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O menino estremeceu de alegria

Redação (Quinta-feira, 14-12-2017, Gaudium Press) Alguns dias depois da Encarnação do Verbo, Maria Santíssima foi “às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá” (Lc 1, 39) chamada Ain-Karim, a fim de visitar sua prima Santa Isabel que trazia em seu seio João Batista, gerado havia seis meses.

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Vias tortuosas entre vales e montes

Ela quis ir “às pressas” porque sabia que “por sua intercessão, e pela virtude do Verbo Divino que portava em Si, o Espírito Santo santificaria o menino antes de ele nascer. Assim, ansiava em estar o quanto antes com Santa Isabel, a fim de livrar o Precursor, ainda em gestação, da mancha original”.

Nossa Senhora pediu permissão a São José para encetar a viagem, e ele quis acompanhá-La, pois seu desejo era “viver como verdadeiro escravo a serviço d’Ela”.

Ain-Karim dista 130 quilômetros de Nazaré, onde residiam Nossa Senhora e São José, e o caminho era por vias tortuosas entre vales e montes. O esposo virginal de Maria ajaezou um burrico e, com as bagagens e provisões necessárias, partiram.

Os estorvos que se apresentaram no percurso foram enormes. “Se Maria quisesse, poderia mandar um Anjo aplainar o caminho ou, mais ainda, conduzi-los pelo ar.” Mas o Santo Casal preferiu “passar por todas as dificuldades, para […] dar-nos exemplo de como enfrentar os problemas que surgem em nossa vida”.

Após um penoso trajeto que “demorou por volta de três dias”, eles chegaram à casa de São Zacarias. Nossa Senhora dirigiu-Se até o local onde se encontrava Santa Isabel; e São José foi saudar São Zacarias o qual, sem poder ouvir nem falar, só respondia com gestos ou por meio de uma tabuinha.

João Batista ficou limpo do pecado original

Por uma graça especial, São Zacarias percebeu a grandeza de São José e, “tomando suas mãos com força, beijou-as com enorme deferência […] e chorou copiosamente”.

E algo ainda mais sublime ocorreu com Santa Isabel que, ao responder a saudação de Maria, demonstrou ter recebido “a iluminação interior de que ali estava a Mãe do próprio Deus”. Eis suas palavras: “Bendita és Tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a Mãe de meu Senhor?” (Lc 1, 42-43).

Santa Isabel acrescentou: “Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio” (Lc 1, 44). “Nesse momento o desejo de Nossa Senhora limpou o menino do pecado original e de tal modo infundiu a vida divina que ele vibrou de alegria.”

Então, a Santíssima Virgem entoou o Magnificat (cf. Lc 1, 46-55), “esta joia inapreciável, este maravilhoso cântico de sabedoria, humildade e grandeza”, a respeito do qual resumiremos alguns comentários feitos pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

Um convite para entender a Filosofia da História

A Filosofia da História não se refere apenas aos povos, mas à vida de um indivíduo. Pode-se até afirmar que ela se aplica inicialmente a cada pessoa e, como consequência, aos povos, pois estes são formados de indivíduos.

A misericórdia do Senhor “se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem. Ele mostrou o poder de seu braço: dispersou os que têm planos orgulhosos no coração” (Lc 1, 50-51).

Os “orgulhosos de coração” são “os que se vangloriam e se exibem pretensiosos em relação a Deus, que não consideram a grandeza d’Ele, nem Lhe têm temor. E que, portanto, não O amam. Para estes não há misericórdia. Então Deus os humilha, os quebra, os dissipa, mostrando sua força.

“Essa atitude com os que se afirmam independentes d’Ele é um belo convite para estabelecermos uma Filosofia da História. Para isso temos de observar não só os acontecimentos históricos, mas também os fatos de nossa vida quotidiana e neles verificar a confirmação desta regra: os homens tementes a Deus, conscientes de que não valem nada, atribuindo seus predicados e aptidões à misericórdia divina, progridem na vida espiritual. Os que são voltados a adorar-se a si próprios, a considerar tudo quanto têm como sendo vindo deles mesmos, estes são os soberbos que Deus dissipa, e declinam na prática da virtude.”

“Cumulou de bens os famintos, e despediu os ricos com as mãos vazias” (Lc 1, 53).

“Nossa Senhora não pretende fazer aqui uma alusão aos recursos materiais ou financeiros. Ela se refere, antes de tudo, aos que se acham na carência de bens espirituais, aos indigentes das dádivas celestiais. A esses pobres de espírito que, humildemente, suplicam essas graças, Deus os atende na abundância infinita de sua misericórdia. Pelo contrário, aos ‘ricos’, àqueles que se julgam inteiramente satisfeitos no seu orgulho, Deus os despede de mãos vazias, isto é, sem torná-los partícipes do tesouro de seus dons sobrenaturais.”

O encontro entre Nossa Senhora e Santa Isabel “é uma das mais lindas páginas da História Sagrada, magistralmente imaginado e retratado pelos maiores artistas da iconografia católica”.

 

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” -133)

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1 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. São José: quem o conhece?… São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. Arautos do Evangelho. 2017, p. 125. 128. 135 passim.
2 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O Magnificat, hino de sabedoria, humildade e grandeza. In Dr. Plinio. Ano VI, n. 64 (julho 2003), p. 24.
3 – Idem. O Magnificat, cântico de jubilosa despretensão. In Dr. Plinio. Ano III, n. 26 (maio 2000), p. 17.
5 – Idem. O Magnificat, hino de sabedoria, humildade e grandeza. In Dr. Plinio. Ano VI, n. 64 (julho 2003), p. 24.
6 – Idem. São João Batista, o precursor do Cordeiro de Deus. In Dr. Plinio. Ano VII, n. 75 (junho 2004), p. 22.

 

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