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Falando de trajes…

Redação (Terça-feira, 14-11-2017, Gaudium Press) Faz alguns anos que adquirimos uma bem impressa atualização da espetacular obra de Auguste Racinet “Le Costume Historique” (“O Traje Histórico”), publicada originalmente em 1888 em Paris. Com 500 imagens coloridas e belamente elaboradas, Racinet fazia uma compilação até o momento inédita de variados trajes do mundo das mais diversas épocas históricas.

‘Medievalófilos’ que somos -ainda que não exclusivistas dessa monumental época histórica- fomos rapidamente à seção de trajes dos séculos XIII e XIV.

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Por exemplo os da imagem acima. Tratam-se de vestimentas de um homem de armas, de nobres, de eclesiásticos, de músicos, se mal nos recordamos a massa de prata corresponde a uma insígnia de um oficial de justiça. Túnicas largas, ‘culottes’, alguns de vivo carmesim, mangas longas, mantos, chapéus de ampla variedade. Essa é somente uma das muitas imagens do livro de Racinet sobre a Idade Média. O que podemos dizer destes personagens?

Por exemplo, se nos referimos ao talvez mais simples, o homem que toca o alaúde no centro e que veste um culotte cinza escuro, não deixaremos de notar a simples mas real elegância, a par da sobriedade e quase palidez das cores, diremos que o traje tem o brilho adequado à sua profissão de músico e talvez cantor.

Os trajes da fileira superior são mais elaborados. Está por exemplo o manto florido recoberto internamente com pele de arminho que caracterizou certos quadros dos reis da França do renascimento, manto que vemos aqui surge na ‘sombria’ Idade Média. Surpreende a vivacidade das cores, que representaram um feliz contraste com a monotonia dos tons no paganismo. Os homens não temiam as cores vívidas, que não diminuíam em nada sua virilidade. Estes homens manifestavam sua alegria de viver nos trajes que usavam.

Nos trajes destes homens, nos que ainda corria recente o sangue dos bárbaros, há notas de delicadeza e finura discreta que impressionam, como por exemplo as pontas dos pés. É claro que o sargento de armas não as tem, mas sim os outros trajes que são portados nos diversos ambientes civis. Também surpreende a variedade nas formas e figuras, em meio sempre de uma certa sobriedade. É uma sensação paradoxal que se tem quando se contemplam estes trajes de homens: a de elegância, diversidade, alegria, leveza e ao mesmo tempo seriedade e sobriedade. Entretanto, temos que dizer que eles não viviam para que os observaram, não eram manequins, simplesmente queriam refletir em suas vestimentas a dignidade de seus ofícios e de suas pessoas.

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Contemplemos a imagem de cima, a versão feminina dos cavaleiros anteriormente observados.

Os comentários a estes trajes seriam análogos aos já feitos das vestes dos homens, agregando simplesmente uma menção ao recato e ao pudor com o qual se vestem as damas, e a constatação de uma maior elaboração nos adornos, própria ao espírito feminino. O medieval não temia a cor, tinha um gosto inocente e primaveril da descoberta e a exposição da cor. Umas palavras merecem sim o característico e belo chapéu feminino cônico dos quais saem os típicos véus, que são como que o mistério do traje, da figura e da pessoa. Chapéu austero mas genial.

O que tentamos fazer acima? Não um comentário de modas, mas uma aproximação a uma mentalidade a partir de trajes, pois apesar de o hábito não fazer o monge, o veste e também o expressa.

Os trajes de cima refletem uma mentalidade oposta à agitação e a irreflexão, são trajes de contemplativos. Se tem a ideia hoje de que o que não é um corre-corre agitado é triste ou chato: os trajes de cima desmentem completamente essa ideia. Apesar da vivacidade e a riqueza dos detalhes, não se pode falar de uma exuberância exagerada, não: Ali há temperança, alegre e serena. Homens e mulheres assim vestidos são monumentos, mas não cinzas nem pesados, são monumentos agradáveis de ver, como são os castelos e as catedrais da Idade Média.

Uns trajes, umas mentalidades, nas quais sobretudo se ressalta a dignidade do ser humano, dignificado pelo Deus-Homem, vivo, morto e hoje ressuscitado. Que diferença com outras modas que nos circundam…

Por Saúl Castiblanco

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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