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O que me come terá mais fome

Redação (Sexta-feira, 24-11-2017, Gaudium Press) “Vinde a mim, os que me amais e saciai-vos de meus frutos; meu nome é mais doce do que o mel, e minha herança melhor que os favos de mel. O que me come terá mais fome, e o que me bebe terá mais sede (Eclo. 24, 18-21).

Este trecho do Eclesiástico nos foi proposto pela Igreja para ser lido no mês passado na Missa da memória litúrgica do Doce Nome de Maria. Por certo, são versículos que se aplicam maravilhosamente para o nome e a pessoa da Virgem Imaculada, cujo nome, Maria, “é mais doce que o mel”.

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Mas se acomodam também, e quanto, ao Santíssimo Sacramento do altar.

“Vinde a mim”. Esse é o convite permanente que faz Jesus sacramentado desde os sacrários e os altares. Ele ficou para acolher-nos e para se dar a nós, a tal ponto que não quer outra coisa, mas que acudamos a Ele e que lhe recebamos, espiritual e sacramentalmente. “Vinde a Mim”.

“Os que me amais”. O que quer uma pessoa amada senão reunir-se com seu amado? Nosso Senhor convoca todos à sua mesa… mas especialmente aos que o amam. É natural, porque é a maneira como a convicção e o sentimento (ambas coisas supõem o amor) se satisfazem. No entanto, quanta frieza e solidão ao redor da Eucaristia! É porque não se ama como se deveria; pior, se ignora… quando não a profanam.

“Saciai-vos de meus frutos”. Jesus nos convoca para nosso benefício. Estritamente, Ele não precisa de ninguém nem de nada, já que em sua divindade é mais que suficiente. Mas nós sim precisamos dEle. E quais são seus frutos? São, simplesmente, todo o bom e o melhor, uma vez que Ele é o criador, dono e dispensador de tudo o que existe. Tantas vezes os frutos não se procuram nem se apreciam porque as almas se retraem mesquinhamente e, ao não saciar-se, se mortificam! Se privam de graças e benefícios incontáveis. Está o Santíssimo a dois passos de seus caminhos, e preferem o efêmero do mundo no lugar de aproximar-se dEle. Escolhem caminhos loucos e deixam de lado “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).

“Meu nome é mais doce que o mel e minha herança melhor que os favos de mel”. Nome e herança se identificam com o mesmo Deus que é pródigo em deleites. As decepções e as agruras da vida encontram consolo com as bênçãos que partem do Coração Eucarístico de Jesus. No entanto, o ruído cacofônico do mundo com frequência atrai mais que o proveito inefável de Sua suave companhia.

“O que me come terá mais fome, e o que me bebe terá mais sede”. O Corpo e o Sangue de Cristo satisfazem plenamente as apetências da alma. Esta é uma verdade essencial que está declarada por Jesus em seu discurso na sinagoga de Cafarnaum que o discípulo amado narra no capítulo VI, versículo 35, de seu Evangelho. Escreve São João “O que vier a mim, não terá fome, e o que crer em mim, não terá nunca sede”.

Mas enquanto a Eucaristia alivia a fome e a sede de quem se aproxima dela, quanto mais se deseja e se recebe, mas a fome e a sede aumentam! Mas… Como pode ser isto? Com o alimento natural não sucede assim!

Disse Balduíno de Canterbury em seu Tratado sobre o sacramento do altar (Parte 2,3: SC 93, 252-254): “O que me come terá mais fome, o que me bebe terá mais sede”. Na atualidade, Cristo, sabedoria do Pai, não é consumido até a saciedade do desejo, mas até o desejo da saciedade; e quanto mais se saboreia sua suavidade, tanto mais se aguça o desejo. Por esta razão, os que me comem terão mais fome, até que chegue a fartura. Mas quando sacie de bens seus desejos, então já não passarão fome nem sede. “O que me come terá mais fome, e o que me bebe terá mais sede” pode também entender-se da vida futura, pois existe naquela eterna saciedade uma espécie de avidez, produto não da indigência mas da felicidade, de modo que desejam sempre comer os que nunca querem comer nem nunca sentem náuseas na fartura (…)”.

Tão veemente é o desejo de bem-aventurança que cada um leva dentro de si, e tão infinita é a doçura do “mel” divino que nos dispensa o Pão dos Anjos, que o adorá-lo e recebê-lo nos enche de gozo e, ao mesmo tempo, faz com que queiramos mais, e mais e mais.

É que a Eucaristia é já o céu na terra… mas somente para aqueles que a apreciam e que cultivam as virtudes da Fé, Esperança e Caridade. Aos que não a valorizam nem vivem seus compromissos batismais, o Profeta Oseias lhes diz: “Comerão o pão da dor, manjar impuro. Seu pão lhes tirará a fome, mas não entrarão na casa do Senhor”. (Os. 9, 4)

Um bom exame de consciência sobre como se está em relação ao mistério eucarístico bem poderia ser, por exemplo, ler os textos do Ritual do Sacramento Bautismo, para dar-se conta até que ponto nossa condição de Filhos de Deus nos compromete na exigência de manter a vida divina recebida, mediante o alimento que a conserva, a aumenta e a renova que é a Eucaristia.

Algum filósofo disse com razão que “somos o que comemos”, coisa que aplicam com exímio cuidado os nutricionistas e pessoas empenhadas na saúde do corpo. Quanto vale essa frase também para a vida da alma!

Porque se recebemos a Eucaristia (e também aqui vale dizer: se a adoramos); e procuramos ter com ela um comércio regular e crescente, nos transformaremos naquilo a que aponta nossa vocação cristã: a configurar-se com Cristo. Cada um será, nem mais nem menos, outro “Cristo”. Há algo que possa superar esta maravilha?

Por Padre Rafael Ibarguren, EP

(Publicado originalmente em www.opera_eucharistica.org)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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