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Saborear já na terra as coisas do Céu

Redação (Segunda-feira, 09-10-2017, Gaudium Press) O que seria da alma católica se fizesse parte de uma Igreja carente de Liturgia?

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É através da pompa dos ritos sagrados que a voz da graça se faz ouvir, suave e materna, como a dizer: “Meu filho, vem degustar um pouco do que é o Céu”…

-Durante os dois mil anos de sua militante, vitoriosa e imortal existência, a Santa Igreja sempre foi e será um vivíssimo reflexo do esplendor de Deus. Fecundada pelo precioso Sangue do Redentor, Ela foi fundada com vistas a fazer com que Céus e terra, em uníssono, rendessem ao Criador um único cântico de louvor.

Ciente deste papel de mãe, educadora e rainha das nações, a Esposa de Cristo se esmerou em manifestar sua pulcra grandeza nas catedrais; sua atraente piedade nas imagens e pinturas sacras; sua majestade luminosa e multiforme nos vitrais. No entanto, tudo isso externa uma beleza estática. Tais elementos cativam, sem dúvida, o espírito do fiel que deles se aproxima, mas são apenas figuras e predicados que apontam uma realidade muito mais alta.

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Que realidade é esta?

Para explicá-la, imaginemos que fosse dado a alguém a dádiva de uma visita ao Paraíso Celeste. Lá chegando, poderia encontrar os palácios esplendorosos dos Santos, os jardins dotados de singularíssima variedade de flores e perfumes, superando tudo quanto a terra já deu na sua plenitude, ou, então, se depararia com mares calmos e límpidos, mais parecidos com safiras derretidas. Contudo, se esse extasiante conjunto de sublimidades estivesse deserto, isento de qualquer vida, movimento e som, acaso estaria completa a alegria daquele visitante?

Assim também seria a alma católica se fizesse parte de uma Igreja desprovida de Liturgia, pois é através da pompa própria aos ritos sagrados que a voz da graça se faz ouvir suave e materna como a dizer: “Meu filho, vem degustar um pouco do que é o Céu”…

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Seja na harmonia ora suave, ora grave, ora gloriosa das músicas; seja na sacralidade compassada dos movimentos do celebrante e dos que servem ao altar; seja na fumaça perfumada do incenso que se eleva cheia de nobreza, como a oração do justo a Deus; seja, enfim, na beleza tantas vezes arrebatadora dos objetos sagrados, a Liturgia é feita para o homem se esquecer momentaneamente da pequenez da vida cotidiana, e imergir na atmosfera celeste para a qual foi criado.

“Ao Senhor triunfante convém toda a glória”,1 rezamos no Ofício Divino. A dignidade e riqueza dos ritos e alfaias litúrgicos não reflete opulência ou ostentação, mas sim o desejo de glorificarmos
nosso Pai e Criador. Este anseio deve estar presente tanto numa cerimônia pontifícia, quanto na mais modesta das Celebrações Eucarísticas, pois todas elas constituem para o católico alento para a alma, segurança para seus passos e vigor para sua vida.

Saborear já na terra as coisas do Céu (4).pngA Liturgia poderia ser vista também, de modo análogo, como uma repetição daquelas inefáveis conversas que Deus mantinha com o homem no Paraíso “à hora da brisa da tarde” (Gn 3, 8), antes de sua horrível queda. É participando dela que o fiel pode provar e ver a suavidade do Senhor, conhecer de alguma forma o Deus sumamente belo, a quem serve, e conviver com o Pai indescritivelmente bom que, já na terra, nos dá a saborear as coisas do Céu.

Por Ir. Mariana de Oliveira, EP
(in “Revista Arautos do Evangelho”, n. 69, p. 18 à 21)

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1- 4ª SEMANA DO SALTÉRIO. Hino do Ofício das Leituras. In: COMISSÃO EPISCOPAL DE TEXTOS LITÚRGICOS. Liturgia das Horas. Petrópolis: Vozes; Paulinas; Paulus; Ave-Maria, 2000, v.III, p.1033.

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