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Perplexidade de São José

Redação (Quarta-feira, 03-01-2018, Gaudium Press) Após o nascimento do Precursor, Nossa Senhora e São José retornaram a sua casa em Nazaré. Então, o esposo virginal de Maria passou por uma provação que foi, até então, a maior de sua vida, já repleta de sofrimentos.

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Nunca duvidou da virgindade de Maria Santíssima

Certo dia, ele notou que Maria Santíssima esperava um Filho.

“Em hipótese alguma São José duvidaria do procedimento de Maria Santíssima, na qual jamais vira sequer um ato menos perfeito. Entretanto, tinha diante de si um fato incontestável: Ela concebera.

“Seu espírito sumamente ordenado, pela isenção do pecado original, não se precipitou em tirar conclusões e se pôs a refletir. Em suas cogitações discerniu algo de divino no ocorrido, mas a sublimidade sobrenatural daquele mistério excedia em muito a mais dotada mente humana. E imensa foi a sua perplexidade em face daquilo que não entendia […].

“Por sua vez, em sua humildade e confiança em Deus, Nossa Senhora decidira não lhe contar nada, deixando o caso nas mãos da Providência.” Mas nunca passou pela mente de São José “duvidar da virgindade d’Ela, embora o demônio procurasse, totalmente em vão, insinuar-lhe esse absurdo.

“São José não se deixou influenciar em nada, apesar das insistentes investidas diabólicas. Tal ação preternatural, inclusive, teve efeito contrário ao desejado pelo tentador, pois confirmou ainda mais São José na certeza da integridade de Nossa Senhora. Bem sabia ele que o demônio sempre mente; se buscava insuflar em seu espírito aquela desconfiança, era sinal que a realidade deveria ser oposta […]

Até do piscar dos cílios de Maria dimanavam torrentes de castidade

“Concebido em graça, ele gozava do carisma de discernimento dos espíritos e do dom de sabedoria numa plenitude inigualável. Logo, penetrara a fundo a alma de Nossa Senhora com percepção inerrante, progredindo em sua compreensão ao longo do tempo que levavam casados, convivendo de perto, e conhecia perfeitamente, com mais propriedade que ao contrair matrimônio, qual era o grau de virtude que Ela possuía.”

Afirma o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “A São José bastava olhar para Ela ou fitá-La de costas, bastava ver o modo como a sua túnica raspava ligeiramente pelo chão, ou como Ela Se apoiava numa mesa enquanto conversava, para descansar um pouquinho; de qualquer gesto, até do piscar dos cílios, dimanavam em torno d’Ela torrentes de castidade.”

São José se lembrava do texto do Profeta Isaías: “Uma Virgem conceberá, e dará à luz um Filho” (Is 7, 14). Persuadido da virgindade de sua Esposa, entendeu que essa Virgem era Maria. E julgou que não era digno de permanecer junto a Ela.

E Nossa Senhora ficava em silêncio, pois “desde a Anunciação soubera que não devia comentar com ninguém o fato e, muito obediente, assim agiu”. Ela pedia a Deus que, de alguma maneira, Se manifestasse a São José. “E, para compensar em algo o sofrimento de seu esposo, servia-o com maior dedicação e ternura que o habitual, chegando a fazê-lo de joelhos […].

Poderia ter acontecido algo mais grave que o pecado original

“Era uma situação duríssima, na qual dois silêncios se entrecruzavam: o silêncio de Maria Santíssima e o silêncio de José. Talvez este seja o exemplo mais pungente em matéria de confiança em Deus de toda a História, pois poderia ter acontecido algo ainda mais grave que o pecado original se São José ou Nossa Senhora tomassem uma atitude errada.”

Julgando-se indigno de viver junto a Nossa Senhora, São José tomou a decisão de distanciar-se. Isso foi para ele uma lancinante dor de alma. “O que deveria ser o convívio diário com Ela? O mundo inteiro é uma cova de répteis em comparação com esse convívio com a Virgem Imaculada.”

Entretanto, ele com total serenidade foi dormir. Então, seu Anjo da Guarda lhe apareceu em sonhos e lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por Esposa, pois o que n’Ela foi concebido vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1, 20-21).

Por que o mensageiro de Deus disse a São José “não temas”? “Como São Gabriel fizera com Maria Santíssima, o Anjo afastava de São José o receio de não estar à altura, pois também ele fora concebido sem pecado original. Logo, não cabia nem aflição, nem qualquer perplexidade.”

Repleto de alegria, São José compreendeu que estava se cumprindo a profecia de Isaias acima citada.

Considerando o sofrimento pungente de São José, devemos nos recordar de “uma lei no procedimento da Providência: as dores atrozes torturam as almas mais chamadas, e só na provação elas se santificam, com um élan que não teriam se gozassem de uma vida tranquila. Nesse período, sem dúvida, São José fez enormes progressos […]

Ave José!

“Ele despertou na hora em que tinha previsto abandonar Maria e, diz singelamente a Escritura, ‘fez como o Anjo do Senhor havia mandado’ (Mt 1, 24).

Da mesma forma como Nossa Senhora respondera ‘Faça-se em Mim segundo a tua palavra’ (Lc 1, 38), o santo varão submeteu-se inteiramente ao que o mensageiro celeste lhe comunicara. De uma virginalidade absoluta, acatou como vontade divina, com resposta imediata e dedicação total, todas as intenções do Padre Eterno a respeito do nascimento do Menino Jesus e todos os fins do Salvador.”

Ao levantar-se, São José desfez sua bagagem e, ao ver Nossa Senhora, ajoelhou-se diante d’Ela para adorar o Divino Menino que estava em seu claustro materno.

E a Santíssima Virgem perguntou-lhe:

“José, meu esposo, disseste sim? Ante a resposta afirmativa, Maria acrescentou: ‘Ave, José, meu esposo virginal, o Senhor, verdadeiro Filho vosso e meu, é conosco. Bendito sois vós, filho de Davi, entre a descendência de Adão, e bendito é o fruto do meu ventre e de tua obediência à vontade de Deus. Com este sim, comprastes para vós o trono mais glorioso no Céu.”

Por Paulo Francisco Martos

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1- CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. São José: quem o conhece?… São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. Arautos do Evangelho. 2017, p. 142.145.146.
2- Conferência. São Paulo. 6 nov. 1994.
3- CLÁ DIAS. Op. cit., p. 151-152.
4- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência. São Paulo. 14 jul. 1994.
5- CLÁ DIAS. Op. cit., p. 168.
6- Idem, ibidem, p. 173.177.181 passim.

 

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