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Justiça e misericórdia

Redação – (Quinta-feira, 26-01-2017, Gaudium Press) A justiça e a misericórdia são virtudes opostas, mas não contraditórias. Ambas devem estar sempre unidas. O homem justo, mas não misericordioso é cruel, e o misericordioso não justo é pusilânime. No Livro do Profeta Naum há trechos que tratam, entre outras coisas, da justiça e da misericórdia de Deus. Além de Naum, focalizaremos também os profetas menores Sofonias e Habacuc.

“Imensa é a bondade do Senhor”

Naum exerceu seu ministério profético em Jerusalém, entre 663 e 612 a. C., ano em que Nínive foi tomada pelos caldeus. O tema desse profeta está consignado nas primeiras palavras de seu Livro: “Oráculo contra Nínive” (Na 1, 1). De fato, ele prevê a ruína dessa grande cidade e a destruição total do império assírio.

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“Jonas também profetizara contra Nínive, mas a cidade culpável tinha se arrependido e Deus lhe havia perdoado. Aqui nenhum perdão é oferecido. Naum se limita a proclamar, em nome de Deus, um decreto de aniquilamento.” Isso porque o Altíssimo quer castigar os assírios orgulhosos e cruéis, que tinham maltratado seu povo escolhido e pretendiam exterminá-lo.

O texto de Naum é uma verdadeira obra-prima poética. “Causa impressão a vivacidade de seu pincel, a força de seu colorido, a pureza de sua linguagem, a raridade de várias de suas expressões, a originalidade e a verve que distinguem toda sua profecia.”

Eis alguns trechos de autoria desse profeta:
“O Senhor é um Deus ciumento e vingador! A ninguém […] deixa sem castigo […] Há um fogo no furor que Ele fulmina, diante d’Ele as rochas esboroam” (Na 1, 1.3.6). As palavras “vingador”, “castigo”, “furor” mostram a justiça de Deus. Mas Ele é também misericórdia: “Imensa é a bondade do Senhor, refúgio nas horas mais difíceis” (Na 1, 7). “Avança contra ti o demolidor. Guarda a casa de armas, vigia o caminho, aperta o cinto, reúne o melhor de tuas forças!” (Na 2, 2).

Naum se referia àqueles que iriam destruir Nínive. Mas pode-se aplicar essa frase ao mundo hodierno, pois o demônio procura demolir tudo quanto é bom, verdadeiro, belo. É necessário termos muita vigilância e espírito de oração, para combatermos eficazmente esse demolidor.
“São abertas as comportas do rio” (Na 2, 7). Trata-se de uma previsão da ruína de Nínive, que ocorreu do seguinte modo:

“Durante dois anos, os soldados medo-babilônicos tentavam vãmente fazer uma brecha nas muralhas extraordinariamente espessas quando, em consequência de diversas tempestades sucessivas, o Tigre transbordou, inundou uma parte da cidade e derrubou os muros numa extensão de 5.700 metros, o que permitiu aos soldados inimigos nela penetrar.”

A memória de São Naum é celebrada em 1º de dezembro.

Profeta do pequeno resto

Sofonias era nobre, pois descendia do Rei Ezequias. Profetizou no início do reinado do bom Rei Josias (640-630 a. C.). Durante o longo reinado de Manassés (687-642 a. C.), os assírios haviam pressionado muito Jerusalém, e cultos pagãos foram introduzidos no Templo, além de outras abominações.

Contra isso reage Sofonias, anunciando os castigos divinos. E faz referência a um resto de fieis a Deus, que são inconformes com os pecados cometidos; por isso ele é chamado o “Profeta do pequeno resto.”

Recordemos alguns trechos de suas profecias:
“Passarei em revista Jerusalém, para acertar as contas com aqueles que […] dizem: ‘O Senhor não faz o bem nem o mal!'” (Sf 1, 12).

“Embora ele se dirija diretamente a Jerusalém e a Judá, e fale sobretudo dos destinos de seu povo, Sofonias visa evidentemente a Terra inteira.” E, portanto, também os nossos dias, pois as pessoas, vivendo no relativismo, como que perderam a noção do bem e do mal.

“Está próximo o grandioso dia do Senhor […] Aquele dia será um dia de cólera, de angústia e aflição, dia de devastação e ruína, dia de trevas e escuridão […] Dia de trombeta e gritos de guerra. […]

Atormentarei esses indivíduos até fazê-los andar como cegos, pois pecaram contra o Senhor. Seu sangue será derramado como se fosse pó, suas vísceras como lixo. Nem sua prata nem seu ouro serão capazes de livrá-los, no dia da ira do Senhor” (Sf 1, 14-18). “Vós que praticais os seus mandamentos procurai a justiça, procurai a humildade. Quem sabe, assim, conseguireis escapar no dia da ira do Senhor” (Sf 2, 3).

“É verdadeiramente o ‘Dies irae’ do Antigo Testamento”.

Oráculo contra Jerusalém: “Seus profetas são uns fanfarrões, mestres na traição; seus sacerdotes profanam as coisas santas e violentam a lei de Deus” (Sf 3, 4).

Entretanto, haverá um pequeno número de pessoas que permanecerão fieis a Deus. “Em teu meio deixarei apenas […] um resto de Israel, que buscará apoio no nome do Senhor” (Sf 3, 12). Sofonias é santo e sua memória se celebra em 3 de dezembro.

Profeta da Fé

Habacuc provavelmente foi sacerdote ou, pelo menos, levita, porque se “ocupava dos cantos sacros e da música no Templo”. Ele escreveu suas profecias pouco antes de uma das invasões da Judeia pelos caldeus, ocorrida em 605 a. C.

Não deve ser confundido com seu homônimo que, carregado por um Anjo, levou alimento para o Profeta Daniel quando se encontrava na cova dos leões, pois este fato aconteceu numa época posterior.

Seu Livro é uma obra-prima de bom gosto. Sabe aliar o vigor à sublimidade. “Habacuc é o profeta da Fé. Desolado à vista dos sofrimentos que seu povo terá que padecer da parte de inimigos cruéis, sensuais, idólatras, ele permanece firmemente convencido de que a Fé por fim triunfará.”

As palavras de Habacuc: “O justo viverá pela Fé” (Hab 2, 4) é repetida por São Paulo duas vezes: nas epístolas aos romanos (1, 17) e aos gálatas (3, 11). Realmente, a Fé é fonte de vida, e quem não a possui está morto espiritualmente.

O Martirológio romano consigna a memória de Santo Habacuc em 2 de dezembro.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 99)

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1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – La Prophétie de Nahum. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 493.
2 – Idem, ibidem, p. 494.
3 – Idem, ibidem, p. 500-501.
4 -Cf. FUSTER, Eloíno Nácar e COLUNGA, Alberto OP. Sagrada Biblia – versión directa de las lenguas originales. 11.ed. Madrid: BAC. 1961, p. 973.
5 – BIBLIA SAGRADA – Tradução da CNBB. 8.ed. Brasília: Edições CNBB; São Paulo: Canção Nova. 2008, p.1175.
6 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Le Livre de Sophonie. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 526.
7 – Idem, ibidem, p. 526.
8 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – La prophétie d’Habacuc.3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 509.
9 – Idem, ibidem, p. 510

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