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Jó, varão paciente e combativo

Redação (Terça-feira, 14-02-2017, Gaudium Press) Tendo concluído as notas sobre os Profetas, vejamos algo a respeito de Jó, varão inocente e sofredor, que foi prefigura de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Jó, varão paciente e combativo.jpgVarão íntegro e muito rico

Jó era originário de Us, da terra de Edom; por consequência, ele não fazia parte do povo hebreu. Provavelmente ele viveu antes de Moisés e exercia “na família as funções de sacerdote, à maneira dos patriarcas”.

Trata-se de um personagem real e não de uma figura imaginária. O Profeta Ezequiel o compara a homens célebres, tais como Noé e Daniel (cf. Ez 14, 20), e São Tiago Menor cita-o como modelo de constância (cf. Tg 5, 10-11).

O Livro de Jó, com exceção do prólogo e do epílogo, é escrito em versos, num estilo muito belo. Entretanto, é um dos textos mais difíceis de compreender em toda a Bíblia.

Ele era “íntegro e reto, temia a Deus e mantinha-se afastado do mal” (Jó 1, 1). Tinha sete filhos e três filhas, 7.000 ovelhas, 3.000 camelos, 500 juntas de boi e 500 jumentas, bem como servos em grande quantidade. Era o homem “mais rico entre todos os habitantes do Oriente” (Jó 1, 3). Tal opulência lembra a do santo patriarca Abraão, “muito rico em rebanhos, prata e ouro” (Gn 13, 2).

Seus filhos e filhas faziam, ora na casa de um, ora na de outro, festas diariamente. E todas as manhãs Jó oferecia um holocausto na intenção de cada um deles, pois talvez tivessem cometido pecado (cf. Jó 1, 5). “Nesses tempos remotos, cada pai de família exercia as funções sacerdotais”.

Inveja de Satanás contra Jó

Certo dia, Deus reúne seus Anjos e também aparece satanás, que acabava de “dar umas voltas pela Terra” (Jó 1, 7). Vê-se como o demônio não fica inativo, mas age muito para a perdição das almas.

O Criador lhe pergunta se não observara o virtuoso Jó. Satanás responde que este era justo porque possuía muitos bens, e pede, então, a Deus que o deixe cair na miséria. O Altíssimo dá ao demônio autorização para isso, mas ordena que não toque na pessoa de Jó. Trata-se de uma cena simbólica, mas rica em ensinamentos.

E satanás fez com que, num só dia, ele perdesse todos seus bens: um fogo caído do céu matou as ovelhas e os pastores; os caldeus roubaram os camelos, eliminando os criados ao fio da espada. Mais terrível que tudo: um furacão fez desabar a casa em que seus filhos estavam em festa, matando a todos.

Depois de receber as notícias dessas desgraças, Jó afirmou: “O Senhor deu, o Senhor tirou” (Jó 1, 21).

A cena se repete e satanás diz a Deus que Jó permaneceu fiel porque não foi atingido por grave enfermidade; se isso acontecesse, ele se revoltaria contra o Criador. E o Altíssimo permitiu que Jó sofresse em seu corpo.

Então, satanás “feriu Jó com chagas malignas, desde a planta dos pés até o alto da cabeça”. Sentado sobre cinzas, ele “raspava o pus com um caco de telha” (Jó 2, 7-8). Sua pele aderiu a seus ossos e as gengivas desapareceram (cf. Jó 19, 20).

E de certo modo algo pior ainda sucedeu: “Sua mulher lhe disse: ‘Ainda continuas na tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre de uma vez! ‘”. Afirma o Padre Fillion que essa mulher foi, na enérgica expressão de Santo Agostinho, “auxiliar do diabo” para tentar Jó. Mas Jó censurou-a: “Falas como uma insensata”; porque Deus nos concede os bens e também permite as dificuldades (Jó, 2, 9-10).

As criadas que moravam em sua casa, e até as crianças que o viam, desprezavam-no e mesmo o insultavam (cf. Jó 19, 15.18).
Afligido por esses terríveis sofrimentos, Jó se manteve paciente. Tornou-se inclusive um aforismo a frase: “Ter a paciência de Jó”.

Três amigos de Jó, ao saberem dessas desgraças que o atingiram, vieram visitá-lo. Ao vê-lo naquele estado, começaram a chorar, sentaram-se próximo a ele e durante sete dias e sete noites permaneceram em silêncio. Indiscutivelmente, tal cena tem certa grandeza, característica do Oriente daqueles remotos tempos.

No meio dessa terrível provação, Jó disse palavras inconsideradas: “amaldiçoou o dia de se nascimento […] e a noite em que anunciaram: ‘Nasceu um menino!'” (Jó 3, 1.3). Na verdade, pelo amor que Deus dedicava a ele, como veremos posteriormente, Jó deveria afirmar: “Bendito o dia que me viu nascer, benditas as estrelas que me viram pequenino e disseram: ‘Nasceu um varão! ‘”

A vida do homem é uma luta

E os amigos, em vez de lhe trazerem consolo, começaram a fazer críticas veementes ao justo Jó. Ao refutá-los, ele afirmou entre outras coisas: “A vida do homem nesta Terra é uma luta” (cf. Jó 7, 1). E increpou-os rijamente: “Sois forjadores de mentira, todos vós sois curandeiros de nada” (Jó 13, 4).

Tais palavras mostram que Jó, além de paciente, era muito combativo. Sua fortaleza pode ser também avaliada por esta outra frase: “Eu quebrava o queixo do iníquo e dos seus dentes arrancava a presa” (Jó 29, 17).

Há também um quarto personagem chamado Eliú que, por ser o mais jovem, até então se mantinha em silêncio. Em determinado momento, ele diz palavras sensatas, entre as quais estas: “Os ímpios de coração reservam para si a ira de Deus” (Jó 36, 13).

Peçamos a Nossa Senhora que nos conceda a paciência e a combatividade de Jó, para dessa forma glorificarmos a Deus e salvarmos nossas almas.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 102)

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1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Le Livre de Job. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 490.
2 – Cf. Idem, ibidem, p. 491.
3 – Idem, ibidem, p.493.
4 – Cf. FILLION, op. cit., p. 498.

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