadência, cedo ou tarde a civilização decai”. Dedicaremos neste artigo, o primeiro de uma série de três, à Adoração Eucarística.

A Adoração Eucarística

A Igreja, desde as suas origens, tem adorado o Corpo de Cristo sob as espécies eucarísticas. “A Eucaristia, com efeito, é um Sacrifício e é também um Sacramento, e se distingue dos demais Sacramentos no qual não só produz a graça, mas que contêm de forma permanente ao Autor mesmo da Graça [1].

Com o tempo foi se desenvolvendo piedosas e belas formas de adoração. Das que inicialmente eram visitas ao Senhor reservado no sacrário, nascem as bênçãos com o Santíssimo Sacramento, as procissões, chegando ao momento auge do estabelecimento da solenidade de Corpus Christi pelo Papa Urbano IV no ano de 1264. Foram nascendo também, as adorações por algumas horas, as chamadas 40 horas e de forma mais maravilhosa a Adoração Perpétua, iniciando-se em mosteiros e, nos dias de hoje, desenvolvendo-se em não poucas paróquias de todo o mundo. Exercícios de piedade todos estes que “contribuíram de forma admirável à Fé e à Vida sobrenatural da Igreja militante na terra” [2].

A ação da presença do Santíssimo Sacramento é muito profunda e, ao mesmo tempo, muito discreta. Haverá circunstâncias em que, entrando em uma igreja ou capela, em meio de uma aridez, podemos não sentir nada. Em outros momentos, pelo contrário, ao entrar sentimos uma tão singular e profunda presença em que nos diz: “Estou aqui”. É Jesus realmente presente, mas que não fala. Este sentir-se envolvido por um ambiente religioso, este sentir a influência benfeitora da Sagrada Eucaristia presente em Corpo, Alma, Sangue e Divindade na Hóstia Consagrada exposta em Adoração, tem um efeito em nossas almas que não é de forma argumentativa. Sentimos, não apenas uma realidade material, mas uma realidade sobrenatural e religiosa. O silêncio criado pela presença do Santíssimo Sacramento a nada se compara. Por esse motivo, a adoração deve ser “sempre privilegiar o silêncio, no qual escutamos interiormente ao Senhor vivo e presente no Sacramento” [3]. Esta sensação não é uma utopia, pois Deus está presente e ao mesmo tempo, se sente Sua presença. Se cria uma intimidade, como em nenhuma outra situação ou pessoa, com Nosso Senhor Jesus Cristo Sacramentado.

Sendo a Eucaristia a fonte e auge da vida eclesial (LG, 11), o “memorial do Senhor” (Lc 22, 19), se compreende a inseparável relação entre ela e toda a vida litúrgica da Igreja. “O nexo Cristo-Igreja-Liturgia se realiza por meio da Eucaristia que revela aqui sua força “pneumática” [4].

Esta afirmação está assentada no que nos ensina o Catecismo da Igreja, ao explicar como -a qualifica santa e divina Liturgia- encontra “seu centro e expressão mais densa na celebração deste sacramento”, “no Sacramento dos Sacramentos” (CIC, 1330): a Eucaristia.

Nas primeiras comunidades cristãs, a Eucaristia recebia adoração no marco de uma Missa ao receber a Comunhão. No século XIII começa o piedoso costume da adoração fora da Santa Missa, a exposição do Santíssimo Sacramento. O Concílio de Trento ratifica a legitimidade da adoração eucarística, como costume sempre aceita pela Igreja Católica. Já, em tempos mais próximos a nós, tanto Paulo VI ao dizer: “estamos obrigados, por obrigação certamente suavíssima, a honrar e adorar na Hóstia Santa que nossos olhos vem” [5]; como João Paulo II que convidava à “orações pessoais diante do Santíssimo, horas de adoração, exposições breves, prolongadas, anuais (as quarenta horas), bênçãos eucarísticas, procissões eucarísticas, congressos eucarísticos” [6]; e Bento XVI que incentivava para que “o povo cristão aprofunde na relação entre o Mistério eucarístico, o ato litúrgico e o novo culto espiritual que se deriva da Eucaristia como sacramento da caridade” [7].

Diante do mundo secularizado que vivemos se faz indispensável incentivar a Adoração Eucarística. Pois “o culto à Eucaristia fora da Missa, em suas diversas formas, podem ser de grande proveito para nossa vivência deste Sacramento, e portanto, para a vida cristã em geral” [8]. Precisam ser incentivados os momentos de oração, de contemplação, seja pessoal ou comunitário, diante do Santíssimo Sacramento do Altar. A adoração a Jesus Sacramentado é uma necessidade -não apenas uma “obrigação”- pois, se não se adora, é sinal que não se crê que Cristo Jesus está presente aí.

