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Eucaristia, nova e eterna Páscoa

Redação (Terça-feira, 03-04-2018, Gaudium Press) A Vigília Pascal é a celebração central e a mais solene do calendário litúrgico. É uma comemoração jubilosa de toda a história da salvação na qual se atualiza o mistério de nossa redenção. Na realidade, cada Missa também faz presente esse mistério, e plenamente. Mas nessa noite santa tem lugar a chamada “mãe de todas as vigílias”… e de todas as Eucaristias.

O que quer dizer a palavra “Páscoa”? Significa “passagem”. Esta palavra se identifica com a passagem do povo de Israel da escravidão do Egito à terra prometida, sinal, por sua vez, de passagem da morte e do pecado à vida nova em Cristo.

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Mas essa palavra “passagem”, alude sobretudo e imediatamente a passagem de Deus na noite da libertação do povo eleito, através de seu Anjo exterminador. Como se sabe, por mandato divino transmitido a Moisés, os judeus marcaram as portas de suas casas com o sangue do cordeiro pascal imolado. Então, quando o anjo justiceiro, que trazia em seu desígnio propagar a última praga que foi a morte dos primogênitos, passou pelas casas dos hebreus assinaladas com esse sangue, “passou” de longe, seguiu seu caminho. Mas, nas casas dos egípcios que não tinham a dita marca, os castigou entrando e matando os filhos mais velhos.

Por isso a festa da Páscoa judia chegou a ser um acontecimento de primeira magnitude na religião de Israel. Deus determinou que se celebrasse a cada ano, como memorial da passagem da escravidão à liberdade.

Foi nesse marco, quer dizer, durante a celebração de uma ceia pascal judia, que Nosso Senhor instituiu a Eucaristia, supremo e definitivo sacrifício libertador que faz com que Deus “passe” por nossas vidas. Ela nos dá a vida eterna, é a permanência de Deus em nós. Na realidade no mistério eucarístico, Deus não passa, mas fica… “passa” a viver em nós!

Para compreender melhor o Sacrifício da Nova Aliança que é nossa Missa, é importante conhecer mais sobre como era a celebração da Páscoa judia. Os evangelistas, ao narrar o sucedido na Última Ceia, não entram nos pormenores rituais, já que os mesmos eram bem conhecidos dos judeus a quem se destinavam prioritariamente seus escritos.

Em suas origens, enquanto os hebreus vagaram em uma vida nômade, a Páscoa era uma festa de pastores na qual se comia um cordeiro. Posteriormente, quando se estabeleceram em povos e campos e se dedicaram à agricultura, se passou a comer também o pão das novas colheitas; pães ázimos sem levadura, que representavam a saída precipitada do Egito; comiam também ervas amargas, que significavam a tribulação do cativeiro. O vinho não faltava e se bebia repetidamente em um cálice comum. Leituras da Escritura, cânticos e bênçãos também faziam parte da festa, que era eminentemente familiar.

Na época de Jesus, quatro cálices de vinho acompanhavam o desenvolvimento da Ceia Pascal. O primeiro cálice chamado “da bênção”, se bebia antes de comer as ervas amargas. Depois se lia o relato do Êxodo referente ao festejo da primeira páscoa, celebrada imediatamente antes da saída do Egito, e se bebia o segundo cálice.

Estes rituais seriam naturalmente seguidos por Jesus e os Apóstolos na Última Ceia; mas no momento que se passaria ao terceiro cálice, “Enquanto estavam comendo, tomou Jesus o pão e o abençoou, o partiu, e dando aos seus discípulos, disse: ‘Tomai e comei, este é meu corpo’. Tomou depois um cálice e, dando graças, o deu dizendo: ‘Bebei dele todos, porque este é o meu sangue da Aliança, que é derramado por muitos para remissão dos pecados. E vos digo que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba convosco novamente no Reino de meu Pai’.” (Mt. 26, 26-29).

O cálice com o vinho que se transforma no Sangue precioso, é o sagrado cálice que introduz uma nova e definitiva aliança, ratificada com o próprio sangue do Salvador. Este cerimonial e bebida, tomou o lugar do chamado terceiro cálice.

Imediatamente depois da instituição da Eucaristia, Jesus interrompe a sequência da Ceia Pascal e sai do recinto “…e cantando os hinos, saíram até o monte das Oliveiras.” (Mt. 26, 30).

O quarto cálice da Páscoa Judia se chamava o cálice “da consumação” ou “do cumprimento”; esse cálice, não corresponderá àquele que foi heroicamente aceito e bebido até a última gota no dia seguinte, no alto do Calvário?

Uma das últimas palavras de Jesus na cruz foi: “tenho sede” (Jo. 19, 28); e depois exclamou: “tudo está consumado” (Jo. 19, 30)… A morte de Cristo derramando todo seu Sangue, não é aquele cálice a que Ele mesmo fez referência na véspera, no Cenáculo, quando anunciou “E vos digo que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba convosco novamente no Reino de meu Pai’.” (Mt. 26, 26-29). Porque seu sangue é a bebida do Reino, o sacramento de vida eterna. Mistério altíssimo, sublime, divino.

Mas… pobres pré-figuras! O cordeiro imolado da páscoa judia (“escolherão um cordeiro sem defeito, macho, nascido no ano”, Êxodo 12, 5), é pálida imagem do Imaculado Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O pão ázimo, também é palidíssimo símbolo da Hóstia consagrada. E o sangue com o qual se pintou as portas das casas, igualmente é uma muito pobre e descolorida figura do “Sangue da nova e eterna aliança que será derramado por Vós e por muitos, para o perdão dos pecados” (palavras da Consagração na Missa).

Qual não será a força da realidade, se a simples figura foi causa de salvação? Nossa Eucaristia é uma Páscoa sublimada que se faz eterna!

Por Padre Rafael Ibarguren, EP

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

(Nota publicada originalmente em www.opera-eucharistica.com)

 

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