Gaudium news > Sinal de contradição

Sinal de contradição

Redação (Quarta-feira, 17-01-2018, Gaudium Press) Segundo a Lei de Moisés, todo varão deveria ser circuncidado no oitavo dia após seu nascimento (cf. Lv 12, 3). A circuncisão apagava a mancha do pecado original, conferia a graça enquanto símbolo da fé na futura Paixão de Cristo e prefigurava do Batismo. Por ser Deus, Jesus não estava sujeito a esse doloroso rito, mas quis a ele Se submeter para nos dar exemplo de humildade e obediência.

Profética cerimônia realizada na gruta

Ao amanhecer do oitavo dia depois do nascimento de Jesus, São José partiu para Jerusalém a fim de buscar dois sacerdotes do Templo, que “se destacavam por sua fidelidade à Lei”. Eram conhecidos de Nossa Senhora, que viveu durante doze anos nas dependências exteriores da Casa de Deus. Chegando à gruta, os sacerdotes ficaram maravilhados ao ver o Divino Infante.

“Sendo o pai da criança quem devia realizar o rito, São José recebeu do sacerdote o cutelo de pedra (cf. Js 5, 3). Dessa forma, seria ele o primeiro a oferecer o Sangue preciosíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo ao Padre Eterno. Nossa Senhora, embora não fosse costume, suplicou para participar do cerimonial segurando seu Filho, o que Lhe foi consentido. Assim, marcou com sua presença materna esse instante de dor, como aconteceria anos mais tarde aos pés da Cruz. E para ressaltar ainda mais a importância do ato, muitos Anjos fizeram-se visíveis.”

Ao realizar-se a operação, “o Menino Jesus mostrou resignação e calma absolutas, derramando tão só uma lágrima, colhida com todo o cuidado por sua Mãe”. E São José recolheu num tecido adequado o precioso Sangue vertido. Para finalizar o rito, ele declarou que o Menino se chamaria Jesus, conforme indicara o Anjo (cf. Lc 1, 31). Assim, “concluíra-se, num lugar pobre e discreto, a cerimônia mais significativa e profética que a História conhecera até aquele momento”.

Depois da circuncisão, a Sagrada Família se transladou para uma casa de um tio de São José, “situada em uma colina não muito distante de Belém”. Completados quarenta dias após o nascimento do Salvador, dirigiram-se ao Templo de Jerusalém para o resgate do Menino Jesus e a Purificação de Nossa Senhora, conforme estipulava a Lei (cf. Lv 12, 4), embora não estivessem obrigados a cumprir tal preceito.

Luz que ilumina as nações

Apesar de o Templo reconstruído por Zorobabel, no século VI a. C., fosse incomparavelmente menos grandioso e belo do que o edificado por Salomão, o Profeta Ageu afirmou que a glória do segundo Templo – posteriormente restaurado por Herodes Idumeu – seria muito maior que a do primeiro (cf. Ag 2, 9).

Essa profecia se cumpriu quando o Menino Deus entrou no Templo, conduzido por sua Mãe Santíssima e seu Pai virginal para a cerimônia supra referida.

Tendo parcos recursos, São José foi comprar dois pombinhos (cf. Lv 12, 8), para a realização do rito de purificação. Tal era seu desejo de perfeição em tudo, que ele “se empenhou em achar dois pombos perfeitos, que melhor simbolizassem a imaculada pureza de sua Esposa”.

Quando chegaram ao Templo, encontraram o sacerdote Simeão o qual, “impelido pelo Espírito Santo” (Lc 2, 27), para lá se dirigira convicto de que encontraria o Salvador. Esse santo varão, estando em idade avançada, “constatava o deplorável estado de Israel, com o culto do Templo conspurcado por tantos sacerdotes indignos […] Quanta decadência, quanta miséria, quanta ruína havia suportado com dor e santa indignação! Contudo, ele tinha certeza absoluta de que Deus interviria e, por isso, rezava com todo o empenho de sua alma suplicando a vinda do Messias.”

Nossa Senhora colocou nos braços de Simeão o Menino Jesus, que “sorriu-lhe e acariciou com as mãozinhas sua barba, deixando-o comovidíssimo”.

Simeão realizou os ritos prescritos pela Lei, tomou de novo o Menino em seus braços e entoou um belo cântico: “Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação, que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para glória de vosso povo de Israel” (Lc 2, 29-32).

O final dessa frase mostra como era errada a ideia dos judeus a respeito do Messias que, segundo eles, viria salvar apenas os israelitas. Não. Ele veio para a salvação “de todos os povos, como luz para iluminar as nações”.

A humanidade sempre estará dividida em dois campos

Disse também o Profeta Simeão: “Este Menino […] será um sinal de contradição” (Lc 2, 34). Ou seja, diante de Nosso Senhor Jesus Cristo as pessoas se dividem em dois partidos: o do bem e o do mal, que estão em constante luta. Por ocasião do nascimento de Jesus, esse combate se manifestou nitidamente: os Reis Magos foram adorá-Lo, enquanto Herodes pretendeu matá-Lo.

“A luta continua no decurso dos séculos; em nossos dias ela é mais ardente que nunca, e durará até o fim do mundo. A humanidade sempre estará dividida em dois campos a respeito de Jesus e de sua Igreja: o campo dos amigos e o dos inimigos.”
Simeão fez outras profecias sobre a vida, Morte e Ressurreição de Jesus. E, voltando-se para Nossa Senhora, declarou: “Uma espada transpassará a tua alma” (Lc 2, 35). “Explicou-Lhe então que Ela teria um papel especialíssimo durante a Paixão de seu Filho e que seria, com Ele, a Corredentora dos homens.”

Ficamos maravilhados considerando a graça auferida por Simeão, que segurou nos braços o Menino Jesus. Porém, quando comungamos recebemos um dom maior, pois “nossa união com Cristo é muito mais íntima. Que Simeão nos obtenha a graça de comungar diariamente, como ele mesmo teria gostado de fazê-lo”.

Por Paulo Francisco Martos

Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q. 70, a. 4, resp.

CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. São José: quem o conhece?… São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. Arautos do Evangelho. 2017, p. 244.248. 252 passim.

FILLION, Louis-Claude. La sainte bible avec commentaires – Évangile selon S. Luc. Paris: Lethielleux. 1889, p. 79.

CLÁ DIAS, op. cit., p. 254.

CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. VII, p. 37.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas