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Uma viagem penosíssima

Redação (Segunda-feira, 19-02-2018, Gaudium Press) Após terem deixado São João Batista na casa de um parente de São Zacarias, livrando-o assim da matança dos inocentes, a Sagrada Família continuou sua caminhada em direção ao Egito.

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Faltou água e comida

A viagem deveria ser longa, pois “de Belém ao Cairo há uns quinhentos quilômetros de distância, o que supõe, a pé ou em caravana, cerca de quatorze dias de caminho”.

O Anjo da guarda de São José o orientava. “Após dez dias, porém, a estrada que conduzia ao Egito terminou e começou o deserto, com suas incertezas. Não havia uma árvore, uma pousada, nada… só areia e sol escaldante. À noite a temperatura caía e o único abrigo que o pai virginal podia oferecer a Nossa Senhora e ao Menino era uma minúscula
tenda armada com seu próprio manto […].

“Passadas algumas jornadas, a água e a comida vieram a faltar.” Mas São José Os conduzia com segurança, como observa o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Ele vai à frente para abrir caminho, atentíssimo ao que acontece com o Divino Infante e Nossa Senhora. Ela confia em seu esposo e confia em Deus, e, portanto, está recolhida em oração com o Menino como que dormindo e agarrado à Mãe.”

Embora o Anjo de São José tivesse cessado de lhe dar orientações para provar sua fé, o varão fidelíssimo continuou a caminhada.

“A viagem foi penosíssima, e certos demônios aproveitaram para tornar os diversos contratempos ainda mais árduos… Surgiram tantas dificuldades e problemas no trajeto, que São José pensou em mudar de destino; só não o fez por causa do mandato celeste e das profecias que anunciavam a passagem do Redentor pelo Egito.

Reparando todas as infidelidades cometidas pelos hebreus

“Havia, entretanto, uma razão de sabedoria divina nas duras vicissitudes dessa viagem […]: ‘Na fuga para o Egito era a Santa Igreja que, sozinha, peregrinava pelo deserto.’ Estando ali as primícias do Cristianismo, Deus desejava que a Sagrada Família reparasse todas as infidelidades cometidas pelos hebreus ao saírem daquela nação.

“Tais pecados, de fato, foram os que mais O ofenderam na História da salvação anterior ao deicídio, pois a luz primordial dos filhos de Abraão, ou seja, o aspecto do Criador que eram mais chamados a representar, consistia na fé no impossível e no irrealizável, em acreditar quando tudo parecesse perdido. Os feitos de Abraão (cf. Gn 22, 10-12), Jacó (cf. Gn 27, 22-23), Ester (cf. Est 14, 1-19) ou dos três jovens na fornalha ardente (cf. Dn 3, 14-93), entre tantos outros, mostram bem que a virtude dos grandes Santos deste povo se alçava ao angélico, quando eles se encontravam num quadro sem solução humana.

“Com esse objetivo, ao longo de todo o percurso a Sagrada Família parou nos locais mais simbólicos da revolta do povo contra Deus, fazendo atos de desagravo. Estiveram, por exemplo, junto à pedra de Meriba, onde houve a rebelião pela escassez de água (cf. Ex 17, 1-7; Nm 20, 1-13). Ali rezaram, muito recolhidos, com o intuito de reparar aquele pecado contra a fé. E Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia, pediu especialmente por Moisés, para que, por ocasião de sua morte, tivesse sua falta apagada, e esta não lhe fosse imputada no momento de entrar no Céu.

Feras, caminho de rosas, família de ladrões

“Diversas fontes antigas a respeito dessa viagem ao Egito narram ainda grande quantidade de fatos maravilhosos que, embora seja impossível atestar sua autenticidade, servem para alimentar a confiança em tudo aquilo que Deus todo-poderoso fez para amparar a Sagrada Família, sobretudo nas horas em que sua fé foi provada até os extremos limites.

“Em algumas ocasiões, quando mais dúvidas São José abrigava sobre o itinerário a seguir, as feras do deserto apareciam e, em atitude amistosa, indicavam-lhe a direção. Outras vezes, abria-se um belo caminho de rosas de Jericó para mostrar a rota correta.

“Certa vez a Sagrada Família devia atravessar a garganta de uma montanha cheia de assaltantes. O chefe destes, encantado com a distinção de Nossa Senhora e de São José, em vez de roubá-los, quis dar-lhes pousada naquela noite. Tratava-se de uma família de ladrões, habituada a investir contra os viajantes que passavam pela inóspita região. Entre eles havia uma senhora cujo filho mais novo era leproso.

“Na manhã seguinte, antes de partir, Nossa Senhora banhou o Menino Jesus e recomendou àquela mulher que lavasse seu filho nas águas por Ela usadas. Fazendo isso, a criança ficou curada. O maior milagre, entretanto, não foi o físico, mas o que Nosso Senhor operou, com anos de antecedência, para a salvação do pequeno.

“Era ele Dimas, o futuro bom ladrão, que trinta e três anos mais tarde estaria junto a Jesus no alto do Calvário! Aquela graça dada pelo Salvador foi o ponto de partida para que, depois de todos os crimes cometidos ao longo da vida, São Dimas se arrependesse na hora da morte!”

Que São Dimas interceda por nós junto a Nossa Senhora a fim de adquirirmos uma confiança inabalável de que, por maiores que sejam nossos pecados, Ela obterá de Deus o perdão se tivermos um coração contrito e humilhado.

 

Por Paulo Francisco Martos
(Noções de História Sagrada – 140)

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1 – TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v. V, p. 42.
2 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio, conferência. São Paulo, 30 nov. 1988.
3 – Idem. Palestra. São Paulo, 6 mar. 1993.
4 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio, EP. São José: quem o conhece?… São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae. Arautos do Evangelho. 2017, p. 279.282. 284 passim.

 

 

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