Admiráveis documentos do Magistério foram dedicados pelos últimos Papas à Eucaristia. Em sua encíclica ‘Ecclesia de Eucharistía’, João Paulo II inicia a explicitações maravilhosas sobre como “a Igreja vive da Eucaristia” e que, “esta verdade não expressa somente uma experiência cotidiana de Fé, mas que encerra a sínteses do núcleo do mistério da Igreja” [9]. Ao chegar ao tema do culto que se dá a mesma fora da Missa, dizia que é “de um valor inestimável na vida da Igreja”, por estar estreitamente unido à celebração do Sacrifício Eucarístico. “Tesouro inestimável, não somente sua celebrações mas também estar diante dela fora da Missa; nos dá a possibilidade de chegar ao manancial mesmo da graça” [10].

Dentro deste contexto, chama a atenção a afirmação feita por Bento XVI, em sua Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, sobre a “objeção difundida”, nos tempos em que a reforma litúrgica estava em seu começo “baseada, na observação de que o Pão Eucarístico não teria sido dado para ser contemplado mas para ser comido” [11]. Esclarecia o Santo Padre Emérito que nos primeiros passos da reforma “às vezes não se percebeu de maneira suficientemente clara à relação intrínseca entre a Santa Missa e a adoração do Santíssimo Sacramento” [12]. Pareceria que não se compreendesse, por parte de alguns, que a adoração, fora da celebração Eucarística, é a prolongação do acontecido na mesma. E mais ainda, em sua homilia na solenidade de Corpus Christi de 2012, confirmava que, por “uma interpretação unilateral do concílio Vaticano II havia penalizado esta dimensão, restringindo na prática a Eucaristia ao momento celebrativo” [13].

A adoração eucarística fortalece nos fiéis a Fé na presença real e verdadeira de Jesus Cristo na Eucaristia. A forma solene de expressar esta Fé está em ver a Jesus Sacramentado na Hóstia para adorá-lo; pois “Jesus Cristo está presente na Eucaristia de modo único e incomparável. Está presente, com efeito, de modo verdadeiro, real e substancial: com seu Corpo e com seu Sangue, com sua Alma e sua Divindade. Cristo, todo inteiro, Deus e homem” [14].

Vivemos momentos que poderíamos qualificar de desafio a Deus. Todo tipo de situações e problemas se acumulam em um mundo que multiplica suas maravilhas na ciência e a técnica, mas que cresce em iniquidade, arrastando aos homens ao prazer, ao vício, ao pecado. Há um silenciamento com relação ao persistente mal que se apalpa diariamente. Os bons se acordavam. “No campo evangélico crescem juntamente o joio e o bom grão… às vezes profundamente entrelaçados, o mal e o bom, a injustiça e a justiça, a angústia e a esperança” [15].

Nesta realidade que parece arrastá-lo todo, vemos, ao mesmo tempo, uma crescente aspiração e necessidade do religioso, um nascer no coração de muitos -especialmente daqueles que se aproximam a adorar a Jesus Sacramentado- o desejo de sofrer, enfrentar, contestar o mal existente, e proclamar nossa Fé Católica, Apostólica e Romana.

Se faz pois indispensável que haja verdadeiras escolas de oração, “onde o encontro com Cristo não se expresse somente em petição de ajuda, mas também em ação de graças, louvor, adoração, contemplação, escuta e vivo de afeto até o “arrebatamento de coração” [16].

Por Padre Fernando Gioia, EP.

(Publicado originalmente em Laus Deo)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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[1] PIO XII. Mediator Dei, 163.

[2] PIO XII. Mediator Dei, 166.

[3] BENTO XVI. Angelus. 10 de junho de 2012.

[4] FERRER GRESNECHE, Juan Miguel. Centralidade eclesial da celebração litúrgica, p.174. Grafite, 2004.

[5] PAULO VI. Credo do povo de Deus, 26.

[6] JOÃO PAULO II. Dominicae Cenae, 3.

[7] BENTO XVI. Sacramentum Caritatis, 5.

[8] ALDAZÁBAL, José. Chaves para a Eucaristia, p. 93.

[9] JOÃO PAULO II. Ecclesia de Eucharistia, 1.

[10] JOÃO PAULO II. Ecclesia de Eucharistia, 25.

[11] BENTO XVI. Sacramentum Caritatis, 66.

[12] BENTO XVI. Sacramentum Caritatis, 66.

[13] BENTO XVI. Homilia Solenidade de Corpus Christi, 7-6-2012.

[14] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Compêndio, 282.

[15] JOÃO PAULO II. Christifideles Laici, 3.

[16] JOÃO PAULO II. Christifideles Laici, 33

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