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Compreender e amar a Cruz

Redação (Sexta-feira, 17-02-2017, Gaudium Press) Ao refutar as inverdades proferidas pelos seus três amigos, Jó disse algumas palavras inconsideradas.

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Deus restitui a Jó o dobro dos bens que possuía

Então, Deus aparece e censura Jó, o qual reconhece sua culpa: “Fui leviano ao falar” (Jó 40, 4). O Criador o perdoa e, dirigindo-Se aos três amigos, diz-lhes que está indignado contra eles porque não falaram “corretamente de Mim, como o fez meu servo Jó” (Jó 42, 7).

E ordenou-lhes que oferecessem em holocausto sete novilhas e sete carneiros, acrescentando: “Jó, meu servo, intercederá por vós” (Jó 42, 8). Eles assim o fizeram e Deus “atendeu as orações de Jó” (Jó 42, 9). Isso mostra como o Criador preza o princípio da mediação.

Depois que Jó “intercedeu por seus amigos, [Deus] restituiu-lhe todos os bens, o dobro do que antes possuía […] O Senhor abençoou Jó no fim de sua vida mais do que no princípio: ele possuía agora 14.000 ovelhas, 6.000 camelos, mil juntas de boi e mil jumentas. Teve também outros sete filhos e três filhas […] Depois desses acontecimentos, Jó viveu ainda 144 anos” (Jó 42, 10-16).

Prefigura de Nosso Senhor

Sobre Jó, varão justo que sempre se mantivera fiel a Deus, caíram os mais atrozes sofrimentos. “Debaixo deste aspecto, Jó teve a grande honra de ser considerado prefigura de Jesus Cristo, a augusta e inocente vítima, que tanto sofreu sem se queixar”

Eis algumas frases de Jó que simbolizam os padecimentos de Cristo, durante a Paixão:

“Não receiam cuspir-me no rosto” (Jó 30, 10). Os soldados de Pilatos cuspiram em Nosso Senhor (cf. Mt 27, 30).

“E não houve quem me trouxesse ajuda” (Jó 30, 13). Entre os Apóstolos, nenhum veio auxiliar Nosso Senhor. O Cireneu, em certo momento, carregou a Cruz do Redentor; mas isto ele fez porque foi obrigado pelos soldados (cf. Mt 27, 32).

“Clamo por ti, e não me atendes” (Jó 30, 20). No alto da Cruz, “Jesus deu um forte grito: ‘Eli, Eli, lamá sabactani?’, que quer dizer: ‘Meu Deus, meu Deus, por que Me abandonaste?'” (Mt 27, 46).

Jó também afirmou: “Eu sei que meu redentor está vivo e que, no fim, se levantará sobre o pó” (Jó 19, 25). Ele aqui manifesta sua fé na ressurreição dos mortos, no fim do mundo.

Jamais cair no desânimo

A ideia principal deste sublime poema é o grande e doloroso problema que ocupa e tão frequentemente perturba o coração do homem: a causa das misérias múltiplas que atingem o gênero humano e, mais especialmente, a causa dos sofrimentos do justo. No Livro de Jó este misterioso problema não se desenvolve de uma maneira abstrata, sob a forma de dissertação filosófica; ele é discutido a propósito de um caso concreto, o que lhe comunica muito mais vida, interesse, clareza.

Os três amigos de Jó defendem uma teoria estreita; para eles, o sofrimento é sempre e unicamente o resultado do pecado. Eliú conjectura que ele pode ter um caráter pedagógico e ser infringido aos próprios justos. O prólogo e o epílogo demonstram como, no caso de Jó, o sofrimento é uma prova destinada a santificar mais ainda um homem já muito virtuoso. E a conclusão indica que a última razão de nossos sofrimentos é a sabedoria infalível de Deus.

A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa que peca é o desânimo. Se ela tem ânimo, todos os caminhos da recuperação estão abertos; mas se é levada pelo desânimo torna-se presa do demônio que a levará para abismos ainda piores. E Jó foi um exemplo de ânimo; ele não se deixou abater pelos dramáticos sofrimentos.

Seu ânimo é elogiado por São Tiago Menor:

“Irmãos, tomai por modelo de paciência nos maus-tratos os profetas, que falaram em nome do Senhor. Reparai que proclamamos felizes os que fizeram prova de constância. Ouvistes falar da constância de Jó e conheceis o êxito que o Senhor lhe deu – o Senhor é rico em misericórdia e compassivo” (Tg 5, 10-11).

Máximo alicerce da Civilização Cristã

A história de Jó nos ajuda a compreender e amar a cruz, o que é essencial para todos nós, como afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:

“Sem a compreensão da cruz, sem o amor à cruz, sem ter passado cada qual por sua “via crucis”, não teremos cumprido a nosso respeito os desígnios da Providência. (…) Com tal amor à Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo tudo conseguiremos, ainda que nos pese o fardo sagrado da pureza e de outras virtudes, os ataques e os escárnios incessantes dos inimigos da Fé, as traições dos falsos amigos.

O grande alicerce, o máximo alicerce da Civilização Cristã está em que todos os homens exercitem generosamente o amor à Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. Que a tanto nos ajude Maria, e teremos reconquistado para o Divino Filho d’Ela o Reino de Deus, hoje tão bruxuleante no coração dos homens.”

E o Martirológio romano estabelece: 10 de maio, “comemoração de São Jó, varão de admirável paciência no país de Us”.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada”, 103)

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1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Le Livre de Job. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 489.
2 – Cf. FILLION, op. cit., p. 550.
3 – Cf. idem, ibidem, p. 488-489.
4 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Inigualável papel da cruz na vida humana. In Revista Dr. Plinio, São Paulo, n. 90, setembro 2005, p. 4.

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