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A Palavra e a Eucaristia

Redação (Segunda-feira, 11-09-2017, Gaudium Press) “Palavra” com “P” maiúsculo, na linguagem corrente entre católicos, se refere imediatamente à Sagrada Escritura, aos livros canônicos que compõem a Bíblia. É a Palavra de Deus. É claro que falamos da Bíblia aprovada pela autoridade competente da Igreja, e não dessas edições que se multiplicam em pelo mundo, com conteúdos duvidosos que desfiguram o ensinamento divino e que por isso não são Palavra de Deus.

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Na verdade, no século XVI, Lutero deformou a Bíblia retirando de seu conteúdo livros inteiros, como também diversas partes de outros livros que manteve, mas mutilando-os, como a epístola aos Romanos. Criou assim uma “Bíblia” nova e diferente com a qual vem intoxicando a tantos incautos que, muitas vezes com a melhor intenção, se dizem seguidores da Palavra de Deus. Os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico, Macabeus, Ester, Daniel, Carta de São Tiago, Apocalipse, etc., foram censurados, total ou parcialmente. Apesar disso, se repete irresponsavelmente que o grande mérito de Lutero foi o de traduzir a Bíblia para o alemão e de tornar melhor conhecida essa língua pelas pessoas.

Mas deixemos este triste personagem e vamos ao nosso tema. Sirva este parêntese para recomendar ao leitor que quando compre ou consulte uma Bíblia, verifique se ela possui a devida licença eclesiástica. Em uma época não distante, se exigia que os livros religiosos que eram editados para a leitura dos católicos, tivessem o “nihil obstat” (nada impede que se publique) ou o “imprimátur” (imprima-se) que uma autoridade da Igreja expedia. Infelizmente, esta norma praticamente caiu em desuso, e, ao mesmo tempo, também está caindo a integridade da Fé…

Sobre a “Palavra” diz o número 108 do Catecismo da Igreja Católica: “(…) a Fé Cristã não é uma ‘religião do Livro’. O cristianismo é a religião da ‘Palavra’ de Deus, ‘não de um verbo escrito e mudo, mas do Verbo encarnado e vivo’ (São Bernardo de Claraval). Para que as Escrituras não permaneçam em letra morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna do Deus vivo, através do Espírito Santo, nos abra o espírito à inteligência das mesmas (cf. Lc 24, 45)”.

Aqui vemos outro significado do que é a Palavra: não é apenas o que está escrito por inspiração do Espírito Santo na Bíblia, mas também o mesmo Verbo de Deus, Jesus Cristo, segunda Pessoa da Santíssima Trindade, “Palavra Eterna do Deus vivo”. Enriquecendo ainda mais o termo “Palavra”, diz o número 103 do mesmo Catecismo: “A Igreja sempre venerou as Divinas Escrituras como venera também o Corpo do Senhor. Não cessa de presentear aos fiéis o Pão da Vida que é distribuído na mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo (cf. DV 21)”.

Essas dimensões do termo “Palavra” que por um lado, significam os Livros Sagrados, por outro, o Verbo de Deus, quer dizer, o próprio Deus e, finalmente, essa identidade entre o Pão da Eucaristia e o Verbo, e a reversibilidade entre o Pão da Palavra e o Pão Eucarístico, são verdades importantíssimas da nossa Fé com as quais deveríamos nos familiarizar mais.

Para dizer a verdade, no mistério eucarístico convergem maravilhosamente essas realidades de que falamos, uma vez que a Presença Real na Eucaristia é confundida com Nosso Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus, que é a Palavra definitiva do Pai. Isso é o que nos ensina reiteradas vezes na Bíblia… que não é senão a Palavra de Deus.

“Aquele que come a minha carne, e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. (Jo 6, 54). Aqui, ao falar de Sua carne e sangue, Jesus se refere à Eucaristia que iria instituir na Última Ceia. Nos ensina que o que comunga já tem vida eterna. Mas também a tem o que segue Seu ensinamento com Fé. Vejamos: “Em verdade, em verdade vos digo: o que escuta a minha Palavra e crê nAquele que me enviou, tem vida eterna e não incorre em juízo, mas passará da morte para a vida” (Jo 5, 24).

Então, tanto ao receber a comunhão eucarística com as devidas disposições, como ao ouvir o ensinamento de Cristo colocando-o em prática, nossas existências são conduzidas à Vida Eterna. São as reversibilidades da Palavra.

Aquela jaculatória do ângelus que nos é tão familiar tomada do Evangelho de São João (1, 14): “Et Verbum caro factum est” (e o Verbo se fez carne) é uma referência ao acontecimento da Encarnação. Mas não é menos certo que, durante a Santa Missa, depois das palavras da consagração, também acontece outra maravilha: o Verbo se transforma em pão, em carne, em alimento. Então, o Verbo se faz carne em Nazaré, quando o Anjo anuncia a Maria e Ela concebe por obra do Espírito Santo e, por sua vez, o Verbo se faz também carne na consagração eucarística.

Em um dos seus sermões, São João Maria Vianney, o Cura de Ars, considera a Eucaristia como uma extensão da Encarnação. E nos ensina algo fantástico. É que ao comungar, chegamos a possuir mais que a Virgem Maria no momento sublime da Encarnação, porque possuímos o corpo glorioso e ressuscitado do Salvador, marcado pelos estigmas do amor, sinais de sua vitória sobre os poderes deste mundo. “O Verbo se fez carne -diz o Santo Cura- eis aí a glória de Maria. O Verbo se fez pão: eis aqui nossa glória”.

Quanto temos que agradecer pelo grandioso mistério Eucarístico que não é apenas uma garantia de ressurreição e de vida eterna, mas nos “deifica”. E agradecer pelo fato de que ao receber a Sagrada Comunhão, somos mais privilegiados que a própria Virgem na Encarnação!

Por Padre Rafael Ibarguren EP

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Assistente Eclesiástico Honorário da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja

(Publicado originalmente em www.opera-eucharistica.org)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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