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A ditadura do relativismo

Redação (Segunda-feira, 13-02-2017, Gaudium Press) O mundo sofreu, e continua experimentando, um processo de mudanças rápidas e imprevisíveis. Os homens se distanciam de Deus. Novos costumes, novas mentalidades e culturas marcam os tempos contemporâneos. Já nos dizia o documento conciliar ‘Gaudium et spes’ que, o gênero humano se encontrava em um novo período de sua história, caracterizado por mudanças que, estendendo-se por todo o universo, produzem uma “verdadeira metamorfose social e cultural, que redunda também na vida religiosa”.

Não será exagerado considerar que este fenômeno é muito mais amplo do que se pensa. Bento XVI, em improvisado discurso em Milão no dia 04 de junho de 2012, ao final do VII Encontro Mundial das Famílias dizia que: “Se alguma vez se pode pensar que a barca de Pedro esteja realmente em meio a ventos difíceis -é verdade-, no entanto vemos que o Senhor está presente, que o ressuscitado realmente está vivo e tem em suas mãos o governo do mundo e o coração dos homens”.

O mundo de hoje, a cultura moderna, somente aceitam o material, o que nos indique a ciência e a técnica, quando não o próprio individualismo dos homens. Ficando como resultado, desta situação, que Deus já não interessa.

Este fenômeno de mudanças está pressionando sobre nós, mas ainda está entre nós. Não conseguimos distinguir nem de onde vem nem o que possa vir dele (Bento XVI, Sal da Terra, p.247).

A causa é impalpável, sutil, penetrante, “como se fosse -no dizer de Plinio Corrêa de Oliveira- uma poderosa e temível radioatividade. Todos sentem os efeitos, mas poucos poderiam dar-lhe o nome e a essência”. Preocupante ação subliminar penetrando em todos os domínios da vida privada, nos ambientes e nos costumes; influenciando nas relações humanas, e portanto sobre a sociedade.

Vem ao caso recordar as memoráveis palavras do Cardeal Joseph Ratzinger na homilia da chamada Missa ‘Pro Eligendo Pontífice’, prévia ao momento no qual foi eleito para o Pontificado Romano tomando o nome de Bento XVI: “Quantos ventos de doutrina temos conhecido durante estes últimos decênios!, quantas correntes ideológicas!, quantas modas de pensamento!… A pequena barca do pensamento de muitos cristãos tem sido fustigada aos poucos por estas ondas, levada de um extremo ao outro. Enquanto que o relativismo, quer dizer, deixar-se ‘levar à deriva por qualquer vento de doutrina’, parece ser a única atitude adequada nos tempos atuais. Vai se constituindo uma ditadura do relativismo que não reconhece nada como definitivo e que deixa como última medida somente o próprio eu e seus desejos”. (18-4-2005)

De forma progressiva, gradualmente, vai se perdendo, vai se atenuando imperceptivelmente, o sentido do pecado, e como terrível consequência se perde a presença de Deus entre os homens.

Estas mudanças psicológicas, morais e religiosas exercem uma grande influência produzindo a negação de Deus ou da religião. Mas não apenas isso, também se pretende excluir a Deus da vida das pessoas, “até a tentativa de marginalizar a Fé Cristã da vida pública”, era a afirmação de Bento XVI (30-5- 2011).

João Paulo II chegou a afirmar que estava assistindo “a uma apostasia silenciosa por parte do homem autossuficiente que vive como se Deus não existisse (Ecclesia in Europa, 9). É a triste consequência quando os homens se esquecem de Deus; esse contexto abre campo, entre outras coisas, à perda dos valores. Essa realidade que, penetrando silenciosamente -porque não a sentimos já que atua como uma radioatividade- desencadeia o relativismo.

Este fenômeno não é novo. Já o anunciava muitos anos atrás Pio XII em uma frase considerada quase proverbial: “o pecado do século é a perda do sentido do pecado” (26-10-1946). O reafirmava João Paulo II em homilia a jovens universitários: “Aprendei a chamar pecado ao pecado, e não o chameis liberdade e progresso” (26-3-1981). Bento XVI constatava que, “com frequência, nações um tempo ricas em Fé e vocações vão perdendo sua própria identidade, sob a influência de uma cultura secularizada” (Verbum Domini, 96). Assim, se tem estendido a perda do sentido de Deus, e se “evidencia uma preocupante crise de valores morais” (Pontifício Conselho para a Família, 13-5-1996).

Assistimos pois o entrechoque entre o mundo espiritual e o mundo materialista. Os homens se distanciam de Jesus Cristo e sua santíssima Lei, tanto em sua vida como em seus costumes, tanto na família como na vida pública. Neste avanço avassalador, com uma animosidade aberta contra a presença da Igreja com sua mensagem evangélica, vemos a tentativa de expulsar a cultura e a Fé Cristã dos povos. Relativismo, crise de Fé, apostasia silenciosa, um caminhar que leva a descristianização da sociedade contemporânea. Acontecimento que vem de longe.

Em 1965 Pablo VI falava de que “se assiste a um relaxamento na observância dos preceitos da Igreja”, “se fala de ‘libertação’, se faz do homem o centro de cada culto, se priva a consciência da luz das normas morais, se altera a noção de pecado”, em concreto se perde “a concepção cristã da vida” (7-7-1965).

Nos encontramos na presença de um grande conflito, uma profunda crise de Fé, que constitui o magno desafio para a Igreja de hoje. Nesta crucial circunstância, quem é que exerce influência profunda na alma do homem? A graça de Deus por um lado, a ação do maligno e as más tendências desordenadas do pecado original por outro lado.

Vemos assim como, quase toda a humanidade, tende a dividir-se em campos opostos: com Cristo e contra Cristo. Diante disso é urgente refletir a beleza do divino, dando ao mundo testemunho de exemplo e santidade. Ponhamo-nos nas mãos de Maria Santíssima, cooperadora na restauração da vida sobrenatural das almas (LG, 61).

Por Padre Fernando Gioia, EP

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(Publicado originalmente em ‘La Prensa Gráfica’ de El Salvador, 8-2-2017)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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