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O valoroso sacerdote Esdras

Redação (Quinta-feira, 30-03-2017, Gaudium Press) Ciro II, o Grande, Rei da Pérsia, fizera um decreto no qual afirmava: “Deus do Céu […] me encarregou de construir-Lhe um Templo em Jerusalém” (Esd 1, 2).

Alicerces do novo Templo

E ele ordenou fossem devolvidos aos judeus os tesouros roubados do Templo por Nabucodonosor, e que todos os hebreus fizessem donativos para a sua reconstrução. Desse modo foram recolhidos, entre outros bens, 5.400 objetos de ouro e prata (cf. Esd 1, 11). 50 mil pessoas, entre as quais cerca de sete mil escravos, se puseram em marcha rumo a Jerusalém, dirigidos pelo sumo sacerdote Josué e por Zorobabel, “príncipe herdeiro da dinastia davídica”. Entretanto, a maior parte do povo judeu preferiu continuar vivendo na terra de exílio, por apego à fortuna, à posição que haviam conquistado etc.; no fundo, colocaram seus interesses pessoais acima do amor a Deus.

Chegados a Jerusalém, logo puseram mãos à obra. Tendo reerguido o altar dos holocaustos, ofereceram sacrifícios, como outrora se fazia no Templo de Salomão. Terminados os alicerces, os sacerdotes e levitas tocaram trombetas e címbalos entoaram hinos de louvor e gratidão a Deus; “e o clamor ouvia-se de longe” (Esd 3, 13).

Nefanda urdidura dos samaritanos

Mas as lutas logo surgiram, pois, como afirma o livro de Jó, “a vida do homem nesta Terra é uma guerra” (cf. 7, 1). E agora os inimigos eram internos, os samaritanos, piores que os externos.

Anteriormente, um rei assírio havia permitido que habitantes do Reino de Israel, que eram cismáticos, regressassem às suas terras. Eles se estabeleceram em seu antigo território, que se chamava Samaria. Entretanto, como não adoravam o verdadeiro Deus, o Senhor “mandou contra eles leões, que os mataram” (II Re 17, 26).

Outros israelitas foram enviados para a região; porém eles caíram na idolatria. “Isso foi assim durante algumas gerações; mas no fim do cativeiro da Babilônia todo traço de idolatria desaparece da religião samaritana, a qual se tornou o culto de Jeová, embora com ritos e dogmas especiais, que a distinguiram sempre do judaísmo.” Posteriormente, eles chegaram, inclusive, a construir um templo no monte Gerizim, em oposição ao Templo de Jerusalém.

Quiseram os samaritanos participar da reconstrução do Templo, mas Josué e Zorobabel não o permitiram. Aqueles, então, começaram a caluniar os judeus junto aos reis da Pérsia. E com essa trama conseguiram que os trabalhos fossem suspensos (cf. Esd 4, 23).

Passados dois anos, as obras foram reiniciadas graças ao estímulo dos profetas Ageu e Zacarias (cf. Esd 5, 1-2). E depois teve o apoio do Rei Dario I, o qual fez um decreto afirmando que as despesas da reconstrução do Templo correriam por conta da fazenda real; se alguém modificasse esse decreto deveria ser morto e sua casa destruída. E acrescentava: “Que o Deus que lá reside e é invocado destrua qualquer rei ou nação que contrariar esta ordem e destruir aquele Templo de Jerusalém” (Esd 6, 12).

Isso não significa que Dario I tenha se convertido à verdadeira religião. Ele continuou politeísta e, por política, elogiava os deuses para assim contentar todos os povos… O mesmo, aliás, se passou com Ciro II, o Grande, através do qual Deus executou seus desígnios providenciais.

Assim, as obras de reconstrução do Templo continuaram e, quando concluído, foi dedicado em 515 a. C., com diversos holocaustos e sacrifícios (cf. Esd 6, 16-18).

Esdras chega a Jerusalém

Passados talvez cem anos, chegou a Jerusalém Esdras, sacerdote e escriba que “se aplicara de todo o coração ao estudo e à prática da Lei do Senhor e se propusera ensinar aos israelitas as leis e os costumes” (Esd 7, 10). Juntamente com Esdras, o qual contava com o apoio do Rei da Pérsia, vinham diversas pessoas da classe sacerdotal, cantores e oblatos.

Esdras e seus seguidores haviam realizado uma caminhada que durou quatro meses. Partiram da Babilônia e ficaram acampados junto a um rio por três dias, rezando e jejuando, “pois queríamos humilhar-nos diante de nosso Deus, a fim de obter a graça duma feliz viagem” (Esd 8, 21). Levavam, entre outros objetos valiosos, 20 toneladas de prata e três toneladas de ouro (cf. Esd 8, 26), tendo em vista decorar o Templo.

Deus os protegeu na viagem e, chegando a Jerusalém, entregaram seus tesouros à Casa do Senhor e ofereceram holocaustos e sacrifícios.

A questão dos casamentos com mulheres idólatras

Entretanto, existia uma grave questão naquelas terras. Sobretudo depois da morte de Zorobabel, um grande número de israelitas, contrariando as determinações de Moisés, haviam desposado mulheres estrangeiras e idólatras, e acabaram imitando seus “costumes detestáveis” (Esd 9, 1); inclusive sacerdotes e levitas haviam caído nessa prevaricação.

Ao ser informado sobre isso, o santo sacerdote Esdras rasgou as vestes, lançou-se de joelhos diante do Templo e, derramando lágrimas de indignação, fez uma bela oração. E muitos outros israelitas se reuniram em torno dele, rezando e chorando. Então, Esdras convocou todos os repatriados para que comparecessem diante do Templo, no prazo de três dias.

No dia estipulado, todo o povo acampou diante da Casa de Deus e o valoroso Esdras os increpou duramente. Suas ardentes palavras tiveram o efeito esperado: todos os que haviam se casado com estrangeiras “mandaram embora as mulheres com os filhos” (Esd 10, 44).

Esdras é santo e sua memória se celebra em 13 de julho. Diz o Martirológio Romano: ele “congregou o povo que estava disperso e teve grande empenho em que se conhecesse, se cumprisse e se ensinasse em Israel a Lei do Senhor”.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 107)

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1 – BIBLIA SAGRADA – Tradução da CNBB. 8.ed. Brasília: Edições CNBB; São Paulo: Canção Nova. 2008. p. 502.
2 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – Quaatrième livre des rois. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné.1923, p. 638.
3 – Cf. FILLION. La Sainte Bible commentée – Le livre d’Esdras. 3. ed.Paris : Letouzey e aîné. 1923, p.255.
4 – Cf. FUSTER, Eloíno Nácar e COLUNGA, Alberto OP. Sagrada Biblia – versión directa de las lenguas originales. 11.ed. Madrid: BAC. 1961, p.475 ; FILLION. La Sainte Bible commentée – Second livre de paralipomènes. 3. ed.Paris : Letouzey e aîné. 1923, p.237.
5 – “Oblatos, ou doados: pessoas, muitas vezes crianças, oferecidas ao serviço do Templo” – BIBLIA SAGRADA – Tradução da CNBB. 8.ed. Brasília: Edições CNBB; São Paulo: Canção Nova. 2008. Nota na p.509.

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