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Vivemos submersos nas redes sociais

Redação (Quinta-feira, 22-02-2018, Gaudium Press) Não se pode negar que, como ferramenta multiuso, nos ajudam a receber e dar respostas imediatas. Temos os e-mails, vemos fotos, vídeos, notícias que nos são enviadas, interagimos eletronicamente a todo momento, assim são os celulares: eles até nos servem de lanterna à noite e nos despertam de manhã!

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“As redes sociais são esse lugar de interação que não admite, recreio nem descanso”, nos diz Sebastian Rios em um artigo que singularmente intitulado: “Adeus ao sonho corrido”. (La Nación, Buenos Aires, 18-11-2017), “O celular descansa na mesa de noite, mas seu dono desperta a cada momento”.

Uma pesquisa realizada com 10 mil adolescentes, entre 16 e 19 anos, que usaram dispositivos eletrônicos mais de quatro horas antes de ir dormir, demonstrava que em 50%, o horário de conciliação do sono foi adiado em uma hora. E claro, dormiram na noite, menos horas do que o necessário, nos conta Stella Maris Valiensi, especialista em medicina do sono, neurologista do Hospital Italiano de Buenos Aires. Destaca que “o fracionamento do sono, como ‘micro-despertares’, repercute no dia seguinte na qualidade de vida, podendo se transformar em algo crônico”. Por esta singular circunstância, sofreremos as consequências durante o dia: além do cansaço acumulado, nosso estado de ânimo não será o melhor para conviver com os outros ou nos concentrar.

E se fosse só isso… Em outro momento -que um colunista qualificou como “sagrado”- também penetrou o celular: no despertar. Foram-se tristemente os tempos de uma simples oração ao despertar. Nas manhãs, a primeira coisa que fazemos antes de sair da cama é… verificar o celular. Como mudaram os tempos e as atitudes!

O celular tornou-se uma parte importante na vida das pessoas. “Quando lhe damos tanto poder -diz a articulista Martina Rua (La Nación, 06-10-2016)- isso controla nossa experiência em mais maneiras do que podemos nos dar conta. Por exemplo, promove a síndrome de FOMO (Fear of Missing Out) que se refere a uma angústia que é experimentada por tudo aquilo que perdemos (ou sentimos que perdemos) por não verificar as notificações de maneira permanente”.

Como governar este singular “convidado”? Como livrar-nos do estresse de viver “online”? Existe alguma forma de nos livrarmos desta pressão cultural do mundo moderno?

Uma famosa blogueira australiana chamado Essena O’Neill contava com 500 mil seguidores no Instagram e 250 mil no YouTube, decidindo em determinado momento, “acabar com a obsessão de perfeição que marcava sua vida”. Com um clique apagou suas imagens e escreveu: “eu tinha tudo e quero dizer que ter tudo nas redes sociais não significa nada na sua vida real. Deixei me definir pelos números e a única coisa que realmente me fazia sentir bem era conseguir mais seguidores, mais curtidas, mais repercussão e visitas. Nunca era suficiente”, voltou a abraçar a vida real (Irene Velasco, El Mundo de Madrid, 29-10-2016). Muitos amigos no Facebook, Instagram, Skype, Wathsapp, mas levam uma vida solitária; mesmo rodeados por colegas de trabalho, estudo e até familiares. Seu amigo é o “aparelho” que ele carrega em suas mãos.

Penetrando como a radioatividade, sem que percebamos, “as redes sociais ampliam silenciosamente uma cadeia que se infiltra debaixo da nossa pele: impõem a obrigação de estar permanentemente ali, conectados, disponíveis”, comenta singularmente Federico Kukso em documentado artigo (La Nación , 15-01-2017), acrescentando que filósofos e sociólogos as consideram uma “coerção da comunicação”, que pode chegar a se transformar em uma patologia.

É que, estas plataformas (Facebook e similares) refletem apenas o que poderíamos qualificar como “positivo da vida”. Na Dinamarca, um estudo de ‘Happiness Research Institute’ -que exclusivamente “investiga a felicidade”- revelou que: “São um canal sem pausa de boas notícias, um fluxo constante de vidas editadas que distorcem nossa percepção da realidade”. Em poucas palavras, o Facebook: é uma ficção. E, afirma que, saindo desta vida virtual -que não é vida real-, desconectar-se, reduz o estresse, efeito que se produz quando a carga supera a capacidade de resposta de um indivíduo. E vejam que… o Facebook, nascido em 2004 na Universidade de Harvard apenas para estudantes daquela universidade, hoje em dia conta com mais de dois milhões de usuários.

“É uma realidade filtrada porque se ressalta o bom, se esconde o que envergonha. Dá a sensação de que cada um constrói ali seu próprio espetáculo”, analisa Diego Levis, Doutor em Ciências da Comunicação na Universidade de Buenos Aires. Como se a pessoa fosse um artista de sua própria personalidade ou aparência, e vai esculpindo sua “imagem” para ressaltar o mais impactante. Construindo, imaginativamente, o que poderíamos chamar “personalidade virtual”, que não coincide com a realidade, com o que efetivamente se é. Se penetra no plano do fantástico, o quimérico, o ilusório. “Desfile de egos” o qualificam alguns, como “síndrome do euísmo” outros. É a ansiedade de querer contar tudo o que acontece conosco, dando em um fenômeno que nos transforma em “celuzumbis”.

Real, simplesmente poderíamos dizer é o que existe. Virtual é o que pode existir, ou o que já existiu. O filósofo espanhol, Javier Echeverría (Um mundo virtual, p. 37), não separa os termos “realidade” e “virtual”, pois assegura que o conceito “realidade virtual” deve ser entendido como “um sistema informático usado para criar um mundo artificial onde o usuário tem a impressão de estar nesse mundo, sendo capaz de navegar através do mesmo e de manipular os objetos que estão nele”.

É o que perguntam em seu interior esses usuários do Facebook, Instagram ou outros, são espaços que estimulam a comparação com os demais? A cada momento aumenta a tendência a compartilhar a vida com os outros, para que nos vejam. Mas, em uma porcentagem muito grande, acabam inventando uma realidade não é real, mas virtual. Escolhem ou retocam fotos, ressaltam aspectos de sua inteligência; em particular, buscam ser aceitos pelos outros, concentrando-se em si mesmos e esquecendo do que os rodeia.

Um profundo estudo realizado na Universidade de Palermo em Buenos Aires (fido.palermo.edu/servicios) demonstrando que a comunicação instantânea converteu-se em uma necessidade, conclui que, através das redes sociais, tentamos “melhorar ou piorar o nosso ‘Eu’ com base em mundos artificiais criados nestes sistemas de imersão”. Acabam elaborando uma realidade ou vida virtual, que não tem nada a ver com sua vida real.

Que transformação estamos vivendo! Até onde chegará isto? Deixaremos a realidade da vida, o convívio humano, o olharmos uns aos outros, o querer-nos bem, ficando-nos submersos no mundo virtual? Os vínculos impessoais nunca poderão substituir um olhar, uma palavra, um gesto fisionômico de alegria ou de tristeza. Deus e a Virgem não o permitam, sob pena de transformar-nos em meros robôs, com seu convívio metálico e sem vida.

Por Padre Fernando Gioia, EP

www.reflexionando.org

(Publicado em ‘La Prensa Gráfica’ de El Salvador, 21 de fevereiro de 2018)

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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