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Jesus quis ser tentado

Redação (Quinta-feira, 03-05-2018, Gaudium Press) Após ter sido batizado por São João Batista, Nosso Senhor foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto, situado entre o Rio Jordão e a cidade de Jericó, a fim de ser tentado pelo demônio.

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Três tentações

Lá chegando, Jesus se pôs em oração e fez um jejum total, ficando durante 40 dias e 40 noites sem comer nem beber. No final desse período, o demônio apareceu e Lhe disse:

“Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães! Mas Jesus respondeu: ‘Está escrito: Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus'” (Mt 4, 3-4).

Então, o demônio levou-O a Jerusalém, colocou-O no pináculo do Templo e afirmou:

“Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, eles Te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’. Jesus lhe respondeu: ‘Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!'” (Mt 4, 6-7).

Por fim, o diabo conduziu Jesus ao topo de um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e sua glória, e declarou: “‘Eu Te darei tudo isso, se Te ajoelhares diante de mim, para me adorar.’ Jesus lhe disse: ‘Vai-te embora, satanás, porque está escrito: Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a Ele prestarás culto’. Então o diabo O deixou. E os Anjos se aproximaram e serviram a Jesus” (Mt 4, 9-11).

Afirma São Tomás de Aquino que Cristo retirou-Se para o deserto, “como a um campo de batalha, com o fim de ser ali tentado pelo diabo”.

Esse acontecimento foi prefigurado por Moisés, que ficou em total jejum por 40 dias e 40 noites, antes de receber de Deus as tábuas da Lei (cf. Ex 34, 28). E também pelo Profeta Elias, o qual caminhou pelo deserto durante o mesmo período até chegar ao Monte Sinai (cf. I Rs 19, 8).

Contraste entre Adão e Jesus Cristo

Ao contrário de Nosso Senhor Jesus Cristo, que rechaçou o demônio, Adão cedeu ao maligno quando cometeu o pecado original. Ele perdeu aquilo que o demônio prometera: “sereis como Deus” (Gn 3, 5).

“Pois com o pecado a vida divina se extinguiu em sua alma, enquanto se tivesse correspondido ao mandado do Senhor receberia um acréscimo de felicidade, manteria o estado de graça e teria feito notável progresso na vida espiritual. Portanto, aquilo que o tentador fingia querer dar foi justamente o que lhe roubou.

“A Nosso Senhor ele ofereceu o serviço dos Anjos e todos os tesouros da Terra, coisas que era incapaz de conceder, mas que foram entregues a Jesus-Homem junto com a realeza sobre toda a humanidade e sobre a ordem da criação, por ter vencido satanás e ter abraçado os tormentos do Calvário.

“Eis um princípio que deve nortear constantemente a nossa vida, até a hora da morte: nunca podemos dialogar com o demônio, criatura maldita que sempre tira aquilo que promete. Devemos encerrar qualquer conversa com ele logo no início, com o apoio da Palavra de Deus, à imitação de Nosso Senhor Jesus Cristo.”

Comenta o grande exegeta Fillion: “Adão, vencido pela serpente e expulso do Paraíso terrestre, tinha visto os Anjos fecharem a porta de entrada dele. O Filho do homem vitorioso vê o deserto se transformar em Éden, e os espíritos bem-aventurados se aproximarem d’Ele para servi-Lo.”

 

A tentação é um benefício

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O que vem a ser a tentação? “Chama-se propriamente tentação tudo aquilo que instiga o homem ao pecado.”
Deus permite que o demônio nos tente, “com vistas ao nosso benefício, para nos dar oportunidade de adquirir força, experiência e sagacidade na luta contra ele, e, derrotado este, outorgar-nos o prêmio de não ter cedido […]

“As tentações nos obtêm, sobretudo, méritos para a eternidade. Tanto o santo quanto o pecador são tentados, e às vezes o primeiro mais que o segundo, a julgar pelo modo atroz com que satanás investiu contra Nosso Senhor.

“A grande diferença entre ambos é que um recusa as solicitações e o outro se rende. Logo, ser tentado não é um desastre, pelo contrário, pode ser até um bom sinal.

“De nossa parte é preciso não consentir e, para isso, apoiemo-nos no auxílio divino, pois seria uma insensatez concebermos nossas qualidades como o fator essencial na luta contra o demônio, o mundo e a carne.”

Quando uma pessoa em estado de graça cede à tentação e comete um pecado mortal, ela expulsa Deus de sua alma e se joga nas garras do demônio; se não se arrepender e continuar nessa via, ela pode chegar até mesmo a adorar o príncipe das trevas.

Eis o que ensina São João Bosco:

“Se alguém quiser dar-nos o mundo inteiro para levar-nos a adorar satanás, isto é, a cometer um só pecado, recusemos com horror qualquer oferecimento.”

Peçamos a Nossa Senhor, terror dos demônios, que nos proteja continuamente contra as insídias do maligno, compenetrados de que é preferível morrer a cometer um pecado grave.

 

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – 149)

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1 – Suma Teológica, III, q. 41, a. 2, resp.
2 – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. I, p. 184.
3 – FILLION, Louis-Claude. La sainte bible avec commentaires – Évangile selon S. Matthieu. Paris: Lethielleux. 6. ed. 1895, p. 87.
4 – CORNÉLIO A LÁPIDE. In BARBIER, SJ, Jean-André. Les Trésors de Cornelius a Lapide. Paris : Librairie Ch. Poussielgue. 1876, v. IV, p. 461.

5 – CLÁ DIAS, op., cit., p. 185-186.
6 – História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p. 218.

 

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